'O mercado de notícias' leva a crítica do mundo jornalístico ao Cine PE

Cineasta gaúcho Jorge Furtado discute o futuro da imprensa e o papel de seus profissionais. O filme se inspira em peça escrita no século 17

por Carolina Braga 28/04/2014 08:10

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Fábio Rebelo/divulgação
'O mercado de notícias' inspirou-se na peça do inglês Ben Jonson (foto: Fábio Rebelo/divulgação)
Recife –
“Ser original é retornar às origens”. Com base nessa premissa, o diretor Jorge Furtado, de fato, voltou no tempo para falar de algo extremamente atual: a transformação do jornalismo. Esse é o tema do filme 'O mercado de notícias', um dos destaques da mostra competitiva do Cine PE, realizado na capital pernambucana. Pela primeira vez, o criador do curta 'Ilha das Flores' (1989) e da comédia 'O homem que copiava' (2003) se arrisca no formato documentário longa-metragem.

“Fico tentando fazer uma coisa que nunca fiz. Se desafia, tem um certo frescor”, explica Furtado. O projeto surgiu em 2006, fruto do faro de repórter do cineasta gaúcho, formado em comunicação social. “Percebi que se acentuava a ideia de um jornalismo pouco investigativo e muito voltado para a escandalização da política, que virou caso de polícia. Decidi estudar aquilo”, explica. Citando um dos entrevistados do longa, o diretor lembra que é difícil entender uma revolução enquanto ela acontece – é justamente isso o que está ocorrendo nas redações contemporâneas.

Furtado se inspirou no texto 'O mercado de notícias', escrito pelo dramaturgo inglês Ben Jonson (1572-1637) há 389 anos. Os primeiros registros do jornalismo são de 1622 – ou seja, o contemporâneo de Shakespeare escrevera sua peça no calor daquela novidade. O documentário é o resultado da fusão do texto do século 17 com depoimentos de 13 jornalistas, entre eles Mino Carta, Jânio de Freitas e Luis Nassif.

“Na verdade, o filme é uma defesa do jornalismo. Com a internet, as pessoas acham que qualquer um pode ser jornalista, mas é o contrário disso. Precisamos ainda mais do profissional especializado”, defende Jorge Furtado.

Mais que um filme, o documentário é um projeto transmídia. O próprio Jorge Furtado cuida do conteúdo do site www.omercadodenoticias. com.br, que traz entrevistas dos profissionais focalizados, lista de artigos acadêmicos e sites recomendados. O diretor pretende publicar em livro o texto de Ben Jonson.

Abertura

Foi uma longa jornada noite adentro. A abertura da 18ª edição do Cine PE teve mais de quatro horas de projeção, com exibição de 10 curtas-metragens e a sessão hors concours de 'O Grande Hotel Budapeste', do diretor norte-americano Wes Anderson.

Embora a internacionalização seja o ponto principal do festival, a estreia foi um tanto quanto desprestigiada. Ninguém da equipe do longa veio ao Recife. De acordo com a distribuidora Fox Filmes, foi impossível trazer os artistas ao país. O longa é inspirado nos diários do escritor vienense Stefan Zweig (1881-1942), que decidiu se exilar no Brasil durante a 2ª Guerra Mundial e se suicidou em Petrópolis (RJ).

Rodrigo Fonseca, curador do Cine PE, afirma que O Grande Hotel Budapeste inaugura uma série de filmes que têm a memória como fio condutor. Diretor de 'Moonrise Kingdom' e 'Viagem a Darjeeling', Wes Anderson é fiel à linguagem que abraçou: o tempo todo há um clima de fantasia no ar. No ponto certo, a dobradinha Ralph Fiennes/Tony Revolori garante graça à trama.
A repórter viajou a convite da organização  do Cine PE.


TESTE DE RESISTÊNCIA


Esta noite, o Cine PE enfrentará um desafio: saber se o público vai resistir aos 164 minutos do documentário E agora? Lembra-me (foto), do português Joaquim Pinto, que narra a experiência do cineasta ao testar um medicamento para hepatite C. Há quase 20 anos ele é portador desse vírus e do HIV. O Teatro Guararapes, local da exibição, tem nada menos de 2,5 mil cadeiras.
 
Entrevista com o diretor Jorge Furtado:
 
 

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