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O que muita gente desconhece é uma faceta até então guardada a sete chaves e que o cineasta descortina por aqui este ano. Bigode é poeta há longa data. No pacote de lançamentos desta edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, em meio a DVDs e livros sobre vertentes da sétima arte, o carioca com o coração em Minas apresenta 'Os sais da lembrança', primeiro livro de poesias em 30 anos. A obra foi publicada no fim de 2013, depois de passada a resistência inicial do autor.
“A dúvida era se eu ia retrabalhar um tipo de expressão do qual estava afastado há tanto tempo. Perguntava-me: será que as ideias não estão explícitas no cinema? Não será um apêndice desnecessário?. Depois achei que não, e me deu um pique”, conta. 'Os sais da lembrança' tem 30 poemas. A série que dá nome ao livro foi dedicada ao amigo Ney Latorraca, mas há também homenagens a Lúcio Cardoso (1913-1968), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Cláudio Murilo e outros.
Neto e bisneto de poetas, Bigode sempre deixou explícito seu interesse por essa forma de expressão. Como escritor bissexto, participou de várias antologias. Escreveu inclusive para o 'Suplemento Literário de Minas Gerais', a convite de Murilo Rubião (1916-1991). A relação entre cinema e poesia é transparente em sua trajetória. Levou a poesia de Cecília Meireles (1901-1964) para as telas em 'O sereno desespero' e com 'O homem e sua hora tratou da obra' de Mário Faustino (1930-1962). Sem falar da criação de Lúcio Cardoso, presente desde o longa de estreia, 'Mãos vazias'. Mas a experiência agora é outra.
Em 'Os sais da lembrança' há uma passionalidade latente em cada página. Os textos foram escritos entre a década de 1960 e os dias de hoje. “Acho que me deu oportunidade de rever um Bigode do passado, do qual não tinha um distanciamento crítico e um olhar que só é possível com o tempo”, afirma. Vencida a resistência inicial, Bigode assegura que gostou tanto de “ser poeta” que já prepara novo livro para o ano que vem. Serão cerca de 25 poemas eróticos.
No cinema, a novidade é a filmagem de 'Introdução à música do samba', argumento de Lúcio Cardoso que ficou perdido por cerca de 30 anos. O roteiro, do próprio Bigode, está pronto e Ney Latorraca foi escalado como protagonista. Pela primeira vez, o cineasta vai rodar um filme em Minas. Cataguases e Leopoldina foram as cidades escolhidas como locações.
“Mineiro tem esse lance de não ter o mar e de não ter o horizonte, ele é cheio de montanhas e mistérios. Essa coisa da introspecção faz as pessoas pensarem sobre o que esta atrás daquele morro. Isso desenvolve uma capacidade criativa muito grande, na literatura e no cinema. Acho que estimula essa coisa do pensamento. A praia é muito óbvia”, divaga, sem deixar de reafirmar sua paixão por Minas e pelos mineiros.
Os efeitos do tempo
[FOTO2]
Em uma edição em que a discussão sobre processos pontua os debates, a sessão de estreia da Mostra de Cinema de Tiradentes, no Cine Praça, foi exemplar. O documentário 'Cidade de Deus', dez anos depois mostra o que ocorreu com a vida de alguns dos atores que participaram do longa que consagrou Fernando Meirelles. Fica claro o quanto o processo de construção de uma carreira artística, depois do sucesso nacional e internacional do filme, não foi igual para todos. Nem o resultado.
A praça do Largo das Forras estava lotada como há muito não se via na cidade. Dirigido por Cavi Borges e Luciano Vidigal, o filme promove o reencontro da plateia com Leandro Firmino, o Zé Pequeno – com alguns quilos a mais –, Alexandre Rodrigues, o Buscapé, e tantos outros personagens. Eles falam sobre a relação com a fama, a crueldade da realidade e o que fizeram com o dinheiro que ganharam com o filme. Entre os que conseguiram dar prosseguimento à carreira estão Débora Rodrigues e Leandro Dantas, hoje rostos conhecidos das novelas.
“O filme mostra o questionamento que a arte traz. A realidade é dura e poucas pessoas aproveitaram a oportunidade”, comentou o engenheiro Nélio Muzzi. “É uma retrospectiva muito interessante. A vida é feita de escolhas e é triste ver que alguns se perderam no meio do caminho”, lamentou a telefonista Rosemary Tomaz. “Foi legal ver como estão, ver o que fizeram com o dinheiro. Os atores e os personagens tinham vidas parecidas na ficção e na realidade”, disse o engenheiro Ramón Fraga Rezende.
A previsão é que o documentário chegue aos cinemas brasileiros entre junho e julho, dependendo da carreira internacional. Pelo menos 20 festivais estrangeiros já demonstraram interesse em exibir o filme.
* A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes
AURORA
Começa hoje a mostra queridinha dos críticos em Tiradentes, a Aurora, dedicada a jovens realizadores em início de carreira. O documentário 'A vizinhança do tigre', do mineiro Affonso Uchoa, será o primeiro dos sete concorrentes a ser exibido. Trata-se do principal evento competitivo da Mostra de Cinema de Tiradentes. O vencedor leva o Prêmio Itamaraty, no valor de R$ 50 mil.
HOJE NA MOSTRA
Cine Teatro Sesi
. 11h – Debate sobre 'Passarinho lá de Nova Iorque'
. 12h15 – Debate sobre 'Amor, plástico e barulho'
. 15h – Perspectivas para o audiovisual brasileiro em 2014: foco na indústria
. 17h – Oportunidades para o cinema brasileiro na Europa
CINE TENDA
. 16h30 – Sessão de curtas
. 18h – Sessão de curtas
. 19h30 – Mostra Aurora – 'A vizinhança do tigre', de Affonso Uchoa
. 22h30 – Sessão de curtas – Mostra Foco
TENDA BAR SHOW
. 0h30 – Show Transmissor