Cinema

Cine 104 exibe filme sobre o músico Paulo Moura

Documentário de Eduardo Escorel resgata imagens históricas da trajetória de um dos maiores instrumentistas do país, morto em 2010

Eduardo Tristão Girão

Paulo Moura foi compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista de choro, samba e jazz
Foi um balde de água fria. Em setembro de 2008, o cineasta paulistano Eduardo Escorel havia recebido o OK do clarinetista Paulo Moura e sua mulher, Halina Grynberg, para fazer um documentário sobre a vida do músico. Dois anos depois, quando as gravações sequer haviam começado, o artista morreu. Escorel pensou em desistir, mas decidiu transformar o projeto num tributo repleto de imagens históricas e marcantes de Moura. Depois de abrir o festival 'É tudo verdade', 'Paulo Moura – Alma brasileira' chega a Belo Horizonte, onde ficará em cartaz até quinta-feira, no Cine 104.


Paulista de São José do Rio Preto, Paulo Moura trabalhou sem parar até sua morte, aos 77 anos – da gravação em 78 rotações de 'Moto perpétuo' (1956), de Paganini, até Fruto maduro (lançado ano passado), um dos últimos registros em disco dele, com o guitarrista André Sachs. Já morando no Rio de Janeiro, começou estudando piano, formou-se em clarinete e iniciou a carreira tocando em gafieiras e bailes. Trabalhou na Rádio Nacional, integrou a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal e gravou peças que Radamés Gnatalli escreveu para ele. Lançou dezenas de discos e fez carreira também no exterior.

Quase artesanal Com 86 minutos de duração, o documentário não segue a estética cronológica e organizada de outras produções do gênero. Ao contrário, expõe o diretor e roteirista Eduardo Escorel como autor de um painel de depoimentos, apresentações e filmagens caseiras de Paulo Moura, tudo disposto de forma um tanto aleatória, mas nem por isso menos interessante. Entre os pontos altos estão as cenas em que a viúva do artista abre uma caixa e retira dela algumas fotos que passa a comentar: surgem os pais dele, o desfile de escola de samba que armou em Tóquio e sua apresentação no Carneggie Hall, em Nova York.

As imagens de shows são bem diversas, em datas e locais os mais diversos. Vão da gravação de 'Só louco' (Dorival Caymmi) para a TV Cultura nos anos 1990 a 'Manhã de carnaval' (Luís Bonfá e Antonio Maria), interpretada em 1977 em um festival em Lagos, na Nigéria, passando por registros em Paris, Berlim, Suíça e Israel. As formações que Paulo Moura integrou também são distintas: duo com o pianista Wagner Tiso; trio com o pianista Arthur Moreira Lima e o violonista Heraldo do Monte; quarteto só com percussionistas; orquestras (como regente ou solista) e dançando no palco com Martinho da Vila.

Para costurar tudo isso, Escorel partiu de aproximadamente 80 horas de material recolhido de acervos no Brasil e no exterior. Há imagens raras e também algumas inéditas, entre elas o depoimento dado por Moura ao diretor finlandês Mika Kaurismäki em 2004, época em que filmava o documentário sobre choro 'Brasileirinho'. As cenas do sarau que amigos fizeram para o músico no hospital, pouco antes de morrer – o clarinetista pediu o clarinete e tocou 'Doce de coco', de Jacob do Bandolim –, não foram liberadas para inclusão no filme.

PAULO MOURA – ALMA BRASILEIRA
Filme sobre o músico Paulo Moura, com direção e roteiro de Eduardo Escorel. De segunda a quinta-feira, às 21h, no Cine 104 (Praça Rui Barbosa, 104, Centro). Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Informações: (31) 3222-6457.