Baseado na peça de teatro de mesmo nome ('August: Osage County'), de Tracy Letts (o Andrew Lockhart de 'Homeland'), o longa dirigido por John Wells disseca relações de poder e controle presentes no núcleo mais íntimo de nossas vidas. Embora a tradução para o título em português seja homônima de uma das peças de Nelson Rodrigues, não há nada em comum no enredo. A não ser o fato de revelar mistérios disfarçados sob a imagem de felicidade e harmonia registrada no porta-retrato da sala.
É da sempre poderosa Meryl Streep o papel da matriarca Violet Weston, fumante compulsiva, diagnosticada com câncer, viciada em calmantes e adepta da verdade, doa a quem doer. O sumiço do marido, o poeta Beverly Weston (Sam Shepard) reúne novamente as três filhas, Bárbara (Júlia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis). É aí que o clima esquenta mais que a temperatura de agosto em Oklahoma.
'Álbum de família' registra em sua fotografia a cor da poeira que cobre o afeto daquelas pessoas. O figurino é velho, feio, decadente. A presença de Meryl Streep no elenco eleva a expectativa em relação às interpretações. Sumida da telona, Julia Roberts ganhou um presente com Bárbara. Não só por contracenar com a atriz de quem diz ser super fã, mas por poder revelar capacidade dramática para além do rosto bonito (o que, aliás, nem está tão lindo assim mais).
Como era de se esperar, Meryl, a recordista de indicações ao Oscar, confirma o talento na criação de mulheres complexas. Sua Violet é frágil, embora não admita tal característica. Essa negação a transforma em criatura amarga, contaminando quem a cerca.
Os diálogos de 'Álbum de família' são mordazes. O que Violet Weston fala, parece navalha. É falha do roteiro, também assinado por Tracy Letts, não desenvolver conflitos pontuais lançados ao longo da narrativa. Desse modo, a relação entre a mãe e a filha mais velha é a que ganha contornos mais definidos.
As herdeiras se dão conta do quanto o comportamento da mãe interferiu - e continua interferindo - em suas personalidades, no modo como moldam suas relações. Mas enquanto as irmãs optam por não encarar a realidade, a primogênita é quem vive a fundo o embate com a matriarca. Como diz a canção de Belchior, sua dor é perceber que apesar de ter feito o que estava a seu alcance, permanece a mesma e vive como os próprios pais. Ou melhor, como espelho da mãe. E isso é assustador.
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