O ator e vencedor do Oscar Michael Douglas, acostumado a ser visto vivendo papéis viris, se transforma em um brilhante pianista virtuoso, 100% gay e rei do bling-bling em 'Minha vida com Liberace' ('Behind the candelabra'), dirigido por Steven Soderbergh.
Apresentado em competição no Festival de Cinema de Cannes, de onde saiu de mãos vazias, apesar da boa recepção da crítica, o filme estreará nos cinemas de alguns países na próxima quarta-feira após ter aberto o Festival de Cinema americano de Deauville. No Brasil, a produção deve ser exibida na HBO.
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'Minha vida com Liberace' conta a história de Wladiu Valentino Liberace - Lee para os mais íntimos -, nascido em 1919. De 1950 até a década de 1970 ele foi o showman mais bem pago dos Estados Unidos, atraindo multidões, especialmente mulheres, para seus shows em Las Vegas ou especiais na televisão.
Um dia, em 1977, ele conheceu o jovem Scott Thorson (Matt Damon). Apesar da diferença de idade e origem social, os dois homens vivem juntos secretamente por cinco anos, até sua separação repentina. Ainda que o artista impusesse com sucesso sua ousadia, com figurinos chamativos, estava fora de questão na época revelar sua homossexualidade. Seus assessores, que inventavam supostas relações com mulheres, negaram em sua morte, em 1987, que a Aids havia o levado.
Para entrar no personagem , Michael Douglas conta que ficou ansioso, porque "não tinha o tamanho ou a estatura de Liberace". Ele também assistiu a uma série de documentários sobre este artista para imitar seu estilo de tocar, "porque eu não sou um pianista!"
Lançado apenas para a TV
Matt Damon , que tem várias cenas de nu durante o filme, assegura que "não hesitou nenhum instante sequer em concordar em filmar" pela sétima vez com Soderbergh. E acabar na cama com Michael Douglas? "Eu compartilhei com ele momentos que eu vivi com Sharon Stone, Demi Moore e outras", brincou.
Ao invés de uma "biografia", o cineasta se concentrou em um "período limitado" de sua vida, baseado no livro escrito por Scott Thorson.
Para Soderbegh não era tanto fazer um filme caricatural porque Liberace era "um grande músico". "Queríamos fazer algo realista, íntimo, algo com o qual podemos pensar que havia um vínculo real entre duas pessoas".
O filme mostra em repetidas cenas a "forte pressão" imposta sobre o casal, condenado a esconder seu relacionamento.
"O que me interessava era o personagem Liberace, e não as questões sociais", ressalta o cineasta, reconhecendo, porém, que o filme saiu em um momento crucial para os direitos dos homossexuais, quando 14 países permitem o casamento gay, assim como uma dúzia de estados dos Estados Unidos.
O filme foi produzido pelo canal a cabo americano HBO porque os estúdios estavam assustados com essa história. O próprio Steven Soderbergh não tinha certeza no início se o filme poderia atrair um público mais amplo do que a comunidade gay , confidenciou ao público da Croisette.
No final, o filme foi lançado nos Estados Unidos apenas na televisão: 11 milhões de telespectadores viram na HBO, de acordo com Soderbergh. O filme ainda teve indicação do Emmy 2013 de melhor ator coadjuvante para Scott Bakula, que vive um amigo gay que apresenta a personagem de Matt Damon a Liberace.
Para Michael Douglas, isso significa que "a indústria, os estúdios, geralmente não confiam no talento", disse ele a um repórter que lhe perguntou se ele achava que "Hollywood assume menos riscos hoje, do que há uma ou duas décadas".