Pode-se dizer que o diretor é um autor/criador, mesmo em meio a indústria que condena tudo (filmes e realizadores) ao anonimato. Movendo a magia de del Toro está seu encanto com o cinema e com as histórias em quadrinhos. E, aparentemente, pelo mesmo motivo: linguagens modestas, populares, despretensiosas e, por isso mesmo, preciosas para exercitar a liberdade da fantasia, inclusive no plano visual.
É filme apocalíptico, com sequências alucinantes, cenas grandiosas e direção de arte belíssima. E, o que é muito charmoso, com personagens movidos por dramaturgia econômica, sintética, sem arroubos sentimentais. O espectador balança, o tempo todo, entre o brutal e o delicado, experimenta mundos biológicos e mecânicos, viaja por escalas monumentais e minúsculas.
Todos os aspectos do filme são ótimos (até o tema musical), apesar do formato tradicional. E, o melhor, não brilham isoladamente, mas enriquecem, com naturalidade e poesia, o contexto em que se inserem. Harmonia que só potencializa o impacto do filme, e acaba apontando aspecto que Guilherme del Toro cultiva: a vontade de tornar a ida ao cinema experiência especial. Vale ver o filme na versão 3D.
'Círculo de fogo' é ficção científica contemporânea. Deixa a sensação de estar na linhagem de filmes como 'Alien' ou 'Blade runner', obras que, mergulhando na fantasia, despreocupadas com conteúdos, acabam criando olhares poderosos sobre a paisagem e a sociedade contemporâneas.
SAIBA MAIS
Arma versátil
Guillermo del Toro dirigiu, coescreveu e produziu Círculo de fogo. O mexicano declarou que queria fazer um filme futurista, sobre apocalipse global e heróis. “Queremos que as pessoas sejam arrebatadas pelo espetáculo, pelo som e pela fúria. Mas tudo isso tem o intuito de destacar a coragem dos personagens. Fisicamente, os seres humanos são a menor coisa do filme, porém, seu espírito é a maior coisa da obra. São heróis de verdade”, disse, falando da intenção de provocar assombro, terror e mistério. Se os monstros são “uma arma viva, a maior ameaça que já se viu”, os robôs que os combatem são “pistoleiros clássicos e a mais dinâmica e versátil arma já inventada”. Está no filme, no papel de vendedor (no mercado negro) de partes dos monstros mortos, o ator Ron Perlman que trabalhou em todos os filmes do diretor.
Assista ao trailer do filme: