Um documentário chamado 'Maracanã' estreia na semana que vem no Uruguai, relembrando o episódio que é até hoje o maior orgulho do futebol do país, a vitória da 'Celeste' sobre o Brasil na decisão da Copa do Mundo de 1950. Não é por acaso que o filme chega às telas justamente a três meses de outro Mundial disputado em terras brasileiras.
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Baseado no livro "Maracanã, a história secreta", do autor uruguaio Atilio Garrido, mostra imagens de arquivo e relatos de protagonistas da partida, disputada em 16 de julho de 1950. Os diretores levaram três anos para juntar o material, com muitas imagens oriundas de coleções privadas e para fazer as entrevistas.
"Durante este período, tivemos a oportunidade de mergulhar na sociedade uruguaia e brasileira da época, com o Brasil em ano eleitoral e o desafio da construção do Maracanã, que é nada menos que um colosso que buscava mostrar a dimensão do país ao mundo", explicou Varela.
O documentário também mostra as diferenças de preparação entre as duas equipes e a fama de invencibilidade dos brasileiros, intensificada pela imprensa, os dirigentes e a torcida local.
Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris-1924 e Amsterdã e primeira campeã mundial da história (em 1930), a seleção uruguaia não disputou as Copas de 1934 e 1938 por razões políticas.
Determinação e superação
O filme exalta a "convicção, determinação desses homens, que transformaram tudo que aconteceu de ruim antes do Mundial (uma greve dos jogadores que paralisou o futebol uruguaio entre 1948 e 1949) em algo positivo, alcançando seu objetivo final de forma incrível", ressaltou Varela.
"Não podemos nos esquecer que esses homens (os uruguaios) jogavam muita bola, e enfrentavam uma seleção (brasileira) com talento similar e uma ótima preparação", lembrou o diretor, chamando a 'Celeste' da época de "seleção de operários". A longa greve no futebol uruguaio levou alguns jogadores a trabalhar em outras áreas para se sustentar, inclusive a construção civil.
Um dos atletas que precisou trabalhar como operário foi o capitão Obdulio Varela, que ganhou o apelido de 'Negro jefe' (Chefe negro). O filme relata o momento em que ele pegou a bola e começou a discutir com o árbitro para "esfriar a partida" depois da abertura do placar pelo brasileiro Friaça.
A 'Celeste' conseguiu a virada histórica com gols marcados por Juan Alberto Schiaffino e Alcides Edgardo Ghiggiam, nos 21 e 34 minutos do segundo tempo. O 'carrasco' Ghiggia é justamente o último sobrevivente daquela geração e foi homenageado em novembro do ano passado no estádio Centenario, antes da partida de repescagem na qual os uruguaios garantiram sua vaga para a próxima Copa.
O documentário vai além do relato esportivo, contando por exemplo com um depoimento da viúva de Julio Pérez, revelando que o ex-atacante, seu noivo na época, havia prometido casar com ela se conquistasse o título no Brasil. "Ela escutou a final na rádio, fazendo crochê e rezando para que a equipe vencesse. Esta imagem reflete muito bem a época", aponta o diretor.
Com este filme, os uruguaios vão poder fazer uma viagem no tempo, revisitando um episódio que aconteceu há 64 anos, antes da seleção atual dos Suárez, Cavani e companhia estrear na Copa, no 14 de junho no Castelão de Fortaleza, contra a Costa Rica, alimentando o sonho de mais um título em terras brasileiras.
Enquanto a 'Celeste' buscará o tri, a seleção brasileira, que superou o trauma do 'Maracanazo' ao se tornar o maior campeão mundial da história, tentará conquistar o hexa em casa.
Confira o trailer do documentário uruguaio 'Maracanã':