O filme é contaminado por música desde as primeiras cenas, quando estrelas e corpos giram na tela intercalados pela imagem de um disco de vinil em rotação. Interpretado por Tom Hiddleston (o Loki de Thor e Os vingadores), o vampiro Adam vive sozinho em um apartamento escuro, onde grava suas canções instrumentais com equipamentos eletrônicos e uma coleção de guitarras antigas. Ele vive há centenas de anos e está prestes a reencontrar sua antiga amada Eve (perfeitamente encarnada pela presença pálida da atriz Tilda Swinton), que está em Marrocos e se comunica à distância por meio de seu iphone.
Amantes eternos atualiza o vampirismo para o século 21 por meio da visão de mundo do cineasta Jim Jarmusch, diretor celebrado por, entre outros motivos, contaminar seus filmes com referências culturais. Schubert, Jack White e William Shakespeare estão entre as figuras históricas que teriam suas obras direta ou indiretamente relacionadas a ações dos vampiros. Um personagem vivido pelo ator John Hurt, por exemplo, seria o verdadeiro autor de Hamlet. Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) interpreta uma jovem vampira cujo comportamento alerta sobre os riscos do contato com humanos recheados de sangue.
O clima soturno, com leves toques de humor (o casal chupa picolés de sangue), de Amantes eternos parece ter sido construído por vampiros em frente e atrás das câmeras. Apesar de ser ambientado nos dias atuais, seu estilo lembra mais Fome de viver (1983) do que a Saga Crepúsculo (2008-2012). O figurino tem a sofisticação de quem passou séculos dedicado às artes. Há ainda uma reflexão sobre a morte e a ressureição das grandes cidades, simbolizada pela Detroit que serve como cenário principal e pela eterna Tânger onde vivem alguns dos personagens.
Na trilha sonora, há a participação de nomes como Paganini, Black Rebel Motorcycle Club, Zola Jesus, White Hills e Yasmine Hamdan (os dois últimos aparecem na tela em cenas de shows). Também são tocadas músicas de SQÜRL, banda que tem o próprio Jarmusch como guitarrista. Seus filmes sempre têm fortes contribuições musicais, com Daunbailó (1986) e Flores partidas (2005) entre os exemplos mais famosos, que celebraram respectivamente canções de Tom Waits e Mulatu Astake, entre outros.
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