Pelo visto, os diretores, produtores e distribuidores de cinema descobriram mesmo que rir é o melhor remédio. As comédias conquistaram de vez o público brasileiro e em 2013 dominaram a telona, já que, dos 10 filmes nacionais mais rentáveis do ano, oito foram do gênero. Em 2014, o humor também promete.
Só para se ter uma ideia, Até que a sorte no separe 2 – que conta a história de um casal que fica rico da noite para o dia devido a uma herança – alcançou em menos de um mês quase 3,5 milhões de espectadores, além de ter sido o maior lançamento de filme brasileiro da história, com 734 salas, mais do que as 700 de Tropa de elite 2. Outro lançamento recente, a comédia Muita calma nessa hora 2, também vem registrando números expressivos. Só entre as exibições de pré-estreia e da semana de estreia registrou 310 mil espectadores.
O filão é tão lucrativo que até mesmo produtoras que nunca tinham investido no gênero resolveram se arriscar, como é o caso da Gullane, que está por trás da sequência estrelada por Leandro Hassum. Acostumado a produzir documentários, dramas e filmes “cabeça”, a empresa “leu os sinais do mercado” e achou que estava na hora de fazer a sua primeira comédia. “E começamos com o pé direito, porque a franquia Até que a sorte nos separe é um sucesso. Estamos bem animados, preparando o terceiro filme para 2015. Estamos muito contentes com o longa e com esse apetite do público. Descobrimos que fazer comédia é algo muito sério e esse fenômeno todo é resultado do amadurecimento do mercado, seja dos produtores, diretores, roteiristas ou distribuidores”, afirma Fabiano Gullane, um dos sócios da produtora.
Até que a sorte apenas abriu a porteira do que vem por aí ao longo do ano. Ainda são esperados longas-metragens como Minha mãe é uma peça 2, S.O.S. mulheres ao mar, Meus dois amores, Os caras-de-pau, Doidas e santas, Os homens são de Marte… e é para lá que eu vou, O candidato honesto, Copa de elite e Vestido para casar, entre outros.
Proprietário e diretor da Dowtown, uma das principais empresas de distribuição de filmes nacionais, Bruno Wainer credita todo esse êxito ao fato de a comédia ser o primeiro dos gêneros que conseguiu se profissionalizar no cinema brasileiro. Além do fato de ter muitos talentos que estão treinando e exercitando em outras mídias, como teatro, internet e televisão, não só atuando, mas também escrevendo. “Outros tipos de produção, como uma cinebiografia, por exemplo, exigem mais tempo, dinheiro e trabalho, porque tem reconstituição de época, direitos autorais e outras questões. No caso de thrillers, como Tropa de elite, não há uma grande oferta de roteiristas. E as comédias exigem orçamento muito mais em conta e o retorno é muito melhor”, frisa.
Já o especialista em mercado de cinema Paulo Sérgio Almeida, diretor da Filme B, empresa de pesquisa e análise do mercado cinematográfico, diz que o momento áureo se deve a uma conjunção de fatores, sobretudo ao fato de tanta gente talentosa do humor estar em alta, e que a tendência é que isso perdure. “Em 2014, não devemos ter tantos lançamentos como 2013, mas isso oscila mesmo. Não significa um retrocesso de forma alguma. Podemos ter menos filmes, mas fazer até mais público. A comédia se tornou a melhor e a mais barata maneira de o cinema brasileiro enfrentar o blockbuster norte-americano. É por isso que vai continuar fazendo rir não só os espectadores, como também mercado, por muito tempo ainda”, diz.
Sem padrão
No entanto, Bruno Wainer faz questão de salientar que as comédias nacionais não se padronizaram e que esse tipo de comentário é até preconceituoso. Em sua opinião, cada produção é feita por um tipo de turma e segue um modelo próprio. Para ele, a Globo Filmes não está viciando o mercado, como muitos criticam. “A Globo Filmes é apenas uma parceira que utiliza suas ferramentas para divulgar. Ela não impõe nada. Cada filme tem elementos diferentes, com gente que veio das mais diferentes escolas e veículos. Não é apenas um programa de televisão que passa na telona. Quem diz isso é porque não entende e não acompanha o processo. É um preconceito colocar todas as comédias como se tivessem saído da mesma panela”, desabafa.
A produtora Mariza Leão, responsável por obras como a franquia De pernas por ar e Vendo ou alugo, também fala sobre o papel da coprodutora, que é como o braço cinematográfico da TV Globo. Ela lembra que a empresa não é uma formatadora de projetos, não apita no conteúdo e que pode até fazer algum acompanhamento artístico. Entretanto, ela assegura que a decisão final é dos diretores e que a Globo Filmes basicamente investe em mídia. Mariza também crê numa certa discriminação com relação ao gênero, mesmo batendo recordes de público e bilheteria. “Isso existe desde os tempos da Atlântida, do Mazzaropi. As produções eram consideradas um lixo e hoje viraram cult. Sempre teve muito preconceito com relação ao humor. Mas todo mundo tem direito de gostar ou não. Cada gênero tem um tipo de proposta e obter isso é que é o grande desafio”, analisa.
No entanto, os especialistas garantem que comédia não é necessariamente sinônimo de sucesso. E filmes como Se puder… dirija, Giovanni Improtta, A casa da mãe joana 2 e até Odeio o dia dos namorados, de Roberto Santucci, diretor de arrasa-quarteirões do humor como De pernas pro ar e Até que a sorte nos separe, são exemplos de produções que ficaram bem abaixo do rendimento esperado.
Fabiano Gullane, da Gullane Filmes, lembra que, independentemente do gênero, para obter sucesso é preciso ter muita qualidade, sobretudo porque o público brasileiro é bastante exigente. “Brinco que uma produção precisa ter 50% de uma boa história, 50% de um grande elenco, 50% de um bom diretor, 50% de cenário, 50% de fotografia… Ou seja, absolutamente todos os itens são importantes. Tem que fazer direito, e se isso acontecer o sucesso virá com certeza”, justifica.
Mercado nacional
2013 » 126 filmes nacionais lançados, sendo 15 comédias
2014 » Previsão de lançamento de 100 longas, sendo oito comédias (dados preliminares)
Fonte: Filme B
VEM AÍ - Comédias que estreiam em 2014
Fevereiro
>> Meus dois amores. Com Caio Blat, Maria Flor, Alexandre Borges, Lima Duarte, Vera Holtz, Milton Gonçalves.
Março
>> S.O.S mulheres ao mar. Com Giovanna Antonelli, Reynaldo Gianecchini, Fabíula Nascimento, Marcelo Airoldi, Emanuelle Araújo.
Abril
>> Copa de elite. Com Marcos Veras, Rafinha Bastos, Alexandre Frota, Anitta, Latino, Bruno de Lucca.
>> Julio sumiu. Com Lília Cabral, Fiuk, Carolina Dieckmann, Augusto Madeira
>> Os homens são de Marte... e é para lá que eu vou. Com Mônica Martelli e Paulo Gustavo.
Julho
>> Doidas e santas. Com Cissa Guimarães.
Agosto
>> A esperança é a última que morre. Com Dani Calabresa, Gregório Duvivier, Katiuscia Canoro, Leandro Hassum.
Setembro
>> O candidato honesto. Com Leandro Hassum
Outubro
>> Vestido para casar. Com Leandro Hassum.
>> A comédia divina. Com Mariana Ximenes e Caco Ciocler.
Novembro
>> Meu mundo quebrado. Com Fábio Assunção, Ingrid Guimarães, João Assunção.
Dezembro
>> 220 volts – o filme. Com Paulo Gustavo
>> Minha mãe é uma peça 2 – Com Paulo Gustavo.
>> Os caras-de-pau. Com Leandro Hassum e Marcius Melhem.
"Descobrimos que fazer comédia é algo muito sério e esse fenômeno todo é resultado do amadurecimento do mercado"
Fabiano Gullane, produtor da Gullane
"A comédia se tornou a melhor e a mais barata maneira de o cinema brasileiro enfrentar o blockbuster norte-americano"
Paulo Sérgio Almeida, diretor da Filme B
"É um preconceito colocar todas as comédias como se tivessem saído da mesma panela"
Bruno Wainer, diretor da Dowtown
“As produções eram consideradas um lixo e hoje viraram cult. Sempre teve muito preconceito com relação ao humor”
Mariza Leão, produtora da Globo Filmes
Comédias confirmam bom momento e começam o ano com recorde histórico
Produtores garantem que sucesso se deve à profissionalização do setor e que a tendência veio para ficar