Contar com uma atriz da envergadura de Fernanda Montenegro em um projeto não é para qualquer um. O diretor Jayme Monjardim diz que sempre teve noção desse privilégio. Não à toa, a versão que ele faz para cinema de 'O tempo e o vento' aposta pesado na presença dela, especificamente na tonalidade da voz, na cadência e, óbvio, na experiência com que nos conta essa que é história clássica da literatura brasileira.
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Este é o segundo filme dirigido por Jayme e, curiosamente, a segunda adaptação literária. A primeira foi a biografia de Olga Benário. Em ambos os trabalhos, ele se valeu da experiência que tem com a TV e praticamente não propôs novidades ao seu estilo. Por exemplo, assim como nas novelas, as longas tomadas com céu colorido pelo pôr do sol ou mesmo paisagens naturais recheiam 'O tempo e o vento'. Os planos também são convencionais assim como a trilha sonora.
Com orçamento de R$ 13 milhões, o longa é fiel na recriação da época. Nesse aspecto, destaque para o figurino, tanto o das mulheres, com vestidos delicados, como as vestimentas dos homens, muitos deles trajando as bombachas gaúchas.
Sendo Ana Terra (Cléo Pires) e Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda) os dois personagens mais famosos de O tempo e o vento, é natural prestar mais atenção neles. O elenco, no entanto, é cheio de rostos conhecidos: Marjorie Estiano, Luiz Carlos Vasconcelos, Leonardo Medeiros, entre outros. Cléo teve tarefa árdua, já que papel foi muito bem defendido pela mãe na TV. A “nova” Ana Terra é diferente: mais sensível, mais sensual.
Curiosamente, no meio da trama a atriz é substituída por Suzana Pires, que nem aparenta ser tão mais velha assim. Ou seja, sem apostar na maquiagem para marcar a passagem do tempo, Monjardim investe em um “truque” da televisão que soa exagerado e desnecessário na telona. Ainda mais sendo O tempo e o vento uma produção tão esmerada em detalhes. Thiago Lacerda como capitão Rodrigo é cativante. O ator teve personalidade para compor o forasteiro, ex-combatente, capturado pelo amor de Bibiana, que decide enfrentar os chefes locais para ficar na recém- criada cidade de Santa Fé.
Mesmo que o filme opte por narrar a história a partir do ponto de vista da ansiã Bibiana, o roteiro assinado por Letícia e Tabajara Ruas não deu conta de lidar com os saltos temporais muito marcados na literatura de Veríssimo. Apesar de ter como trunfo uma potente narração – como é a de Fernanda Montenegro – para conduzir a saga, os frequentes saltos temporais comprometem a fluidez.