Nas entrevistas de lançamento de 'Somos tão jovens', o diretor Antônio Carlos da Fontoura tem batido numa tecla: o longa-metragem, que estreia hoje em todo o país, não é um docudrama. É ficção inspirada na vida de Renato Russo. Mais ainda na de Renato Manfredini Júnior, já que é ambientada entre 1976 e 1982, percorrendo a trajetória do adolescente contestador que forma uma banda punk, Aborto Elétrico, na capital federal durante a ditadura militar. A Legião Urbana é quase um detalhe, pois só aparece na parte final.
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Uma vez isso claro – pois o roteiro toma várias liberdades, que podem fazer legionários mais puristas torcerem o nariz – o longa ganha outros contornos. Os dois grandes méritos do filme de Fontoura são inegáveis: seu protagonista e a recriação da época. Thiago Mendonça (que já havia vivido Luciano em '2 filhos de Francisco', de 2005) havia entrado na casa dos 30 quando foram realizadas as filmagens, em 2011. Pois consegue recriar o Renato na juventude com semelhança física impressionante.
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O restante do elenco principal também não faz feio. Apostando no naturalismo, consegue boas atuações na parte feminina: Laila Zaid (que faz Ana Cláudia, amiga inseparável de Renato) e Bianca Comparato (Carmen Teresa, a irmã caçula dele). O roteiro, assinado por Marcos Bernstein (diretor de 'Meu pé de laranja-lima', atualmente em cartaz), começa da descoberta de uma doença que acomete o então adolescente Renato Manfredini (a doença óssea epifisiólise, que o deixou tempos numa cama depois de uma cirurgia), e culmina na mudança da Legião para o Rio de Janeiro.
O filme emperra mesmo é nos diálogos, um tanto didáticos. As conversas de Renato com seus amigos e companheiros de banda tentam, de alguma forma, explicar a origem das letras de algumas de suas canções mais conhecidas. Ele, por exemplo, durante sua recuperação da cirurgia, fala com Ana Cláudia que estava sentindo um “Tédio (Com um T bem grande pra você)”. Durante uma festa de bacanas, novamente com a amiga a tiracolo, comenta da “festa estranha, com gente esquisita”. Músicas que são tratadas como hino (a frase “Que país é esse?” é proferida mais de uma vez) não precisam de explicação.
O tom forçado recai no exagero, fazendo com que cenas importantes fiquem risíveis (como quando o personagem, revoltado, briga com os pais que não fazem nada pelo país). Mas o filme cresce na parte final. Somente na última sequência, por sinal, 'Somos tão jovens' chega a emocionar. Não é muito, ainda mais pelo tamanho que Renato Russo ocupa no imaginário pop brasileiro.
Assista ao trailer de 'Somos tão jovens':