Cinema

Lusa Silvestre coleciona sucessos como roteirista do cinema brasileiro

Publicitário descobriu paixão pela criação de tramas e já assinou grandes campeões de bilheteria

Walter Sebastião

Lusa Silvestre chamou a atenção ao escrever o roteiro de 'Estômago'
Lusa Silvestre, de 43 anos, não esconde o orgulho ao contar que escrever roteiros para cinema virou profissão. Mas, como se trata de trabalho solitário – e ele gosta de convívio humano –, esse publicitário não deixou a agência. “É bom ter um emprego que te oferece convênio de saúde”, brinca. Leva assinatura dele, como corroteirista, o campeão de bilheteria E aí... comeu?. Inspirada em peça de Marcelo Rubens Paiva, a comédia conquistou 2,5 milhões de espectadores.


“Atrair gente para ver filme é o meu troféu. Quero encher os cinemas populares, mas sem abandonar projetos cults”, avisa Lusa Silvestre, que prevê o lançamento de Muita calma nessa hora 2 até dezembro. Outro roteiro pronto – e acalentado com carinho – é o de O incrível roubo da Taça Jules Rimet. “Quando esse fato ocorreu, eu tinha de 13 para 14 anos. Chorei muito”, relembra.

O mergulho na atividade de roteirista dá vazão à vocação de Lusa: escrever. Em 2005, ele lançou o livro de contos Pólvora, gorgonzola e alecrim, de onde veio seu primeiro roteiro para cinema: Estômago (2009). A repercussão desse filme permitiu que deixasse de lado a publicidade por um ano. “Precisava de sustança técnica para a carreira que julgava promissora”, explica. Em Lisboa, ele fez um curso de roteiro com o norte-americano Robert McKee. Também aprofundou pesquisas sobre a construção de personagens. Antes de voltar para a agência de publicidade, Lusa teve o cuidado de definir um horário de trabalho que lhe permitisse se dedicar ao cinema.

Em 2011, Augusto Casé, produtor dos filmes de Bruno Mazzeo, convidou-o para trabalhar em E aí... comeu?. Desde então, Lusa não parou mais. Atualmente, dedica-se a uma dezena de projetos. “Até 2020, vai ter um filme com roteiro meu por ano”, garante. Colaborou para a multiplicação de convites a repercussão de Estômago e de E aí... comeu?. Essas produções o tornaram conhecido como roteirista versátil, capaz de escrever para filmes cults e populares. “Acho divertido fazer projetos diferentes”, explica. Ele gosta de acompanhar o processo: “É tão difícil pôr o filme na rua que assistir a todos os preparativos chega a ser um privilégio. Discuto tudo, mas não faço isso para influenciar. Os realizadores sabem: estou ali para ajudar”. E avisa: recebe bem as modificações necessárias ao projeto.

Projetos

» E aí... comeu? – Lançado em 2012
» Muita calma nessa hora 2 – Lançamento previsto para este ano
» O outro lado do paraíso – Em estúdio
» Dois sequestros – Em pré-produção
» O roubo da Taça Jules Rimet – Filmagens previstas para 2014
» Um namorado para minha mulher – Filmagens previstas para 2015
» No retrovisor – Filmagens previstas para 2015
» A Glória e a Graça – Em fase de captação de recursos
» O amor é importante, porra – Em fase de captação de recursos

Três perguntas para...

Lusa Silvestre
Roteirista


Qual é o papel do roteiro?

O filme malfeito com um bom roteiro é mais digno do que o benfeito com roteiro ruim. Roteiro é planta da casa, parede, encanamento. O resto é mobiliário. Não digo isso para frisar a importância do que faço. O projeto de longa-metragem precisa ter um ponto de partida robusto, concreto, bem construído e pensado, senão desaba. Um exemplo de filme com bom roteiro, mas mal dirigido, é Um plano brilhante, com Demi Moore e Michael Caine. Invasão à Casa Branca, por outro lado, tem roteiro ruim e boa direção.

Como você vê a dicotomia filme de arte/ filme popular?

Há espaço para os dois. O cinema brasileiro precisa de filme cult e de filme popular – benfeitos, com sofisticação e bem escritos. O que não dá é enganar o público com ator global. Outra coisa: não é possível exigir que cinema autoral seja comercial e vice-versa. Opor essas duas coisas não é posição madura. O problema é que, muitas vezes, esconde-se a má qualidade de um filme dizendo que ele é de arte ou é comercial.

Faltam roteiristas no Brasil?

Sim. Esta aí um problema da produção de entretenimento nacional. Não adianta ter lei de cotas se não há recursos humanos para fazer o que ela prevê. Recuso duas propostas por mês. Precisamos urgentemente de bons roteiristas, mas não temos nem escola nem tradição nessa área. São necessários anos de vivência para o roteirista ficar bom. Namoros, topadas e filhos também ajudam a formar roteiristas, assim como 20 anos de leitura. A solução é formação: cursos, oficinas e trazer caras de fora para conquistar conhecimento, além de contaminar as faculdades de comunicação e de cinema com o gosto pela elaboração de roteiro. Mas isso deve ser feito de forma pragmática.