Noam Murro erra em não apostar no deus-rei de Rodrigo Santoro

por Walter Sebastião 14/03/2014 00:13

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Warner/divulgação
(foto: Warner/divulgação)
A expectativa em torno de 300 – A ascensão do império, de Noam Murro, até se justifica: trata-se da continuação de 300, dirigido por Zack Snyder, filme que repôs na telona, com visual impactante, as batalhas épicas do mundo antigo. Acrescente-se, para os brasileiros, a presença do ator Rodrigo Santoro no papel do rei-deus Xerxes, imagem icônica das duas produções. Outro fato interessante: a saga se inspirou em histórias em quadrinhos de Frank Miller, um renovador do mundo dos heróis, criador do Batman dramático, dividido entre trevas e luz.

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O primeiro 300 trouxe a luta dos espartanos contra o Exército persa. Agora, a trama gira em torno das estratégias de Themistocles (Sullivan Stapleton), que precisa unir a Grécia para resistir a outra invasão persa comandada por Xerxes (Rodrigo Santoro) e Artemísia (Eva Green). Apesar dos discursos sobre ideais, família e nação, A ascensão do império... é fantasia sombria (e sangrenta) sobre a guerra, o poder e heróis forjados nos campos de batalha.

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O filme em 3D tem visual exuberante, cenas espetaculares e muitos atores. As batalhas formam o eixo do segundo longa, que traz algumas das melhores cenas sobre o tema vistas no cinema. Com precisa articulação de fotografia, montagem e som, Murro recriou o mundo remoto, sem compromisso com o realismo e jeitão de HQ, povoado por deuses e guerreiros lendários. Ali está o cenário de conflitos que, até pela vasta literatura e sua constante evocação pelas artes, tornaram-se representações clássicas da guerra.

A direção de arte contribui – e muito –, mas escorrega ao criar faces caricaturais, em especial para os persas (há maquiagens e perucas de doer...). A força plástica não impede que cenas de batalhas soem excessivas. O problema nem vem delas, cuja onipresença é justificada em uma história cujo tema central é a dimensão trágica da guerra. Empobrecendo o conjunto está a narrativa que promove a simplificação de questões, personagens e dramas.

A trama poderia até ser interessante, sem se tornar só o pano de fundo para um par “romântico”. Com isso, deixou-se de lado um tipinho antológico: o Xerxes de Rodrigo Santoro. A primeira imagem é dele, o que comprova o carisma do personagem. Mas, depois dessa aparição, Xerxes é trocado por tipos estandartizados. Tal simplificação dramatúrgica acaba em maniqueísmo.

Resta, então, uma situação desconjuntada: primeiro plano superficial e estandartizado, igualzinho a muitos outros produtos da indústria cinematográfica, e o “segundo” plano marcado por imagens e comentários ácidos sobre guerra, violência e insensatez das soluções bélicas. Não seria necessário complicar a trama – só um pouquinho de desenvolvimento dos personagens daria charme especial ao filme. Entretanto, o longa de Noam Murro foi prejudicado pela falta de coragem de ir um pouco mais longe e pelo excessivo apego a fórmulas narrativas.

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