Las Acácias põe diante do espectador mais uma situação do que uma trama: o caminhoneiro Rubén (Germán De Silva), que transporta madeira entre Assunção (Paraguai) e Buenos Aires (Argentina), certo dia dá carona a uma mulher desconhecida, Jacira (Hebe Duarte), que tem com ela um bebê de colo (Nayra Calle Mamani). Ao longo do filme, o que se vê é a viagem da dupla, estranhos como pessoas que dividem o banco em um ônibus qualquer. E mostrada com total objetividade: imagens diretas, poucos diálogos, sons incidentais (não há músicas), ar livre e paisagens passando pelas janelas do veículo.
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Que ninguém imagine que 'Las Acácias' é filme árido. Pelo contrário é impressionante como, com mestria, Pablo Giorgelli consegue conduzir, com precisão absoluta e economia de recursos expressivos, a situação que coloca na tela, construindo filme singular. Frustada a expectativa de história inesperada, resta ao espectador observar detalhes. O confinamento dos personagens em cenário restrito (a cabine de um caminhão) dá proximidade, visibilidade e outra dimensão ao que parece condenado a permanecer invisível: pequenos gestos, silêncios, respirações, sentimentos que escapam às palavras.
Não há uma única cena do início ao fim do filme supérflua ou inexpressiva. 'Las Acácias' foge inclusive aos rótulos: não é um drama, como diz a ficha técnica, mas um dos mais delicados filmes sobre relacionamentos entre homem e mulher já mostrados pelo cinema. O rigor de construção do filme é tão notável que o espectador experimenta inclusive os distintos momentos de uma viagem (da expectativa do início ao cansaço ao termino da jornada, passando por alguma intimidade, com o correr do tempo, com o passageiro ao lado) em filme de duração curta (1h25).
É muito saboroso, ainda, o modo como o diretor prefere enfatizar um momento do relacionamento dos personagens, evitando generalizar ou simplificar a história. Sintético, realista, esbanjando sensibilidade na exploração do tempo e de todos os elementos cinematográfico, 'Las Acásias' fala de modo simples de coisas complexas. Para o diretor, assim como para o poeta T.S. Eliot (1888-1965), a vida é um suspiro e não uma explosão. Em vez de tragédias, violências vis, arroubos emocionais, argumenta a favor de acasos felizes e expectativas boas. E elas chegam para mostrar sua força.
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O diretor
Pablo Giorgelli tem 46 anos, nasceu em Buenos Aires, é diretor, roteirista e montador. Estudou direção de cinema na Universidade do Cinema (Argentina), criada por Manuel Antín. Os primeiros filmes foram curta-metragens e documentários. 'Las Acácias' é o primeiro filme de ficção. Selecionado para a Semana dos Críticos do Festival de Cannes de 2011, e ganhou o Câmera D’Or, prêmio concedido ao melhor filme de estréia de um diretor. Venceu, ainda os festivais de San Sebastian, Oslo, Lima, Biarritz, Bergen, do British Film Institut e ganhou prêmio da Associação Argentina de Críticos de Cinema.
Assista ao trailer de 'Las Acácias':