O documentário, aplaudido pela crítica e pelo público, é, na realidade, uma ode às pessoas invisíveis que vivem num lugar sem identidade mas que conserva, com dignidade, suas raízes: um ator de fotonovelas, um pescador, um enfermeiro, um príncipe com um castelo cafona, um nobre culto e uma estudante brilhante.
Rosi entrevistou e conviveu com todas essas personagens que vivem na periferia da capital italiana, uma localidade conhecida como Grande Raccordo Anulare (GRA), antes de pegar a câmera e filmar suas histórias.
"Dedico minha vitória às pessoas de meu filme que me deixaram entrar em suas vidas. Algumas são protagonistas involuntárias", declarou Rosi. Muito emocionado, ele agradeceu ao "mestre" Bernardo Bertolucci, presidente do Júri, por sua coragem de premiar um documentário pela primeira vez em Veneza.
Esta também foi a primeira vitória de um filme italiano desde 1998, quando o laureado foi "Cosi ridevano", de Gianni Amelio. "Todo o júri sentiu a força poética do filme. Só um festival como Veneza para dar espaço para os documentários, que sempre ficaram meio de lado", declarou Bertolucci. "A maneira como Rosi entra nesses mundos e nesses espaços tem algo de franciscano. Um toque de pureza, me recorda São Francisco", afirmou Bertolucci.
Sobre "The Unknown Known", outro documentário, dirigido por Errol Morris, sobre o ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos Donald Rumsfeld, o diretor de "O Último Imperador" brincou que "alguém do júri, com grande senso de humor, queria dar o prêmio de melhor ator para Rumsfeld".
O Grande Prêmio do Júri foi para o chinês Tsai Ming-Liang por "Jiaoyou" (Cães errantes), a história de um pai sem-teto e seus dois filhos, obrigados a vagar pelas ruas de Taipé. "Miss Violence", do grego Alexandros Avranas, levou o Leão de Prata de melhor direção pela história de uma família modesta e, aparentemente, sem dramas, mas que enfrenta o suicídio de uma filha de 11 anos.
Este filme também levou o prêmio de melhor ator para Themis Panou, que vive um pai abusivo. O prêmio de melhor atriz foi para a italiana Elena Cotta, pelo filme "Via Castellana Bandiera", primeiro longa-metragem da diretora siciliana Emma Dante.
O festival também concedeu ao filme do alemão Philip Gröning "A mulher do policial" o Prêmio Especial do Júri. O prêmio de melhor roteiro ficou com Steve Coogan e Jeff Pope para o filme do diretor britânico Stephen Frears "Philomena", que estava no topo da lista de favoritos para o Leão de Ouro.
"Philomena", que havia conquistado o público e os críticos, inspirou-se na história real de uma mãe solteira irlandesa (Judi Dench) que procura o filho que lhe foi tirado ao nascer. A crítica também destacou "Tom à la ferme", thriller psicológico do jovem prodígio canadense Xavier Dolan, sobre a relação de um publicitário com a família de seu namorado falecido.
O prêmio de revelação foi para Tye Sheridan por seu papel de filho de um alcóolatra em "Joe". Sheridan é um jovem de 16 anos que já havia brilhado em "A árvore da vida", de Terrence Malick. Desagregação familiar, incesto, mutilação, perda da esperança... esta 70ª edição de Veneza foi marcada por filmes muito sombrios, de uma grande diversidade e originalidade.
As vinte produções em competição acabaram sendo uma lente de aumento dos males da sociedade moderna, algo muito em contraste com o glamour do tapete vermelho, que, este ano, contou com a presença de astros como George Clooney, Sandra Bullock, Scarlett Johansson e Nicolas Cage.