Cinema

Novo 'Godzilla' tem lá seus méritos, mas continua sendo mais um filme-catástrofe

Apesar de ser como tantos outros longas de Hollywood, a produção de certa forma "humaniza" o monstro

Mariana Peixoto

Criado em 1954 no Japão como uma personificação do terror causado pelas bombas nucleares que assolaram Hiroshima e Nagasaki uma década antes, o monstro Godzilla sobreviveu durante seis décadas em diferentes versões vistas em 28 filmes produzidos até os dias atuais. Ainda que seja Tóquio sua principal vítima, ele já causou estragos nos Estados Unidos. Até então, havia uma versão norte-americana de 1998, quando o monstro dominou Nova York num filme de Roland Emmerich para lá de mediano. Agora, sob a batuta do britânico Gareth Edwards (Monstros, 2010), a imensa criatura retorna em 3D (que não justifica o valor do ingresso), em uma releitura um tanto humanizada que dialoga com várias questões atuais.


A parte inicial do filme é ambientada no Japão. Em 1999, o engenheiro nuclear, Joe Brody (Bryan Cranston) vive com a mulher Sandra (Juliette Binoche) e o filho pequeno, Ford, numa ilha japonesa. O casal trabalha numa usina nuclear, e um acidente de grandes proporções acaba matando a mulher. Quinze anos mais tarde, Brody é um homem que se culpa pela morte de Sandra. Seu filho (interpretado por Aaron Taylor-Johnson, o herói da narrativa) é um militar do esquadrão antibombas. Vive com a mulher e o filho em São Francisco e, após retornar de uma temporada no Iraque, é avisado que o pai está preso no Japão.

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Para o filho, Joe é um lunático obcecado pela morte da mulher. Já o veterano, que passou ANOS tentando investigar o caso, sabe que a catástrofe que acometeu a ilha foi além de uma explosão nuclear. Acredita que há algo mais ali, que “conversa” com outro ser. E é em busca de respostas – e de uma possível redenção – que pai e filho se reencontram na casa que um dia lhes serviu de lar. A partir do momento em que o monstro “acorda”, eles descobrem que há muito mais do que imaginavam. E que não há um, mas vários seres malignos que são crias da energia nuclear. Estes rumam rapidamente para os Estados Unidos, desta vez chegando à Costa Oeste.

Como filme-catástrofe, esse novo Godzilla não é muito diferente de outros do gênero. Há um drama familiar como pano de fundo, crianças em profusão – são pelo menos três que ganham o foco da câmera em diferentes momentos –, explosões, mortes, gritos, tudo em grandes proporções. Por outro lado, Edwards tenta prestar contas à história. O terror que uma nova Hiroshima pode causar está sempre presente, principalmente na visão do personagem de Ken Watanabe, o dr. Serizawa, um cientista que passou boa parte da vida à espreita do despertar do monstro.

Há algumas odes ao filme original neste Godzilla 2.0. Dr. Serizawa apareceu no primeiro, de 1954, então interpretado por Akihiko Hirata. Akira Takarada, que fez fama no Japão graças ao protagonista Hideto Ogata de 60 anos atrás, faz agora uma pequena participação. Ao longo de seis décadas, Godzilla já foi vilão e herói. Agora, o monstro está mais humanizado. A “criatura-título” aparece aos poucos, é totalmente revelada  somente na segunda parte da narrativa. Parece esperar que os outros monstros façam seu estrago para entrar em cena. Ainda que exaustivas sequências de ação e mortes não saiam do lugar-comum, esses detalhes tentam fazer a diferença.
Cotação: Bom

Assista ao trailer do filme: