Há exatos 15 anos um garoto de olhos lacrimosos exigiu a devolução de uma carta enderaçada ao pai que não conhecia. A cena aconteceu em meio ao burburinho da Estação Central do Brasil e não recebeu a atenção de ninguém que por ali passava. Esta não é uma história real, não foi narrada em páginas de jornal e não recebeu glórias literárias.
Em 22 de fevereiro de 1998, era lançado o filme 'Central do Brasil', de Walter Salles, onde o menino Josué (Vinicius de Oliveira) e Dora (Fernanda Montenegro) eram unidos pelo destino de um garoto órfão e uma escrevedora de cartas. Em 1998, sem o avanço da telefonia e a popularização dos computadores pessoais, o Brasil era ligado pela correspondência física e a nova profissão da ex-professora Dora era escrever cartas ditadas por analfabetos, passageiros esquecidos no contexto cruel das grandes cidades brasileiras.
A história da história de 'Central' será retificada nesta sexta-feira, 22, às 22h, em programação especial no Canal Brasil, restrito a assinantes de TV a cabo.
No ano seguinte, em 1999, Dora e Josué desfilavam pelo veludo vermelho da cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A dama máxima do teatro brasileiro conheceu de perto a guia do lobby dos estúdios ao perder a estatueta de melhor intérprete feminina para uma atriz de habilidades limitadas, Gwyneth Paltrow.
O discurso indignado de Fernanda praguejava o sistema, capaz de florescer na influência dos irmãos Bob e Harvey Weinstein ao promover Shakespeare apaixonado, dirigido por John Madden, um filme sem muitos predicados.