Cinema

Cine PE completa dezoito anos e aposta na internacionalização em 2014

'O menino do espelho', feito em Minas, está na mostra competitiva

Carolina Braga

O filme 'Grande Hotel Budapeste', do cineasta americano Wes Anderson, será exibido fora da competição
Ele já não é uma criancinha. Justamente por ter chegado aos 18 anos com a fama de ser o festival de cinema de maior participação popular do Brasil, os organizadores do Cine PE estavam certos de que precisavam mudar. Não que as plateias volumosas fossem problema, mas chegou a hora de renovar os votos com os espectadores que costumam lotar o Cine Teatro Guararapes. Isso significa uma programação que conseguisse ser ao mesmo tempo inovadora e comunicativa. E mais: com a maioridade, chegou o momento de internacionalizar o festival.


“Conheço meu público há 17 anos e sei que ele tem sede de novidades. Todo festival, mesmo que erre, tem que arriscar, no sentido de procurar uma mudança para melhor”, comenta Sandra Bertini, uma das diretoras do Cine PE. Para que o público desfrute das novidades que estarão em cartaz de amanhã ao dia 2 de maio, no Centro de Convenções de Olinda, ela brinca que só não pode haver chuva torrencial.

Bertini afirma que a principal aposta do 18º Cine PE é mesmo a internacionalização. Com isso, o filme selecionado para a abertura é o norte-americano 'Grande Hotel Budapeste', de Wes Anderson (de 'Moonrise Kingdom' e 'Os excêntricos Tenembaums'), exibido fora de competição, assim como a estreia nacional de Getúlio, de João Jardim. Na sequência, a maratona terá 25 títulos, sendo 13 curtas, 14 longas. São 22 filmes brasileiros. As outras produções vêm dos EUA, Portugal, Itália e Argentina. O único mineiro na disputa é O menino do espelho, de Guilherme Fiúza, baseado na obra de Fernando Sabino. A estreia nacional está marcada para o dia 30.

A curadoria está a cargo do jornalista, crítico e pesquisador Rodrigo Fonseca. O nome dele é coerente com o desejo de renovação do Cine PE. Jovem e com conhecimento vasto sobre a sétima arte, Fonseca não se cansa de reafirmar seu interesse tanto pelo cinema de autor como pela vertente mais popular da indústria. “A ideia é ser uma curadoria mais pop”, diz. Mas ser pop não significa ser somente comercial.

No exercício para encontrar a medida certa, a escolha dos filmes se pautou por um tema. Habituado à cobertura do Cine PE como jornalista especializado, Rodrigo Fonseca identificava um problema de identidade. Se a Mostra de Cinema de Tiradentes, por exemplo, solidifica-se pela opção pela experimentação radical, o Festival de Brasília é conhecido como palco de afirmação política, e Gramado volta-se para a cultura da latinidade, o evento de Pernambuco estava sem face. “Tentei dar-lhe a cara da memória”, diz Rodrigo.

De uma maneira ou de outra, todos os trabalhos que serão apresentados abordam a memória, o que, aliás, tem sido recorrente no cinema contemporâneo. “É um olhar sobre as afirmações ou trocas, movimentação de identidades em busca de uma memória, seja individual, de um lugar ou do próprio cinema”, justifica.

São quatro mostras competitivas. Ao Troféu Calunga competem 'Muitos homens num só' (RJ), com direção de Mini Kerti; 'Mundo deserto de almas negras' (SP), de Ruy Veridiano; 'O menino do espelho' (MG), de Guilherme Fiuza; 'Romance policial' (RJ), de Jorge Durán; 'Anni Felici', com direção de Daniele Luchetti; e 'Todos tenemos un plan', de Ana Piterbarg. Já a Mostra Doc Internacional terá em concorrência quatro filmes, sendo dois brasileiros e dois portugueses. Entre eles, o novo filme do diretor gaúcho Jorge Furtado, 'Mercado de notícias', sobre a crise na mídia convencional.

Na competitiva nacional de curtas serão sete produções na disputa, entre eles 'Linguagem', o novo trabalho do diretor carioca Luiz Rosemberg Filho. Não há nenhum curta mineiro na programação. Outra novidade de 2014 é a aposta em filmes de gênero. 'Todos tenemos un plan', 'Muitos homens num só' e 'Romance policial' são policiais, com forte referência ao cinema noir.

Segundo Rodrigo Fonseca, todos os filmes têm forte identidade estética, mas ao mesmo tempo se preocupam com a comunicação. “Eles têm uma necessidade de se abrir mais, falam para um coletivo maior”, comenta o curador.

Uma dama do cinema

A única homenageada que estará presente no Cine PE é a atriz Laura Cardoso, de 86 anos, com 29 filmes no currículo. Um dos poucos festivais nacionais a exibir Giovanni Improtta, o único filme dirigido por José Wilker, o Cine PE estava com a homenagem organizada para o ator quando foi surpreendido pela morte dele. De acordo com Sandra Bertini, a cerimônia está mantida e confirmada para 2 de maio, noite de encerramento. Na ocasião, comparecerão as filhas do ator e a namorada de Wilker, a jornalista Cláudia Montenegro.

Na mesma noite, o Cine PE faz uma reverência aos 50 anos da primeira exibição de Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. Os filhos do diretor também estarão presentes. Cogita-se a exibição da cópia restaurada do filme. No entanto, a projeção está em negociação com a família.

A cerimônia em honra a Laura Cardoso será dia 29, no Teatro Santa Isabel, no Bairro de Santo Antônio, no Recife. Há 13 anos, ela recebeu o prêmio de melhor atriz no Cine PE pela participação no longa Através da janela, de Tata Amaral.

Gramado

Marcado para o período de 8 a 16 de agosto, o Festival de Cinema de Gramado está com inscrições abertas. Os interessados em competir nas categorias longas brasileiros, longas estrangeiros, curtas brasileiros e curtas gaúchos devem preencher até 23 de maio a ficha disponível no www.festivaldegramado.net. Outra novidade deste ano: a premiação será em dinheiro. Anteriormente, os premiados levavam para casa apenas o troféu Kikito.

CINE-PE
Longas da programação
» Hors-concours
Getúlio, de João Jardim
Grande Hotel Budapeste (EUA), de Wes Anderson

» Documentários
1960 (Portugal), de Rodrigo Areias
Corbiniano (PE), de Cezar Maia
E agora? Lembra-me (Portugal), de Joaquim Pinto
O mercado de notícias (RS), de Jorge Furtado
 
» Ficção
Anni felici (Itália), de Daniele Luchetti
Muitos homens num só (RJ), de Mini Kerti
Mundo deserto de almas negras (SP), de Ruy Veridiano
O menino no espelho (MG), de Guilherme Fiúza
Romance policial (RJ), de Jorge Durán
Todos tenemos un plan (Argentina), de Ana Piterbarg