Um garoto sai de casa e descobre um mundo inteiro pela frente. Um país fictício mantém suas características diante do imperialismo ao redor. Imagens raras revelam a trajetória da animação brasileira. Três obras que dão identidade e cor ao cinema de animação brasileiro e marcam presença no principal evento anual do gênero, o Festival de Annecy, na França. O evento começou ontem e segue até o dia 14. Na edição deste ano, 'O menino e o mundo', de Alê Abreu, concorre com oito filmes ao principal prêmio. Além do longa, 'Até que a Sbórnia nos separe', de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr, e 'Luz, anima, ação', de Eduardo Calvet, estão na programação.
O cinema brasileiro também será representado por outras duas produções. O curta de Augusto Bicalho Roque, 'Fuga animada', foi selecionado para a competição de filmes estudantis. E na categoria séries de TV, o país tem como representante 'Boa noite, Martha', de Vivian Altman Eberhard.
Fazer cinema de animação não é fácil, alguns cineastas só colhem frutos do trabalho quase uma década depois, caso, por exemplo, do filme de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. Além das leis de incentivo, são os festivais que colaboram para a troca de experiências e o alcance de maior público. Entre os representantes brasileiros, está a mineira Tania Anaya.
Formada em desenho na Escola de Belas Artes da UFMG, ela realiza curtas desde a década de 1980. Está no currículo dela 'Balanço na gangorra', premiado no festival de animação de Hiroshima, no Japão, em 1994. A cineasta parte para o festival em busca de apoio para o seu novo longa. 'Nimuendajú' se passa no início do século 20 e narra a história de Curt Unckel, etnólogo alemão que veio para o Brasil estudar os índios e acabou adotando não só o modo de vida indígena, como o sobrenome de origem guarani. Nimuendajú significa fazer moradia. “Eu estava fazendo um filme sobre os maxakalis, li um texto dele (do etnólogo) e gostei muito. Curt não só estudava, como se integrava à cultura”, comenta Tania.
Estilo Seguindo a linha autoral presente em muitos filmes nacionais, as animações mineiras ajudam a fortalecer o gênero no cenário brasileiro. Das escolas do estado saíram nomes como Aída Queiroz e Marcos Magalhães, um dos fundadores do Animamundi – maior festival de animação da América Latina. Entre os realizadores da atualidade, destaque para Daniel Herthel e Maria Leite, de 'Casa de máquinas', que utiliza a técnica do stop motion para apresentar os movimentos de uma estrutura mecânica. Produzido em 2007, o filme levou os principais prêmios no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, e de São Paulo, em 2008.
Assim como o premiado 'O céu no andar de baixo', de Leonardo Cata Preta, é possível observar em 'Quinto andar', de Marco Nick, cuidado artístico especial evidenciado pelos traços dos desenhos e da imagem. “Como ilustrador, sempre gostei de desenhar e sempre tive vontade de ver minhas ilustrações ganharem vida”, explica Marco, que já se prepara para o próximo filme. “Será um infantil, de aproximadamente 13 minutos, sobre um garoto que aprisiona as nuvens para sugar a água delas e distribuir na vila onde mora. Chega um momento em que, por descuido, as nuvens fogem e o garoto vê toda a cadeia ao redor ser ameaçada”, adianta o jovem cineasta.
Animações brasileiras concorrem no Festival Annecy
Produções nacionais também vão ser exibidas em mostras paralelas