Cinema

Nicolas Cage faz sucesso no Festival de Veneza em papel de cinquentão perturbador

Estrela de 'Joe', ator veterano encarna personagem em dívida com o passado

AFP/ Relaxnews

Nicolas Cage, aliás "Joe", atraiu todas as atenções no longa-metragem do diretor americano David Gordon Green, exibido nesta sexta-feira, 30, no Festival de Cinema de Veneza, no papel de um vilão messiânico barbudo em busca de redenção.


O filme, baseado no romance homônimo do americano Larry Brown, compete pelo Leão de Ouro que será entregue em 7 de setembro. Neste filme muito sombrio que carrega todo o peso de uma sociedade povoada por personagens violentos, em busca permanente da sobrevivência, evoluindo em meio a uma cenário em ruínas, rural e miserável, Nicolas Cage interpreta um ex-presidiário que tenta se redimir por amor e transmitir esperança de uma vida melhor para um adolescente corajoso, abusado pelo pai alcoólatra, maltratado pela vida.

O filme apresenta uma América desfavorecida que raramente vimos no cinema. Aliás, o diretor usou um sem-teto, Gary Poulter, ator não profissional, para interpretar o pai alcoólatra do adolescente que Joe irá ajudar (Tye Sheridan, visto em "A Árvore da Vida" de Terrence Malick). Gary Poulter preenche a tela. Ele morreu tragicamente em 2013, antes do lançamento do filme.

Em declarações à imprensa, o diretor garante que "esta bela pessoa contribuiu para o sucesso das filmagens e trouxe algo que não se encontra em qualquer pessoa, dando ao filme sua pitada de humanidade".

'Joe' conta a história de Joe Ransom, um senhor de cinquenta anos que tenta esquecer seu passado levando uma vida tranquila em uma pequena cidade do Texas. Durante o dia ele trabalha para uma empresa madeireira, e a noite ele bebe. Um dia ele conhece Gary (Tye Sheridan), de 15 anos, desesperadamente à procura de trabalho para sustentar sua família, com sua mãe apática, seu pai alcoólatra e criminoso que o espanca, e sua irmã mais nova, que parou de falar.

Deste encontro nasce uma forte ligação afetiva, que Joe aproveita para resgatar o seu passado, tornando-se protetor e mentor do jovem. Com sua barba grisalha, braços tatuados, barriguinha e olhos francos, Nicolas Cage interpreta um Joe Ransom perturbador cheio de autenticidade, assim como seu jovem ajudante Tye Sheridan.

Cabeça quente e fã de armas, sempre em desacordo com a justiça, com o seu pit bull, ele encarna o arquétipo da masculinidade bruta. "Procurava um ator que pudesse dar autenticidade ao personagem. Depreende-se de Nick (Cage) uma força e vulnerabilidade, um carisma", acrescentou o diretor.

"Daria três saltos mortais, pelado, por ele. Havia um espírito fraterno entre nós, não só pelo seu modo de dirigir, como seu olho para escolher o elenco", respondeu o ator de "Despedida em Las Vegas", barbeado para o Festival. O ator acrescentou que recebeu o romance de Larry Brown como "uma revelação". "Este é um caminho para a redenção, para a salvação, eu amei o personagem de Joe", disse referindo-se a uma "conexão intuitiva imediata com Tye Sheridan, que não precisa ser, necessariamente, uma relação sanguínea".

David Gordon Green consegue dar a personagens ordinários uma dimensão mítica e universal. A câmera filma com uma infinita precisão e, muitas vezes, à noite, a sua intimidade nua e crua em uma paisagem rural, com casas em ruínas e uma ferrovia.

Outro filme em competição apresentado nesta sexta-feira: "Die Frau des Polizisten" (A esposa do policial), longa-metragem de três horas do diretor alemão Philip Gröning, não foi tão bem recebido, com vários espectadores saindo antes do final. Gröning filmou em uma sucessão interminável de capítulos "a história simples" de uma família - pai, mãe, filho - e sua lenta destruição.

A história é contada na forma de um documentário e trata a complexidade da violência doméstica que pode surgir entre um casal.