Cinema

'O grande herói' extende propaganda militarista a filme sobre missão dos EUA no Afeganistão

Indicado a dois Oscars técnicos, longa peca ao desenvolver roteiro centrado em batalhas

Walter Sebastião

Em 'O grande herói', personagem de Mark Wahlberg (dir.) recebe a missão de matar líder talibã
Cinema tem coisas que não se entende. Por exemplo: como o filme 'O grande herói' (Lone survivor) pode ser indicado ao Oscar de mixagem e melhor edição de som? Tudo bem que é prêmio com gosto pelo discutível, mas nem nos dois aspectos tal indicação se justifica. Simplesmente porque uma e outra são criações baratas, apenas efeito.

 

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Talvez tais indicações sejam para pontuar coisas tão polêmicas quanto a história (de invasão a outro país para assassinar lideranças "terroristas"). Que são apresentadas em voz baixa, em meio a ruídos de tiroteios, helicópteros, explosões de bombas etc. Como, por exemplo, a defesa ao ataque de populações civis, que o filme, elipticamente subscreve, mostrando as consequências das “dúvidas” em adotar tal prática.


'O grande herói' põe na tela um grupo de elite do Exército norte-americano, treinado para obedecer, que vai ao Afeganistão para matar um líder talibã. E se dá mal. Dois terços do filme são tediosamente dedicados exclusivamente às batalhas, filmadas com todas as piruetas técnicas possíveis. E mesmo mostrando soldados estropiados, encerra a “trama” passando a sensação de vitória do humanismo e de defesa de causa nobre.

 

Eventual ironia com a situação só torna o filme ainda mais desumano e cínico, quase propaganda de alistamento militar com estética trash. O que, vale lembrar, soa nostálgico em tempos de guerras movidas com mercenários, daí não se verem recrutas voltando para casa dentro de caixões.

Frisa-se, na tela, cartaz e releases, que o filme de Peter Berg é baseado na história real da missão Operação Asa Vermelha. Pouco importa. Eventual referência ao “real” é só para confirmar imaginário militarista cultivado pelo cinema norte-americano (para eles, é como se o cinema desse continuidade à guerra por outros meios).

 

Considerando, ainda, que em 'O grande herói' todos (inclusive o talibã) estão bem armados e ninguém erra o alvo, pode-se suspeitar de merchandising da indústria armamentista. Não se trata de pedir conteúdo, realismo e consistência ao filme. Se as partes do filme pelo menos se encaixassem já estaria bom. Mas o que se vê são pedaços de interpretações, fotografia, montagem, intenções, videosgames etc., sem que os trapos combinem com os remendos. O filme não é ruim, é péssimo.

 

Assista o trailer de 'O grande herói':