Apelo para tal ele tem. O mote é bem conhecido de milhões de brasileiros: concurso público, que 12 milhões de pessoas fazem anualmente. A narrativa parte de um fato que move outra comédia campeã de audiência: no dia da última prova para uma vaga para juiz federal, os quatro finalistas acordam numa ressaca homérica, tal como os personagens da franquia 'Se beber não case'. E o elenco tem como chamarizes o rei dos comediantes vindos da internet (Fábio Porchat) e a musa da geração Pânico (Sabrina Sato, aqui em sua estreia no cinema).
Tudo isso não resulta necessariamente num filme engraçado, mas há que se dar crédito a Porchat, que consegue arrancar algumas gargalhadas descompromissadas. As situações retratadas em pouco menos de 90 minutos são uma sucessão de clichês, reforçada pelas características dos quatro protagonistas, que repetem os estereótipos regionais do brasileiro comum. O quarteto se conhece no Rio de Janeiro, dois dias antes da prova oral que irá definir um novo juiz federal.
Rogério Carlos (Porchat) é um gaúcho de Pelotas que sofre com o pai opressor (Jackson Antunes); Freitas (Anderson Di Rizzi, em alta graças à parceria com Tatá Werneck na novela 'Amor a vida', da Globo), um cearense extremamente apegado à mulher, grávida (Carol Castro), e aos santos protetores; Bernardo (Rodrigo Pandolfo, que também está em 'Minha mãe é uma peça'), jovem virgem do interior de São Paulo; e Caio (Danton Mello), carioca malandro que quer se dar bem no concurso a todo custo, tentando, para isso, conseguir o gabarito da prova. Caio convence os concorrentes a conseguir o gabarito. Obviamente, nada ocorre como previsto, e eles passam uma noite numa comunidade carioca em meio a anões traficantes, travestis histéricos e pais de santo nada confiáveis.
Bate-papo Em entrevista que reuniu parte da equipe – Sabrina Sato e Fábio Porchat estavam ausentes – , atores e diretor defenderam os estereótipos. “A mensagem do filme é clara de que se trata de uma brincadeira. Não existe uma caricatura, uma forma grosseira ou uma crítica do jeito de ser de cada região”, afirmou Vasconcelos, que na juventude trabalhou como ator (nos anos 1990, esteve na série 'Riacho doce' e nas novelas 'Fera ferida' e 'Malhação') e acabou chegando ao teatro – sua montagem mais conhecida é 'Dona Flor e seus dois maridos', encenada durante cinco anos e que ele pretende adaptar para o cinema – e à TV, como codiretor das novelas 'A favorita', 'Sete pecados' e 'Escrito nas estrelas'.
Alguns dos atores comentaram as próprias similaridades com seus personagens. Pandolfo, por exemplo, nasceu no interior do Rio Grande do Sul e depois viveu em uma pequena cidade mato-grossense, até ir para o Rio, aos 15 anos. “Tinha aquele sotaque, com o ‘erre’ carregado, e quando fui embora, alguém colocou uma faixa na avenida da cidade (como ocorre com o Bernardo do filme) dizendo ‘Estamos com você’”, comenta o ator, cujo personagem é de Piraporinha, cidade fictícia do interior paulista. Já Di Rizzo é cheio de crendices como o Freitas de 'O concurso' – o ator mostra uma corrente com uma imagem de São Jorge e terço que carrega no bolso. “Também sou um homem de fé, tanto que às vezes coloco um galho de arruda na orelha.”
TV, teatro e cinema
Danton Mello nunca pensou em se especializar em comédias, mas seus trabalhos mais recentes foram todos dedicados ao gênero. Além de O concurso, ele estrelou Vai que dá certo – outro filme com um grupo de homens como protagonistas, lançado no primeiro semestre – e Como aproveitar o fim do mundo, minissérie global que acabou de sair em DVD.
Agora ainda está gravando uma participação em A grande família e encenando, em São Paulo, o espetáculo 39 graus, baseado no filme homônimo de Alfred Hitchcock que mistura melodrama e comédia. “Minha história era de herói, galã de TV, e de repente me vi fazendo comédia. Nesse filme me soltei um pouco mais... Virei comediante? Não, sou um ator que faz de tudo, e ainda estou entendendo como é fazer comédia”, afirmou.
* A repórter viajou a convite da Paris e Downtown Filmes