De uma seara totalmente distinta é a obra de Wang Bing. “Um de seus filmes, 'A oeste dos trilhos' (1999/2003), tem nove horas. Como documentarista, ele observa o tempo quase como uma escultura”, diz Francesca. Neste filme, Bing filmou a decadência das usinas chinesa que produzem metais. Outro destaque do chinês é 'Petróleo bruto' (2008), com 14 horas de duração. “Ele observa como vivem os operários de uma estação de petróleo, que estão isolados. Não há uma narrativa, é um filme em tempo real.” Produções difíceis, como ela própria admite, serão exibidas em partes. “Pode se ver um pouquinho, não precisa ficar amarrado na cadeira”, continua Francesa, que acredita ser uma das funções do Indie exibir produções que fogem dos padrões.
Rural e horror A Indie Brasil traz como destaque maior a produção mineira 'Sopro', de Marcos Pimentel, estreante em longas. No documentário, ele filma a realidade de uma vila rural onde famílias vivem sem contato com o mundo exterior. O programa traz ainda duas produções dedicadas ao cinema de horror: 'Mar negro', de Rodrigo Aragão, que fecha a trilogia de horror iniciada com 'Mangue Negro' e seguida por 'A noite do chupacabras', e 'Zombio 2: Chimarrão zombies', de Petter Baiestorf.
O Indie é realizado pela Zeta Filmes, produtora criada há 15 anos em Belo Horizonte dedicada ao audiovisual. Hoje conta com sua própria distribuidora, que traz cinco títulos no catálogo. Dois deles, ambos em 3D, que não conseguiram espaço no circuito comercial da cidade, serão exibidos no festival: o documentário 'Caverna dos sonhos esquecidos', primeira incursão de Werner Herzog no formato e a animação 'Contos da noite', de Michel Ocelot (que terá sessão também em 2D). 'Caverna' teve um público de 20 mil pessoas em uma única sala de São Paulo. “Ainda que o ingresso de filmes em 3D seja mais caro, resolvemos passá-los gratuitamente no Indie em função do público”, finaliza Francesca.
Arte vence o tempo
Há mais de 30 mil anos, nossos ancestrais que viviam em região onde se localiza o Sudoeste da França, realizaram pinturas nas paredes de uma caverna. São representações de cavalos, leões, ursos, rinocerontes e bois em movimento. Um terremoto acabou provocando um deslize de parte da montanha e, com isso, congelou intactas as pinturas. Em 1994, por acaso, uma equipe de espeleólogos descobriu restos fossilizados de animais. Era apenas o início de uma descoberta impactante. Quando iluminaram as paredes, as magníficas pinturas rupestres reapareceram.
Como se trata de uma das maiores descobertas da área, desde então a caverna foi mantida fechada e restrita a poucos pesquisadores autorizados pelo governo francês. As gargantas da região de Vallon-Pont-d’Arc têm variadas cavernas, muitas com importância geológica ou arqueológica. Entretanto, a Caverna de Chauvet, como a descoberta ficou conhecida, se tornou incomum pela qualidade e estado de conservação das pinturas. O diretor alemão Werner Herzog recebeu a autorização para entrar com a equipe no lugar e realizou o documentário 'Caverna dos sonhos esquecidos'.
O filme, narrado pelo próprio diretor, é uma ode à aventura do ser humano em tentar imortalizar seu tempo por meio da arte. O documentário formula sua narrativa a partir do olhar de encantamento do cineasta diante das pinturas. A opção por registrar tudo em 3D é o pior do filme. Como o principal do documentário são as pinturas rupestres, que nada mais são que desenhos bidimensionais, a tecnologia não acrescenta nada às imagens.
INDIE FESTIVAL
Desta sexta-feira a quinta-feira nos cinemas Belas Artes, Rua Gonçalves Dias, 1.581; Humberto Mauro, Avenida Afonso Pena, 1.537; Oi Futuro, Avenida Afonso Pena, 4.001. A programação tem entrada franca (ingressos serão distribuídos na bilheteria meia horas antes de cada sessão). Informações: www.indiefestival.com.br
Programação
Sexta
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – O som e a fúria, de Jean-Claude Brisseau; 17h – Um episódio na vida de um catador de ferro-velho, de Danis Tanovic; 19h10 – Petrel Hotel Blue, de Kôji Wakamatsu; 21h20 – Coisas secretas, de Jean-Claude Brisseau
Sala 2: 14h40 –Estranhos quando nos encontramos, de Masahiro Kobayashi; 15h50 – Os excluídos do bom deus, de Jean-Claude Brisseau; 17h50 – Tragédia japonesa, de Masahiro Kobayashi; 19h50 – Fengming: Memórias de uma chinesa, de Wang Bing
Sala 3: 16h30 – Contos da noite, de Michel Ocelot; 18h20 – O dinheiro do carvão, de Wang Bing; 19h30 – Mar negro, de Rodrigo Aragão
16h –A oeste dos trilhos, de Wang Bing; 20h30 – Caverna dos sonhos
esquecidos, de Werner Herzog
» Oi Futuro
16h30 – Computer chess, de Andrew Bujalski; 18h30 – Arranha-céus flutuantes,
de Tomasz Wasilewski
20h30 – Heli, de Amat Escalante
Sábado
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – Desejando a chuva, de
Tian-yi Yang; 16h50 – Três irmãs, de Wang Bing; 19h30 – Vic+Flo viram um urso, de Denis Côté; 21h20 – Os anjos exterminadores, de Jean-Claude Brisseau
Sala 2: 15h – Eu era mais dark, de Matthew Porterfield; 17h10 – Computer chess, de Andrew Bujalski; 19h20 – Um jogo brutal, de Jean-Claude Brisseau; 21h30 – Arranha-céus flutuantes, de Tomasz Wasilewski
Sala 3: 16h30 –Parece amor, de Eliza Hittman; 18h30 – O homem sem nome,
de Wang Bing; 20h30 – GFP Bunny, de Yutaka Tsuchiya
» Humberto Mauro
16h –Contos da noite, de Michel Ocelot;
18h – Boda branca, Jean-Claude Brisseau; 20h – O gorila, de José Eduardo Belmonte
» Oi Futuro
16h30 – Big Sur, de Michael Polish;
18h30 – A garota de lugar nenhum,
de Jean-Claude Brisseau;
20h30 – Upstream color, de Shane Carruth
Domingo
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – Big Sur, de Michael Polish; 17h – Upstream color, de Shane Carruth; 19h10 – A garota de lugar nenhum, de Jean-Claude Brisseau; 21h10 – Heli, de Amat Escalante
Sala 2: 14h40 – Jiseul, de Meul O.; 16h40 – A vala, de Wang Bing; 18h40 – História de minha morte, de Albert Serra; 21h20 –
A aventura, de Jean-Claude Brisseau
Sala 3: 15h – Eu peguei um gato terrível, de Rikiya Imaizumi; 17h30 – O ato indizível, de Dan Sallitt; 19h30 – Fengming: Memórias de uma chinesa, de Wang Bing
» Humberto Mauro
16h – Contos da noite, de Michel Ocelot;
18h – Celine, de Jean-Claude Brisseau;
20h – O exercício do caos, de Frederico Machado
» Oi Futuro
16h30 – Vic Flo viram um urso, de Denis Côté; 18h30 – Petrel Hotel Blue, de Kôji Wakamatsu;
20h30 – Desejando a chuva, de Tian-yi Yang