O Festival de Cannes, que já vaiou Jean-Luc Godard, rendeu-se nesta quarta-feira ao reverenciado cineasta de 83 anos, com aplausos emocionados a 'Adieu au langage', que compete pela Palma de Ouro. "Godard forever" (Godard para sempre), gritou um espectador antes do início da exibição no Grande Teatro Lumière do Palácio dos Festivais.
Desde que começou, na quinta-feira passada, o evento teve vaias e protestos, mas nesta quarta à tarde apenas aplausos foram ouvidos. "É puro Godard!", foi dito ao final da exibição em 3D do filme, abstrato e experimental. É a quinta vez que o veterano diretor disputa a Palma de Ouro, prêmio que nunca conquistou.
"A projeção foi um acontecimento, algo histórico, que eu não perderia por nada neste mundo", exclamou um fã do cineasta. Godard, membro da escola francesa "Nouvelle Vague", inventou uma nova maneira de se fazer cinema, em filmes como 'Acossado' (1960) e 'O demônio das onze horas' (1965).
'Adieu au langage' contém vários elementos que marcaram sua carreira: os movimentos de câmera, o som não sincronizado com a imagem, uma narração que deixa a impressão de não ser o elemento mais importante no filme.
Apesar de não ter viajado a Cannes, o diretor enviou uma mensagem em vídeo de nove minutos ao presidente do Festival, Gilles Jacob, e ao diretor artístico, Thierry Frémaux, em que classifica seu filme como "uma valsa". Nas palavras de Godard, seria sua melhor obra. "Deixou de ser um filme, apesar de ser o meu melhor, é uma simples valsa", afirmou. O vídeo contém diversos trechos de filmes seus, como 'Rei Lear' (1987) e 'Alemanha nove zero' (1991).
Em entrevista de uma hora e 20 minutos divulgada nesta quarta pela rádio France Inter, o diretor resume a trama de seu último trabalho. "É uma história simples: uma mulher casada e um homem solteiro se encontram. Se amam. Brigam... Um cachorro vaga entre a cidade o campo. As estações passam. O homem e a mulher se encontram novamente. O cachorro encontra os dois", explicou, dando margem a interpretações.
Nas redes sociais, os comentários têm sido positivos, em sua maioria. O crítico da revista Les Inrock qualificou o filme como "o mais brilhante" que viu em Cannes. "O filme é uma tela abstrata e experimental", diz um comentário no Twitter. Segundo o jornal Le Figaro, alguns "riram do absurdo filme, confessando não ter entendido nada". Já Peter Bradshaw, crítico do jornal britânico "The Guardian", classificou o filme como "errático, excêntrico, exasperante e louco".