O esplendor e a decadência como apenas o cinema italiano sabe contar, sem perder o senso de humor, se encontraram nesta terça-feira, 21, no Festival de Cannes com 'La grande Bellezza' e 'Un castillo en Italia', na disputa pela Palma de Ouro. Com imagens deslumbrantes da capital do pais, "La Grande Bellezza", de Paolo Sorrentino, tem Roma no esplendor do verão como coprotagonista onipresente.
Interpretado por seu ator fetiche Tony Servillo ('Il Divo', 2008, também dirigido por Sorrentino), Jep é um escritor veterano e de sucesso com as mulheres que se dedica à vida mundana mais do que à literatura. Comparece a todas as festas e organiza outras em seu apartamento com uma vista magnífica para o Coliseu. Tem do mundo que o cerca e de sua comédia a visão lúcida e cínica de um privilegiado. Ele se questiona se voltará a escrever sobre um amor de juventude, imerso na atmosfera romana, cuja beleza pode ser paralisante. Felini e o clássico 'La dolce vita' (1960) são lembrados em todos os momentos nesta homenagem explícita ao mestre italiano. "Falamos de temas parecidos, há uma ressonância", admitiu Sorrentino à imprensa. Mas rejeitou qualquer comparação "porque 'La Dolce Vita' é uma "obra-prima".
"O filme tenta expressar, e não narrar, uma certa pobreza - explicou Sorrentino à imprensa -, mas não uma pobreza material, e sim uma pobreza de outro tipo". "Ao mesmo tempo, afirmou, não tentamos manifestar uma opinião negativa sobre essas pessoas, e sim representar o que são de uma forma geral".
"Un castillo en Italia", é uma emotiva comédia familiar com momentos de tragédia, narrada com o olhar terno da diretora franco-italiana Valeria Bruni-Tedeschi, que passou da atuação para a direção no início de 2000 e que agora faz ambas: dirige e interpreta Louise, a protagonista. O esplendor perdido dos Rossi-Levi, uma família de industriais do norte da Itália, é apenas o marco da trama. O tema aqui é a mesma família, especialmente as relações entre irmão e irmã, mãe e filha. A história de amor da protagonista com final feliz é quase um acessório narrativo. Embora não se trate de uma "autoficção", como indica a diretora, o roteiro é amplamente inspirado pela história familiar. "Uma autobiografia sempre é uma ficção", ironizou nesta terça à imprensa Agnes de Sacy, co-roteirista ao lado de Bruni-Tedeschi e Noemie Lvovsky.
O filme é o terceiro de Bruni-Tedeschi, o primeiro a competir pela Palma de Ouro. É o único filme dirigido por uma mulher dos 20 que aspiram ao principal prêmio, que será anunciado no dia 26 de maio.