É um caso raro e Wagner Moura sabe disso. A história dele em Hollywood não começou de modo tradicional. Primeiro porque, por pura competência e não sorte, o ator pulou a mais cruel das etapas na vida dos intérpretes à caça de papéis: a dos testes. O brasileiro recebeu um convite do diretor sul-africano Neill Blomkamp, fã confesso de 'Tropa de elite', para atuar em 'Elysium'. E olha, o baiano era praticamente um desconhecido em terras estrangeiras.
A demonstração de que isso não é tão corriqueiro por lá é que a experiência de Alice Braga com o filme foi completamente diferente, mesmo tendo um currículo internacional mais extenso do que o dele. “Foi o Wagner que falou de mim para o Neill. Eu também já sabia do projeto e fiquei atrás, mandei e-mail para ele, procurei saber”, conta Alice. De uma maneira ou de outra, a química entre Brasil e África do Sul em domínio norte-americano não só deu certo como também é um dos pontos fortes de 'Elysium'. O filme estreia sexta-feira no Brasil.
Com todo o respeito a Matt Damon, que vive o protagonista Max, Wagner Moura rouba a cena com seu Spider, um homem complexo, que vive no limiar do bem e do mal. A nova ficção científica do mesmo diretor de 'Distrito 9' se passa em 2154. Quando todos os recursos naturais da Terra já não existem, os humanos que aqui restam vivem em situação de miséria.
Já os ricos habitam Elysium, uma espécie de planeta construído como um grande condomínio de luxo, dotado de alta tecnologia. As máquinas são capazes de curar qualquer tipo de doença e viver no mundo fabricado é o sonho de todo terráqueo. O problema é conseguir cruzar a Via Láctea e quebrar a poderosa barreira de segurança.
É aí que Spider entra em cena. Wagner Moura interpreta uma espécie de perueiro das galáxias. Cobra fortunas para transportar pobres mortais até Elysium. Além disso, é o autor do plano capaz de combater a tão desproporcional desigualdade social. “'Elysium' é um filme-pipoca, mas com uma mensagem social muito importante”, destaca o ator.
Embora leve o espectador para 2154, o longa fala sobre corrupção política, abuso de poder militar, espionagem e roubo de dados estratégicos. Semelhanças com o presente não são meras coincidências e foi esse frescor que atraiu a atenção do ator brasileiro. Claro que realizar um projeto nos EUA seduz, mas para ele não poderia ser qualquer um.
“No fim das contas, vi que fazer cinema é igual em todo lugar. A grande diferença é a quantidade muito maior de dinheiro que a indústria americana dispõe para isso, que é muito superior à realidade do cinema brasileiro”, comenta. Não parece haver qualquer deslumbre na relação de Wagner Moura com 'Elysium'.
Sendo o dinheiro a principal diferença no modo de fazer cinema, o ator baiano – que se vira muito bem no inglês – fez por lá o que costuma fazer quando filma no Brasil. Ou seja, criou personagem certamente mais rico que o registrado no roteiro. Aos 34 anos, Neill Blomkamp é tido como diretor aberto às sugestões de seus intérpretes. “ Ele nunca tinha pensado em Spider como um cara que mancava e usava muletas, por exemplo. Durante a minha construção do personagem, imaginei Spider de uma forma e a apresentei a Neill, que me disse que, embora tivesse pensado em algo totalmente diferente, tinha gostado da minha sugestão e a acatou. Isso é só um exemplo da troca boa que tive com Neill”, diz Wagner.
“Nunca tinha trabalhado com alguém tão jovem e foi muito interessante. É inspirador ver alguém fazendo esse sucesso artístico. Uma pessoa que tem o talento que tem e que o desenvolveu de uma maneira brilhante”, elogia Alice Braga. Ela interpreta Frey em 'Elysium', uma enfermeira em busca da cura para a leucemia da filha.
Embora não contracenem, Alice e Wagner fizeram companhia um ao outro durante as filmagens em Vancouver, no Canadá, e na Cidade do México. “Foi um superprazer participar de 'Elysium' e trabalhar com o Wagner, que é um irmão, um amigo que amo. Estar junto, vê-lo arrebentando, mostrando a que veio, foi muito especial”, comemora.
Foi Alice quem acompanhou o ator ao hospital quando foi diagnosticado com pneumonia. “É engraçado isso, quase sempre fico doente quando termino um projeto grande. Talvez seja realmente o meu nível de entrega aos personagens”, reflete Wagner, que também machucou o joelho esquerdo em uma das cenas. “Vendo 'Elysium' pronto, acho que tudo isso valeu a pena. Fiquei muito feliz com o resultado. Neill realmente conseguiu transpor para a tela o que imaginei lendo o roteiro”, reconhece Wagner Moura.
Marighella é o próximo desafio
'Elysium' foi o abre-alas da carreira internacional de Wagner Moura. “Acabei de filmar 'Trash', que deve estrear no fim de 2014 ou início de 2015”, conta o ator. Detalhe: 'Trash' é dirigido pelo inglês Stephen Daldry, que tem no currículo obras indicadas ao Oscar como 'Tão forte e tão perto' (2011), 'O leitor' (2008) e 'As horas' (2002).
No Brasil, o ritmo de trabalho do ator também é intenso. Em outubro, voltará às telas em 'Serra Pelada', longa dirigido por Heitor Dhalia. No ano que vem ele estará nas telas com 'Praia do futuro', de Karin Ainouz, rodado no Brasil e na Alemanha. “Tenho muito orgulho das minhas próximas três estreias, foram projetos ótimos, embora distintos”, comemora.
Também para o ano que vem, Wagner prepara a estreia na direção. Ele pretende contar a história do guerilheiro baiano Carlos Marighella (1911-1969). “Estou realmente muito feliz e empolgado com o filme e com mais este passo importante na minha carreira, dirigir meu primeiro longa. Acho que é a hora e a história certa. Tinha apenas assumido a direção em um clipe da cantora Vanessa da Mata. Encarar meu primeiro filme será um ótimo desafio”, confessa.
A agenda de Alice Braga também está carregada. Depois de divulgar 'Elysium' no Brasil e participar do lançamento do projeto transmídia 'Latitudes', no qual contracena com Daniel de Oliveira, a atriz embarcou para a Austrália. Por lá, vai rodar a produção independente 'Kill me three times', de Kriv Stenders.
Em cena
Por mais que os brasileiros Wagner Moura e Alice Braga chamem a atenção em Elysium, o elenco da produção tem outros destaques. Além de Matt Damon, Jodie Foster é a secretária Delacourt, uma autoridade do governo inflexível do planeta dos ricos. Também estão no filme Sharlto Copley, amigo de infância do diretor e astro de Distrito 9, e o mexicano Diego Luna.
Parceria
Alice Braga e Wagner Moura estreitaram os laços de amizade quando fizeram 'Cidade baixa' (2005), de Sergio Machado. O filme, que também tinha Lázaro Ramos completando um triângulo amoroso, é um dos trabalhos mais importantes da carreira dos atores. É a história de dois amigos que disputam o amor de uma prostituta em Salvador.
Assista ao trailer do filme: