'Avanti popolo', filme do diretor uruguaio radicado no Brasil Michael Wahrmann, é curiosamente um longa cheio de silêncios, mas que fala de muita coisa. Há uma abordagem sobre o que é ser latino-americano, sobre o atrito brasileiro com o resto do continente ao mesmo tempo em que é também sobre política, cinema, família, solidão e abandono. Tudo isso sem obviedades no discurso.
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Vale registrar que é o último longa com Carlos Reichenbach (1945-2012) como ator. Isso faz uma grande diferença no resultado. Carlão, como era conhecido por seus colegas, tinha inegável domínio atrás da câmera. Em 'Avanti popolo', ele transfere isso para diante dela na composição de um pai de família descrente. Homem que vive acompanhado de uma cachorra (Baleia, em clara homenagem a Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos) em um sobrado empoeirado é surpreendido pela chegada do filho (André Gatti), recém-separado. A relação entre eles, no entanto, é de indiferença.
Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Brasília em 2013 e também do júri da crítica, Michael Wahrmann aposta nos contrastes para dar um caráter crítico ao filme. Se na cena ou na relação entre os personagens Avanti popolo exibe uma descrença em relação à vida, as falas trazem mensagem oposta. Há certa utopia política em segundo plano.
Ao chegar no empoeirado reduto do pai, o filho encontra o antigo projetor da família. A recuperação de filmes antigos, além de representar ali a busca por uma memória daqueles homens, do passado e das mágoas guardadas por aquela família, traz carga nostálgica sobre um modo de fazer cinema. Será ela também utópica? Isso está mais explícito no breve diálogo que ele tem com o senhor que conserta a máquina, quando pergunta: por que você continua fazendo cinema assim? É uma questão que o diretor responde com o próprio filme. De modo sutil, 'Avanti popolo' é uma defesa da resistência.
Assista ao trailer do filme: