Ainda bem que a adaptação de 'A culpa é das estrelas' não cai na armadilha do final feliz e nem da pieguice que costuma empacotar as produções hollywoodianas. A literatura de John Green não é assim. É por isso que por mais que a trama seja de tristeza notória, há muito espaço para humor, romantismo e reflexão.
Todos os envolvidos na produção têm experiências no cinema indie americano. A dupla de roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber, por exemplo, é a mesma de '500 dias com ela', uma comédia romântica sem final feliz. Inclusive os dois filmes até começam de forma parecida. Desta vez, porém, é Hazel (Shailene Woodley), deitada em um gramado, quem de cara avisa ao espectador que as coisas não duram para sempre. Ela se refere ao romance com Augustus, o Gus (Ansel Elgort).
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Assista ao trailer de 'A culpa é das estrelas':
Ao encarar com lucidez o câncer e seus efeitos colaterais, a dupla de protagonistas cativa o espectador. Na órbita deles estão coadjuvantes divertidos, como o amigo Isaac (Nat Wolff ), ou o atormentado escritor Peter Van Houten (Willem Dafoe), que garante o contraponto. É a representação da imaturidade, da derrota, da desilusão. O oposto de Hazel, Gus e mesmo de Isaac.
Shailene Woodley e Ansel Elgort estiveram juntos na ficção científica 'Divergente' (2014). Mesmo que esse filme tenha aparecido por aqui com vocação para grandes plateias, os atores ainda não figuram no primeiro escalão das estrelas teen. Por enquanto. Como Hazel e Gus, Shailene e Ansel demonstram talento e potencial para muito mais.
'A culpa é das estrelas', o livro, ganhou notoriedade entre os adolescentes, mas não é uma história restrita a essa faixa etária. É sobre como aprender a lidar com expectativas, com amadurecimento, com perdas, com sentimento, com decepção, com desejo, com descoberta. Isso não tem idade.
Palavra de especialista
Inez Lemos Psicanalista
Contato com a falta
Nosso mundo está frágil e superficial. A sedução do livro 'A culpa é das estrelas' vai um pouco por aí. O romance ensina o contato com a falta, com a incompletude da vida. Os personagens estão aprendendo a lidar com o sofrimento, a não ter tudo. A emoção está muito ligada a tocar as entranhas para a transcendência. O livro transcende essa vida idiota convencional; transcende os shoppings e a estupidez do consumo. Muita gente diz que os adolescentes gostam de superficialidade. É mentira. O que buscam é a verdade, estão cansados de propagandas. Nosso mundo está muito desidratado, sem graça e superficial. O livro é um mergulho em uma situação existencial extrema. O jovem casal é colocado diante de uma relação sem fantasia. Não há espaço para fugas ou jogatinas estratégias. Como na vida real.