Cinema

'Gravidade' alia o talento dos atores a bom roteiro

Diretor Alfonso Cuarón faz bom uso da tecnologia na nova trama. Ausência de aeronaves arrojadas leva ao distanciamento da maioria dos filmes de ficção científica

Carolina Braga

Sandra Bullock é a engenheira Ryan Stone e George Clooney, o astronauta Matt Kowalski
Quando sobem os créditos de 'Gravidade', novo filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón, muita gente deve se perguntar: como ele conseguiu fazer isso? Sim, porque durante os 90 minutos nos quais narra a saga espacial da engenheira Ryan Stone (Sandra Bullock) e do astronauta Matt Kowalski (George Clooney) não dá para pensar muita coisa. Trata-se muito mais de um longa de sensações do que de ações. Não há sequer espaço para elucubrações filosóficas.


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É incrível como, mesmo assim, o filme consegue prender a atenção. Essa habilidade merece destaque. Não existem tramas paralelas, são apenas dois personagens, poucos conflitos e é difícil dispersar. 'Gravidade' se distancia da maioria dos filmes de ficção científica pela ausência de glamour com que mostra naves e demais apetrechos do espaço. Lírica só mesmo a bela vista para a Terra e o nascer do Sol. De resto, não tem porta que desliza sozinha, botões que fazem milagres, muito menos foguetes ultra-sônicos.

Claro que há efeitos especiais na construção daquele universo, mas eles acabam passando despercebidos tamanha a realidade que reproduzem. E está justamente aí o mérito de Alfonso Cuarón. 'Gravidade' começa com um plano sequência a partir da imagem do planeta. Pouco a pouco, a câmera flutua junto com os astronautas e vamos junto numa espécie de coreografia no espaço. São poucos – e precisos – os cortes que ele faz nas cenas.

Na história, enquanto Ryan Stone estreia em uma operação para consertar o telescópio Hubble, o bem-humorado Matt Kowalski a auxilia, já pensando na aposentadoria. Mesmo em fim de carreira, não deixa de contemplar a paisagem e pensar no que significa a humanidade vista dali. É um discurso sem peso, ou melhor, sem gravidade. Tudo corre bem até que a dupla é surpreendida por uma chuva de destroços de um satélite. Atingidos, os profissionais se dispersam em meio ao sistema solar. Não adianta gritar, muito menos espernear.

O roteiro assinado pelo diretor e seu filho, Jonas Cuarón, é inteligente em não apenas apresentar essas situações – angustiantes por natureza – mas principalmente em não dar qualquer pista se elas serão ou não resolvidas. A fórmula do início, meio e fim, é quebrada com um climax entre eles. A tensão é permanente. A trilha sonora, por exemplo, não potencializa nada. Pelo contrário. O silêncio “soa” muito mais duro. Seja a música, a fala ou a ausência absoluta de som, cada elemento tem um papel a cumprir. Cuarón parece estar no controle disso.

Tensão

Destaque também as atuações de Sandra e Clooney. Mais uma vez, a atriz que se tornou conhecida por comédias românticas tem a chance de mostrar sua versatilidade. É totalmente sem maquiagem e com muito preparo físico que ela compõe a mulher frágil e ao mesmo tempo corajosa diante de dilema de tal envergadura. Bullock praticamente sola em Gravidade. Se não fica chato é porque ela dá conta do recado. Já Clooney, nos momentos em que contracena com a atriz, não dispensa o ar galanteador, mesmo com todo o aparato do astronauta. Ainda bem. É ele quem consegue aliviar um pouco o clima de tensão que domina a tela.

'Gravidade' é daqueles filmes que você precisa ver no cinema. Eis outro ponto a favor da criação de Alfonso Cuarón. O longa consegue explorar a tecnologia 3D de tal maneira que a ida à sala escura não será apenas um encontro entre amigos, saída corriqueira entre namorados, ou um programa comum de qualquer cinéfilo. Será, com certeza, uma experiência diferente.

O dedo do criador

'Gravidade' estreou no Festival de Veneza de 2013 e, desde então, desponta como um dos favoritos da temporada americana de prêmios. Críticos internacionais também se derretem pelo novo trabalho de Cuarón. Das 48 críticas publicadas no site especializado Metacritic, não há nenhuma negativa. A nota média atribuída ao longa pelos profissionais é de 96 em 100. Para se ter uma ideia do que isso significa, a nota de Argo, o vencedor do Oscar de melhor filme este ano, é 86.

O filme de Cuarón é do tipo que carrega em cada detalhe o dedo de seu criador. De acordo com as curiosidades publicadas no site IMDB, ele mesmo acompanhou de perto a decisão sobre os efeitos especiais. O nível de exigência era tanto, que as cenas em que os personagens caminham no espaço foi feita com a ajuda do computador. Como a ideia era ter o reflexo da Terra no capacete, primeiro filmaram as expressões dos atores e depois incluíram as imagens da paisagem.

Entre as vozes entusiasmadas na torcida de Gravidade, destaca-se o diretor James Cameron. Para ele, é o "melhor filme de espaço já realizado". Com todo respeito a Kubrick e seu 2001: Uma odisseia no espaço, e outros tantos cineastas que um dia exploraram o espaço em suas obras, o criador de Titanic e Avatar tem razão.


Assista o trailer: