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Neste início de século, faturam mais os filmes extraídos de livros e HQs que obtiveram êxito no mercado editoral ou franquias produzidas há décadas. Depois dos dois filmes dirigidos por James Cameron ('Avatar' e 'Titanic'), a lista é habitada por filmes de super-heróis, bruxos e robôs gigantes. O cenário é bem próximo de 10 anos atrás, quando constavam sequências de séries (nossos conhecidos 'Shrek 2', 'Homem-aranha 2' e 'Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban'). Todos têm arrecadação superior a US$ 1 bilhão.
Em comum, esses filmes tiveram como aliado uma invoção técnica. O preço do ingresso dos filmes em três dimensões incha o valor das arrecadações recentes. Em 1994, ano de lançamento de 'Forrest Gump', o contador de histórias, os números absolutos de arrecadação do campeão do Top 10 nos Estados Unidos era de apenas US$ 329 milhões. Bem inferior ao padrão atual.
Vivemos uma espécie de terceira geração do blockbuster, cujo conceito variou muito ao longo dos séculos 20 e 21, como observa o pesquisador e crítico de cinema da Revista Interlúdio Heitor Augusto. "Peguemos 'E o vento levou'. Não dá só para olhar para o número absoluto de dinheiro arrecadado e dizer que 'Frozen' tem mais apelo comercial do que ele. A ideia de blockbuster na década de 1930 estava apenas rascunhada: havia o lançamento em uma praça importante (Nova York), seguido de exibição gradual em praças menos importante, numa viagem que poderia levar anos", relembra.
"Com a chegada de 'O poderoso chefão', o conceito de block-buster muda de novo: lançamento simultâneo em várias praças dos EUA. Com a intensificação da globalização, outra mudança: o mercado internacional torna-se mais importante do que a arrecadação nos EUA. Com a popularização da internet e o avanço das mídias sociais é importante criar o "awareness" e "viralizar". Um filme torna-se peça-chave no jogo de distribuição", constata.
Analisando os números da lista dos 10 mais vistos, é possível compreender outros aspectos da indústria do cinema e, consequentemente, decomportamento dos consumidores. Inseridos nos títulos campeões, persiste uma espécie de filosofia escapista refletida no investimento de valores do super-humano, em detrimento do que é apenas humano. Em outros, como 'Frozen', uma animação que segue uma narrativa à moda antiga, existem a repetição de velhos estereótipos de princesas. É um momento de conservadorismo estético e temático semelhante ao que se via nas telas de cinema até a década de 1950.