Renato Russo continua arrastando multidões e já arrebanhou, pelo menos, 3 milhões de pessoas no seu mais recente projeto. Não se assuste, o líder do Legião Urbana não ressuscitou, mas o sucesso nas bilheterias dos filmes 'Somos tão jovens' e 'Faroeste caboclo' vem corroborar toda a força e a aura mítica que envolvem a ainda mais popular banda do rock nacional e seu mentor. Em cartaz desde 3 de maio, quando levou quase 500 mil espectadores só no fim de semana de estreia, 'Somos tão jovens' é um longa de Antônio Carlos da Fontoura, que narra a emocionante e desafiadora história da transformação de Renato Manfredini Jr. no mito Renato Russo.
Já 'Faroeste caboclo', que estreou em 30 de maio com público de 360 mil pessoas e tem direção de Renê Sampaio, é inspirado na canção homônima do Legião e narra a saga de João de Santo Cristo, jovem que tenta uma vida melhor em Brasília e apaixona-se por Maria Lúcia, filha de um senador, e acaba se envolvendo com o mundo do crime.
As duas produções foram lançadas com intervalo de três semanas. Mas os diretores garantem que foi uma feliz coincidência, até porque não há nenhuma data comemorativa envolvendo o Legião Urbana ou Renato Russo este ano. No entanto, as comparações são inevitáveis. Nas redes sociais, os fãs se dividem, apesar de muitos assegurarem que não há como comparar. Os comentários mais comuns defendem que quem gosta de Legião Urbana e Renato Russo não pode deixar de assistir aos dois longas.
O diretor Antônio Carlos da Fontoura, que acaba de voltar dos Estados Unidos, onde seu filme participou do 11º Festival de Cinema Brasileiro de Nova York, afirma estar extremamente feliz com tudo o que está acontecendo com 'Somos tão jovens', que teve a maior campanha de divulgação da história da distribuidora Imagem Filmes. Ele acredita que o público deve ultrapassar os 2 milhões de espectadores e, na verdade, é até meio complicado mensurar isso, já que, além da bilheteria oficial, a produção é exibida em festivais e mostras paralelas.
“Considero uma grande façanha, e isso é só o começo. Já estão me cobrando uma continuação e também pretendo transformá-lo numa série de TV em breve. Já há negociações nesse sentido”, adianta Fontoura. Para o cineasta, a qualidade de 'Somos tão jovens' e o fato de Renato Russo e o Legião Urbana serem um fenômeno foram os pontos mais importantes para o sucesso da cinebiografia. “Ele é o nosso John Lennon, um mito atemporal. E fora que, já que o filme retrata o período da adolescência dele, o Renato se descobrindo, tem atraído muitos adolescentes também. Eles o veneram. Para mim, a bilheteria nem é o mais importante, mas sim o retorno afetivo, os milhares de e-mails e comentários em redes sociais de pessoas que se emocionaram com o projeto. É isso que me toca”, assegura.
Sem disputa
Com relação ao “embate” com 'Faroeste caboclo', Antônio Carlos da Fontoura diz que um filme não atrapalha o outro. Pelo contrário. O diretor revela que não assistiu ao longa-metragem de Renê Sampaio, mas que tem curiosidade sobre a produção. Entretanto, não acredita que dê para comparar os filmes. “Um deve até estar ajudando o outro. Quem tira o nosso público é o blockbuster norte-americano. E geralmente quem vê um vê o outro. A gente nunca procurou disputar nada. Não existe isso”, salienta.
'Faroeste caboclo' também participou do Festival em Nova York e, por isso, boa parte da equipe, incluindo o diretor Renê Sampaio, ainda se encontra fora do Brasil. Sueli Tanaca, gerente de marketing da Europa Filmes, distribuidora de 'Faroeste caboclo', também comemora os números expressivos do longa. Segundo ela, analisando o mercado nacional, o fato de não ser uma franquia nem uma comédia é mais um motivo de celebração. “Além do mais, é filme que todo mundo esperava havia muito tempo, seja o fã do Legião ou o fã de música de maneira geral. E é uma responsabilidade, porque cada um tem a sua história da canção na cabeça”, analisa.
Sueli acrescenta que a resposta do público tem sido bastante positiva e acredita que o boca a boca também ajudou na divulgação. Ela considera natural comparar 'Faroeste' com 'Somos tão jovens', apesar de, na sua opinião, serem produtos com histórias e contextos bem diferentes. “Nós cravamos a data 30 de maio para a estreia, desde setembro do ano passado. Não sei se foi proposital da parte deles estrear próximos do 'Faroeste caboclo'. Mas não vejo problemas nisso. Um acaba se beneficiando do outro”, pontua.
Qualidade garante mercado
Qualidade garante mercado
Segundo Paulo Sérgio Almeida, cineasta e diretor da empresa Filme B, portal de internet especializado no mercado de cinema no Brasil, o resultado dos dois filmes é excelente e é complicado confrontá-los, até porque, enquanto um é biográfico e foca em momento específico da vida de Renato Russo, o outro é a história de uma música emblemática. “O que determina o sucesso é o fato de serem bons filmes e, também, toda uma aura mítica envolvendo o Renato e o Legião. Muita gente se interessa pelo tema. Já na estreia tiveram um grande público e o desempenho com relação a outras produções nacionais é muito bom também”, frisa.
Paulo Sérgio afirma que não dá para prever se 'Faroeste caboclo' vai alcançar a bilheteria de 'Somos tão jovens' – hoje a diferença entre eles é de cerca de 400 mil espectadores –, mas que o fato de o 'Faroeste caboclo' ter a Globo Filmes (coprodução) por trás é um ponto a ser levado em consideração. “O 'Somos tão jovens' já está encerrando o ciclo, está deixando as capitais e agora vai para o interior. Atualmente está em cartaz em apenas 13 salas no país. Já o 'Faroeste caboclo' está entrando em sua quarta semana e ainda tem tempo para alcançar êxito ainda maior”, acredita Paulo Sérgio. Até o dia 20, o filme estava em 388 salas em todo o Brasil.
O espião do bem
Integrante e fundador da Plebe Rude, uma das bandas de rock mais emblemáticas de Brasília, o cantor e guitarrista Phillippe Seabra teve o privilégio de participar tanto de 'Faroeste caboclo' quanto de 'Somos tão jovens'. Enquanto no primeiro ele foi o responsável pela trilha sonora, no outro foi um dos consultores e ainda fez uma pontinha como ator, no papel do prefeito de Patos de Minas, que mandou prender os músicos da Plebe e do Legião em show na cidade, nos anos 1980. Philippe confessa que estava por dentro dos dois filmes e se intitula um “espião do bem”. “O que fazia em um, não fazia no outro. Foi um prazer enorme participar. Dediquei-me muito aos dois filmes, ainda mais ao 'Faroeste', para o qual passei cinco meses elaborando a trilha. Até adiamos o novo disco da Plebe Rude por conta disso”, conta.
O artista diz que é complicado analisar os filmes e destaca que, enquanto 'Somos tão jovens' faz um relato interessante sobre uma época e celebra a amizade, 'Faroeste caboclo' é mais cinema que o concorrente. “Os dois são trabalhos excepcionais e merecem ser assistidos, mesmo que você não seja fã do Legião, do Renato, da Plebe Rude etc. Tem toda essa coisa do imaginário e da força do rock brasiliense, que atraem as pessoas. O interessante é que há momentos em que os dois longas-metragens se cruzam, retratam períodos semelhantes. Eu mesmo me confundo algumas vezes com algumas cenas. Não sei se é de um ou de outro”, confessa.
Philippe Seabra, que está em seu quinto filme como produtor de trilha sonora, comenta um fato curioso durante uma das exibições do longa do diretor Antônio Carlos da Fontoura, num cinema em Brasília. “Assim que o filme acabou, um rapaz olhou para trás e ficou intrigado quando me viu. Ele tinha me reconhecido, já que faço uma ponta. Aí disse para ele: ‘Ué, não te falaram que o filme era 3D?”, brinca o músico.
Veja o trailer de 'Somos tão jovens':
Confira também o trailer de 'Faroeste caboclo':