O francês Luc Besson vai ocupando discretamente posto difícil: o de mais interessante autor do cinema espetáculo (que adora ostentar orçamentos mirabolantes e atores celebridades). Quem não conhece o diretor tem ótima oportunidade: Lucy. Filme sobre uma garota que é levada pelo namorado a se envolver com o tráfico e acaba sendo obrigada a transportar, no estômago, nova e poderosa droga. Um acidente faz com que o invólucro se rompa e Lucy absorva o produto, o que desencadeia um processo de ampliação da capacidade mental da moça. Se uma pessoa normal usa 10% do cérebro, Lucy vai chegar aos 100%.
História insólita que, da primeira à última cena, prende a atenção pela habilidade com que é contada. Primeiro, registrando o aumento dos poderes mentais trazidos pela droga. Depois, porque tal percurso é recheado de imagens sobre inteligência e comportamento dos animais. E, por último, pelo fato de vir embalado em trama policial com temas pra lá de contemporâneos. Sem pedantismo e de maneira surpreendente, o filme entrelaça de forma provocativa extensa rede de temas: corpo, cérebro, natureza, história, lei, química, capital, poder, violência, tecnologia, crime etc. E enreda o espectador em também extensa rede de sentimentos.
Só o fato de evocar tantas questões (e relações), dissimuladas em tantos filmes, já estaria bom. Mas o saboroso em Lucy é observar o conjunto de qualidades, praticamente inconfundíveis, de Luc Besson. Como criar narrativas atravessadas pela ironia (presente em tempo integral), até o limite do humor negro, mas de modo discreto, que, a todo momento, interpela o mundo atual. Surpreende ainda a capacidade do cineasta de desenhar bons personagens (e conseguir boas interpretações dos atores) – a Lucy de Scarlet Johansson é apenas um exemplo. Acrescente-se apuro, gosto, elegância, inclusive no plano visual, de um diretor capaz de compor, coerentemente, um espetáculo audiovisual moderno, comunicativo, sem arcaísmos.
Aspectos que apontam para outra característica, mais discreta e essencial, de Luc Besson: o bom narrador que ele é. Há momentos em que as especulações soam como bobagem, mas o decisivo é a capacidade dele de criar atmosfera e personagens tão envolventes, que, a partir de certo ponto, não se sabe mais se as informações que Lucy apresenta são verdade ou não. Pouco importa, a dúvida ou crença no dito e mostrado só potencializa o filme. A perda de limites, sabe-se, também é muito do mundo contemporâneo.
O diretor
Luc Besson foi criado na Grécia, onde os pais eram instrutores de mergulho no Club Méditerranée. Aos 18 anos, vivia em Paris, sua cidade natal, trabalhando na área de cinema. Besson fez curso de cinema nos Estados Unidos e, depois, se instalou na França. Entre os filmes realizados por ele estão Subway (1985), Imensidão azul (1988), O quinto elemento (1997), Artur e os Minimeus (2006), Banlieue 13 – Ultimatum (2009), As múmias do faraó (2010) e Além da liberdade (2011).
Em 2012, Luc Besson inaugurou a Cité du Cinéma, complexo cinematográfico de 62 mil metros quadrados, construído em subúrbio popular do Norte de Paris de elevado nível de desemprego, que foi chamado de a Hollywood francesa. Sobre Lucy, ele disse em entrevista recente que o ponto de partida foi imaginar o que seria o uso de 100% das capacidades cognitivas. E que a velhice lhe trouxe a necessidade de misturar conteúdo filosófico com diversão. Até porque continua a ir ao cinema e acha filmes de ação um tédio.
História insólita que, da primeira à última cena, prende a atenção pela habilidade com que é contada. Primeiro, registrando o aumento dos poderes mentais trazidos pela droga. Depois, porque tal percurso é recheado de imagens sobre inteligência e comportamento dos animais. E, por último, pelo fato de vir embalado em trama policial com temas pra lá de contemporâneos. Sem pedantismo e de maneira surpreendente, o filme entrelaça de forma provocativa extensa rede de temas: corpo, cérebro, natureza, história, lei, química, capital, poder, violência, tecnologia, crime etc. E enreda o espectador em também extensa rede de sentimentos.
Só o fato de evocar tantas questões (e relações), dissimuladas em tantos filmes, já estaria bom. Mas o saboroso em Lucy é observar o conjunto de qualidades, praticamente inconfundíveis, de Luc Besson. Como criar narrativas atravessadas pela ironia (presente em tempo integral), até o limite do humor negro, mas de modo discreto, que, a todo momento, interpela o mundo atual. Surpreende ainda a capacidade do cineasta de desenhar bons personagens (e conseguir boas interpretações dos atores) – a Lucy de Scarlet Johansson é apenas um exemplo. Acrescente-se apuro, gosto, elegância, inclusive no plano visual, de um diretor capaz de compor, coerentemente, um espetáculo audiovisual moderno, comunicativo, sem arcaísmos.
Aspectos que apontam para outra característica, mais discreta e essencial, de Luc Besson: o bom narrador que ele é. Há momentos em que as especulações soam como bobagem, mas o decisivo é a capacidade dele de criar atmosfera e personagens tão envolventes, que, a partir de certo ponto, não se sabe mais se as informações que Lucy apresenta são verdade ou não. Pouco importa, a dúvida ou crença no dito e mostrado só potencializa o filme. A perda de limites, sabe-se, também é muito do mundo contemporâneo.
O diretor
Luc Besson foi criado na Grécia, onde os pais eram instrutores de mergulho no Club Méditerranée. Aos 18 anos, vivia em Paris, sua cidade natal, trabalhando na área de cinema. Besson fez curso de cinema nos Estados Unidos e, depois, se instalou na França. Entre os filmes realizados por ele estão Subway (1985), Imensidão azul (1988), O quinto elemento (1997), Artur e os Minimeus (2006), Banlieue 13 – Ultimatum (2009), As múmias do faraó (2010) e Além da liberdade (2011).
Em 2012, Luc Besson inaugurou a Cité du Cinéma, complexo cinematográfico de 62 mil metros quadrados, construído em subúrbio popular do Norte de Paris de elevado nível de desemprego, que foi chamado de a Hollywood francesa. Sobre Lucy, ele disse em entrevista recente que o ponto de partida foi imaginar o que seria o uso de 100% das capacidades cognitivas. E que a velhice lhe trouxe a necessidade de misturar conteúdo filosófico com diversão. Até porque continua a ir ao cinema e acha filmes de ação um tédio.
Assista ao trailer de 'Lucy':