'O homem das multidões', de Cao Guimarães e Marcelo Gomes, carrega uma série de significados e indagações. Tem inspiração no conto 'O homem da multidão', de Edgar Allan Poe, escrito em 1840, sobre um homem que tinha prazer em se sentir em meio à massa, sem qualquer interesse em interagir na intimidade. Evita qualquer relacionamento. Pode ser que a simples sensação de estar em meio a muitos o torne menos solitário. Ou o contrário: ao se colocar como mais um, sente-se acompanhado, sem “correr o risco” de se relacionar com alguém. Filme e personagem são universais. BH (onde foi rodado) pode ser qualquer cidade do mundo, os transeuntes da Praça Sete são iguais aos de qualquer metrópole e Juvenal (Paulo André) é como qualquer solitário convicto, alheio a emoções partilhadas.
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O metroviário que se enclausura num apartamento no Centro gosta de observar escadas rolantes cheias, sentir-se acompanhado, ter quem não tem no universo particular. O longa que inaugura feliz parceria entre os cineastas ousa na estética e valoriza a dramaturgia. Seja com a câmera fechada em closes invasivos ou com a opção por usar o aspect ratio de 3x3, proporção quadrada da imagem, que “encurrala” Juvenal e a controladora de trens Margô (Silvia Lourenço), de maneira quase claustrofóbica. Exige muito dos atores e tem resultado surpreendente.
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