O tema em debate na edição 2014 do CineOP, proposto pelo curador-geral Hernani Heffner, é “A formação de redes e a preservação”. No centro da questão, explica, estão as transformações trazidas pelo chamado, genericamente, cinema digital. Que, explica o curador, não só mudou radicalmente o modo de se relacionar com o cinema como coloca a necessidade de outras estratégias de preservação. A maior facilidade de manejo, produção e uso de cópias trazida pelo digital possibilita discutir o compartilhamento dos custos do processo de digitalização entre várias instituições. “É preciso não só conversar sobre a questão como ter propostas concretas de formação de rede de preservação de caráter nacional”, defende.
Homenagem
Luiz Rosemberg Filho tem 69 anos e é um dos criadores do cinema independente brasileiro. Atuando a partir do fim dos anos 1960, construiu obra marcada pela integração de experimentação formal e reflexão política, que lhe valeu reverências importantes mas também o deixou à margem do circuito de exibição. Dele serão exibidos os longas 'O jardim das espumas' (1970), 'Imagens' (1972), 'A$suntina das Amérikas' (1976), 'Crônica de um industrial' (1978) e 'O santo e a vedete' (1982). Os dois primeiros, com paradeiro desconhecido até por parte do diretor, foram localizados e restaurados pela organização do CineOP, na França. “É um presente para o diretor”, observa a diretora-geral do evento, Raquel Hallak.
“A exibição dos filmes de Luiz Rosemberg Filho, agora recuperados, oferece a possibilidade de analisar obra pouco conhecida inclusive em sua época”, explica Hernani Heffner. Para o curador, dos cineastas da geração de 1968, que criaram o cinema chamado udigrudi, marginal, de invenção etc., o diretor é o que manteve carreira marcada pela experimentação, tendo, inclusive, rapidamente assumido o vídeo e o digital. “É ainda o que mantém traços estilísticos – a ironia, a paródia, o erotismo, a visão crítica das elites brasileiras – de forma muito coerente”, observa. Por ser cinema realizado com meios precários, recorda Heffner, o diretor viu, assim como outros colegas de geração, os filmes se deteriorarem.
Públicos variados
O montador Ricardo Miranda (1950-2014), nos últimos anos, passou também a dirigir filmes. Dele serão exibidos Paixão e virtude (2014), Bricolage e o curta A nostalgia do branco (1979). A programação de filmes do CineOP, mostra também longas e curtas contemporâneos, cujo perfil dialoga com o tema do evento, dedicado aos mais diversos públicos, incluindo os jovens cinéfilos, que ganham programação especial, reunida com o título de Cine Escola. Também se torna sala de cinema, ao ar livre, a Praça Tiradentes. As exibições no local começam na sexta-feira, às 20h30, com o documentário Cauby – começaria tudo outra vez, de Nelson Hoineff.
Programação
A programação do CineOP traz tanto obras contemporâneas ligadas ao tema da preservação e da memória, em alguns casos, lançando filmes, quanto raridades, obras dos primórdios do cinema brasileiro, consideradas perdidas. Faz parte da programação, ainda, sessão dedicada às crianças, que ocorre sábado, às 15h30, no Cine Vila Rica.
Cinema na Praça Tiradentes
Sexta-feira
22h – Cauby – começaria tudo outra vez, de Nelson Hoineff
Sábado
20h30 – Pipiripau, o mundo de Raimundo, de Aluizio Saller Jr.
Domingo
18h30 – Curta-metragens
20h – Cidade de Deus – 10 anos depois, de Cavi Borges e Luciano Vidigal.
Mostra Preservação/Raridades
Sexta-feira
18h – Cine Vila Rica
O rei do samba (1932), de Luiz de Barros; Dois fragmentos de As sete maravilhas do Rio de Janeiro (1934), de Humberto Mauro; Festa da primavera (1939), de Humberto Mauro
9ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto
Exibição de filmes, debates, palestras, oficinas e seminários. De amanhã a 2 de junho, em Ouro Preto – Centro de Artes e Convenções (Rua Diogo de Vasconcelos, 328, Pilar); Cine Vila Rica (Praça Reinaldo Alves de Brito, 47, Centro); Praça Tiradentes (Centro). Entrada franca.