“A gente sempre sonha chegar a este lugar. Mas de sonhar até realmente acontecer são outros quinhentos”, diz Cançado, de 35 anos, há 10 morando nos Estados Unidos. Formado em publicidade pela PUC Minas, ele trabalhava com vídeo no Brasil até decidir fazer cursos breves em Los Angeles. Ficou por lá. Além de funcionário da Luma, ele dá aulas na Gnomon School of Visual Effects.
Alexandre contabiliza 48 longas-metragens e séries em seu currículo, lançados desde 2005. Essa trajetória começou na Luma como artista júnior. Cinco anos depois, o mineiro assumiu a liderança da equipe de iluminadores e finalizadores. Como supervisor de 2D, ele coordena o trabalho em fragmentos dos filmes sob responsabilidade do estúdio, especializado em computação gráfica. “É a parte mais técnica. A integração faz a coisa o mais real possível na hora da projeção”, explica.
Tudo o que não pode ser filmado é totalmente recriado no computador. E deve parecer o mais verdadeiro possível. Envolvido com grandes produções, Alexandre Cançado já não se surpreende com o que vê nos EUA. No início, a estrutura do cinema comercial americano chamou sua atenção. “São coisas tão grandes e elaboradas... Pode-se demorar meses para criar o cenário de uma cena que vai durar um segundo”, observa.
O trabalho é minucioso e imprevisível. Na telona, o reflexo no capacete de um piloto para parecer que ele está voando não chama a atenção dos espectadores. Para Alexandre e seus companheiros de equipe, aquele detalhe custou dias e dias de labuta. A empreitada é coletiva, reforça ele.
A Luma Pictures trabalha em duas bases, em Los Angeles e na Austrália. Cerca de 150 profissionais cuidam de cerca de 20% a 30% de cada projeto. No caso de 'Capitão América: O soldado invernal' foram cerca de três meses de trabalho. Alexandre Cançado analisa com cautela a febre de efeitos visuais nas telas. “Os novos diretores ficam tão apreensivos com explosões e ação que pecam um pouco na história. Isso não deveria ocorrer. Uma coisa não faz a outra ficar melhor”, adverte.
Tecnologias como 3D e Imax, além do abuso dos efeitos, têm contribuído para criar mundos paralelos para os espectadores. Mas as inovações devem ser encaradas com cuidado. Alexandre Cançado avisa: esse tipo de produção deve evoluir. “A questão maior discutida por aqui é o fato de investimentos para a criação de efeitos não crescerem na mesma proporção de seu uso. Querem fazer filmes mais complexos e difíceis, mas com menos dinheiro”, critica.
De acordo com ele, apesar de a computação gráfica ser quase fundamental para o modelo hollywoodiano, esse departamento é tratado com menos importância pela indústria. De fato, premiações importantes, como o Globo de Ouro e o Oscar, destacam atores e diretores, embora seja bem maior o time necessário para levar a trama para a tela.
Alexandre lembra que cerca de 1 mil pessoas chegam a trabalhar com efeitos especiais. Na hora de colher os louros, nem 15 da equipe são convidados para pisar nos famosos tapetes vermelhos...
De todos os 49 filmes em que o mineiro trabalhou, o mais marcante foi 'The avengers – Os vingadores'. “Foi uma coisa épica estar com todos eles ali”, lembra Cançado. Na lista dos preferidos, 'Homem de Ferro' tem posição de destaque. Em casa, ele guarda com carinho os longas cujas fichas técnicas trazem seu nome.
Para Alexandre Cançado, o futuro é promissor. “A magia nem começou. Estamos no início, fazendo coisas em que ninguém acreditava. Há cinco anos não se imaginava que o negócio ficaria tão benfeito. “Nem eu acredito que algumas daquelas cenas saíram do meu computador”, confessa.
BASTIDORES
THOR
Para trabalhar no projeto de 'Thor: O mundo sombrio', Alexandre Cançado se mudou para a Austrália. Ficou sete semanas até finalizar 30% das cenas do longa. Uma delas é a chegada do Homem de Pedra (foto). “Fizemos a iluminação e todo o desenvolvimento das pedras, até a textura”, conta. A equipe da Luma Pictures recebeu o material com um homem com perna de pau. Apesar de pouco realista, isso serviu de norte para o posicionamento do personagem. “Eles falaram: a gente quer o Homem de Pedra ali, fazendo mais ou menos isso. A partir daí criamos esqueletos e a parte da textura. Depois colorimos.”
ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ
Efeitos especiais não são empregados apenas em filmes de herói ou aventuras fantásticas. Os premiados irmãos Coen estão entre os clientes de Alexandre Cançado. “Há efeitos invisíveis, não é para você saber que tem efeito ali. Ou seja, quando uma cidade deve aparentar ser mais antiga, removemos alguns prédios”, explica. No caso do longa 'Onde os fracos não têm vez' (2007), que ganhou o Oscar, o brasileiro ajudou a construir a cena em que o personagem atira em veados (foto). “Todos os animais foram criados por computador”, revela. Cançado trabalhou também em 'Um homem sério' (2009), outro longa dos irmãos Coen.
• Principais projetos
» Capitão América 2: O soldado invernal
» Thor: O mundo sombrio
» Walt nos bastidores de Mary Poppins
» Red 2: Aposentados e ainda mais perigosos
» Homem de Ferro 3
» G.I. Joe: Retaliação
» Oz: Mágico e poderoso
» Prometheus
» The avengers – Os vingadores
» Capitão América: O primeiro vingador
» X-Men: Primeira Classe
» Thor
» Percy Jackson e o ladrão de raios
» Um homem sério
» Harry Potter e o enigma do príncipe
» Onde os fracos não têm vez
» Piratas do Caribe: no fim do mundo
Mineiro Alexandre Cançado ajuda a criar cenas de 'Thor', 'Capitão América' e 'Homem de Ferro'
Radicado nos EUA, ele diz que a magia dos efeitos especiais nem sequer começou
Para os fãs do Capitão América, um recado: a nova sequência do herói na telona não deve desapontar – pelo menos no quesito efeitos visuais. Quem garante é o mineiro Alexandre Cançado, supervisor de 2D da Luma Pictures – empresa responsável pela computação gráfica de 'Capitão América: O soldado invernal', 'Walt nos bastidores de Mary Poppins' (com estreia marcada para fevereiro), 'Thor: O mundo sombrio' e 'Homem de Ferro 3'.