Mas o filme mais político a caminho da glória nos prêmios da Academia no próximo domingo é 'Lincoln', de Steven Spielberg, elogiado pelo ex-presidente americano Bill Clinton durante aparição surpresa na premiação dos Globo de Ouro, em janeiro passado.
Clinton usou o embate político por Lincoln no filme para fazer alusão ao confronto entre democratas e republicanos do governo Barack Obama. "Uma dura batalha para aprovar uma lei numa câmara de representantes muito dividida", disse Clinton. "Para ganhar, o presidente precisou chegar a muitos acordos desagradáveis... eu não sei nada disso", ironizou.
Em 'Lincoln', o 16º presidente americano busca o apoio do Congresso para implementar a 13ª emenda constitucional, que pôs fim à escravidão. O longa chega à 85ª edição da entrega dos Oscar com a maior quantidade de indicações (12). Mesmo assim - e com o ilustre apoio de Clinton - não tem vitória garantida na cerimônia, que se tornou a mais imprevisível dos últimos tempos.
Já o thriller político 'Argo', que conquistou quase todos os prêmios pré-Oscar da temporada, conta a história de como a CIA, com a ajuda de Hollywood, resgatou seis diplomatas americanos escondidos na embaixada do Canadá em Teerã durante a revolução iraniana de 1979.
O desastre diplomático dos Estados Unidos poderia ter decidido definitivamente o destino do então presidente democrata Jimmy Carter. Lembrar os eleitores americanos desta débacle talvez não tenha ajudado muito os democratas ano passado, já que o filme focaliza a audácia do corpo operacional da CIA e salva a pele do presidente Carter.
Um filme indicado ao Oscar que definitivamente serve para melhorar a imagem de Obama é definitivamente 'A hora mais escura', história de Kathryn Bigelow sobre os 10 anos da busca ao chefe da Al-Qaida, Osama Bin Laden.
Na verdade, o risco de que fosse considerado propaganda política era tanto (o clímax se passava no maior trunfo militar de Obama: a emboscada ao esconderijo de Bon Laden no Paquistão), que o filme só estreou em 6 de novembro, depois que as eleições presidenciais terminaram.
Mas logo teve início um caloroso debate sobre a descrição feita pelo filme das "técnicas melhoradas de interrogatório" - ou tortura - e especificamente sobre o papel desempenhado por elas na descoberta de Bin Laden.
O chefe da CIA e muitos congressistas criticaram o filme por fazer crer que a tortura foi a chave para chegar até Bin Laden, acusação que a vencedora do Oscar Bigelow desmentiu repetidas vezes.
"Acredito que Osama Bon Laden foi encontrado graças a um engenhoso trabalho de investigação. A tortura foi, contudo, e como todos nós sabemos, usada durante os primeiros anos desta busca. Isso não significa que tenha sido fundamental", afirmou a diretora.
Seja como for, o debate pode ter diminuído as possibilidades do filme ganhar o Oscar de melhor filme, já que o júri poderia resistir a votar em um filme tão político.
Contudo, a controvérsia política mais evidente chegou pelas mãos de 'Django Livre', de Quentin Tarantino. Com o toque pessoal do diretor, o filme sobre um escravo libertado por um caçador de recompensas nos anos que antecederam a Guerra Civil mostra quase três horas de caos sangrento.
Dias antes da estreia, o massacre de 20 crianças em uma escola da cidade de Newtown, Connecticut, levou os americanos a debaterem novamente o tema da violência no cinema, o que levou Tarantino a adiar em uma semana o lançamento do filme.
O diretor Spike Lee qualificou o filme de "desrespeitoso". Vários bonecos que representavam os personagens da trama acabaram sendo retirados do mercado. Tarantino, que está acostumado a defender a violência de seus filmes, disse à rádio NPR: "Sim, estou muito chateado". O filme não tem nada a ver com o massacre da escola, afirmou.
"Isto é um desrespeito à memória das crianças. O tema deve ser o controle de armas e a saúde mental", disse Tarantino. Apesar dos argumentos, 'Django' teve as possibilidades de levar a estatueta dourada reduzidas subitamente.