Se Ben Affleck sofreu, por que não os pouco conhecidos Dakota Johnson e Charlie Hunnam? Depois do anúncio da dupla de atores como os intérpretes dos personagens Anastasia Steele e Christian Grey, o casal da trilogia Cinquenta tons de cinza, de E. L. James, a reação negativa foi imediata. Por meio de fan pages e blogs, os fãs dispararam reclamações virtuais. A campanha culminou com um abaixo-assinado no site Charge.org com o nome de “Queremos Matt Bomer e Alexis Bledel como Christian Grey e Anastasia Steele em 50 tons”, que rapidamente ganhou adesão mundial. Diante da resposta, a produtora da adaptação, Dana Brunetti, justificou a escalação: “Tem muito mais na escolha de elenco do que apenas a aparência. Talento, disponibilidade, a vontade de fazer, química entre
os atores”.
O abaixo-assinado, por sinal, foi a estratégia utilizada contra Affleck há algumas semanas. Só que, no do premiado ator e diretor, o pedido era única e simplesmente para removê-lo do papel de Batman (ele foi escalado para viver Bruce Wayne na sequência de O homem de aço). No caso de Cinquenta tons, desde que o sex-seller (o sucesso foi tanto que ele acabou dando origem a um subgênero do mercado editorial) teve anunciada sua adaptação cinematográfica, há pouco mais de um ano, houve uma corrida dos fãs pelos prováveis nomes para compor o elenco. Matt Bomer, conhecido pela série White collar, logo entrou na lista dos mais cotados. Já o papel de Anastasia teve muitas candidatas a intérprete: Emma Watson e Bledel (que ganhou fama com a Rory Gilmore da finada série Gilmore girls) entre as mais sugeridas.
A parte física (os atores são loiríssimos; os personagens têm cabelo escuro, para início de conversa) pesou muito na negativa dos fãs. “De cara não gostei nada, acho que as características físicas dos atores não condizem com as dos personagens”, afirma Israel Júnior, criador da fan page 50 tons de cinza, com 142 mil seguidores no Facebook. Ele passou um bom tempo on-line durante essa semana tentando conter a fúria dos seguidores da série erótica. “Minha caixa de mensagens ficou lotada. A cada postagem que fazia sobre os escolhidos, mais hostilizados eles eram. Tentei até amenizar, postando trabalhos anteriores dos atores, explicando que com a caracterização e a maquiagem eles iriam ficar bem na tela, mas não adiantou.”
Nem todos os fãs do empresário multimilionário que curte sadomasoquismo e da estudante virginal e um tanto inocente foram tão radicais. “Eles não são perfeitos, comparados com o que imaginei, mas também não são tão ruins”, contemporiza Olívia Amaral, da página virtual Garotas, Séries e Livros. Ana Luísa Hermetto, do blog Bicicleta de Algodão, vai além: “Achei a escolha bastante inusitada depois de tanta especulação em torno de nomes conhecidos como Ryan Gosling, Ian Somerhalder, Emma Watson e Alexis Bledel. Mas sabe que eu achei bacana? Pois os dois são personagens tão fortes e conhecidos do público, e não seria legal escolher atores já estigmatizados por outros personagens”.
Berço Se for por esse viés, não tem como não dar certo, já que o currículo de Dakota Johnson e Charlie Hunnam é restrito. Dakota, que completa 24 anos em outubro, é de uma família de loiras que fizeram história no cinema. É neta de Tippi Hedren, musa de Alfred Hitchcock em Os pássaros e Marnie, Confissões de uma ladra. A mãe da atriz e modelo é Melanie Griffith, que antes de entrar numa roda-viva de intervenções cirúrgicas viveu personagens marcantes na década de 1980, com destaque para a misteriosa mulher de Dublê de corpo, de Brian De Palma. Quanto a Dakota, por ora o mais marcante que a filha de Don Johnson e enteada de Antonio Banderas fez foram pequenas participações em A rede social e Anjos da lei.
Já Charlie Hunnam está em alta no momento, pois protagonizou Círculo de fogo, superprodução de Guillermo Del Toro atualmente em cartaz. Seu nome havia rondado as listas dos possíveis Christian Grey. Britânico de 33 anos, fez algumas séries de TV: Sons of anarchy e Queer as folk, entre elas. A adaptação de Cinquenta tons, dirigida por Sam Taylor-Johnson (de O garoto de Liverpool), tem estreia prevista para 1º de agosto do ano que vem nos EUA. Até lá, muita polêmica ainda deve ocorrer. Para a produção do filme, quanto mais barulho, melhor. Mesmo que seja por pouca coisa.
• Sex-sellers nas telas
» Cretino irresistível
Publicado em julho pela Universo dos Livros, o primeiro livro da série de Christina Lauren tem figurado, nas últimas semanas, nas listas dos 20 mais vendidos do país (a série já conta com outros cinco títulos, ainda não lançados no país). Na verdade, o nome que assina a publicação é a junção do prenome das autoras: Christina Hobbs e Lauren Billings. Fãs da série Crepúsculo, escreveram o livro como uma fanfiction dos personagens de Stephenie Meyer (na primeira versão, o título era The office). Só que o clima é muito mais 50 tons. Um CEO superexigente e sua estagiária ambiciosa começam um relacionamento no ambiente de trabalho. O fim não é diferente do de nenhum dos sex-sellers do gênero. Cretino irresistível (o título original é Beautiful bastard) teve seus direitos de adaptação comprados pela Constantin Film, mesma companhia que lançou Os instrumentos mortais – Cidade dos ossos. O produtor será Jeremy Bolt, que assinou a série Resident evil.
» Crossfire
Mais forte concorrente de Cinquenta tons (em vendagem e prestígio no meio dos sex-sellers), a série que nasceu logo depois da publicação dos livros de E.L. James (e sua autora, Sylvia Day, admite a “inspiração”) fez tanto sucesso que a trilogia programada ganhou mais dois volumes (estes ainda não publicados). A história é basicamente a mesma: superempresário com passado de abusos se apaixona por uma jovem que conhece no escritório. Não tem as cenas S&M de Cinquenta tons, mas carrega no sexo. Sylvia Day, escritora já conhecida entre os fãs do gênero, está em turnê no Brasil. Participou ontem de evento na Bienal do Rio e, até quarta-feira, participa de sessões de autógrafos também em Curitiba e São Paulo. Os direitos de adaptação da série (o primeiro volume ganhou no Brasil o título de Toda sua) foram comprados pela Lionsgate no mês passado. O estúdio é o responsável pelas adaptações das franquias de Crepúsculo e Jogos vorazes.
Sexo e vampiros
Lançada há um ano pela Editora Intrínseca, a trilogia Cinquenta tons de cinza, de E.L. James (foto acima), já alcançou os 3,8 milhões de exemplares vendidos no país. É um número mais do que robusto, mas ainda aquém do maior sucesso da editora carioca. A tetralogia Crepúsculo, de Stephenie Meyer, é responsável pela venda de 5,7 milhões de livros.