
A boa tradução exige técnica, experiência e sensibilidade. A exigência aumenta quando se trata de filmes mais herméticos ou com diálogos complexos, como os atuais concorrentes ao Oscar 'Lincoln', de Steven Spielberg, e 'Django livre', de Quentin Tarantino. Com histórias narradas no fim do século 19, período que antecede o fim da escravidão nos Estados Unidos, as produções são essencialmente calcadas em interpretações e no embate de ideias.
Enquanto 'Lincoln' é baseado nos densos diálogos adaptados do livro 'Team of rivals: The genius of Abraham Lincoln', de Doris Kearns Doodwin (uma versão brasileira, da Editora Record, recém-lançada no Brasil, traz o resumo do original), o filme 'Django livre' aposta em gírias e coloquialismos típicos do Sul dos Estados Unidos da época. Resumir toda a atmosfera em poucas palavras é a tarefa que tira o sono de qualquer profissional da área.
O primeiro passo para uma boa tradução é conseguir o script do filme, seriado ou novela, com a transcrição literal dos diálogos nas línguas de origem. De posse do material e das imagens, o tradutor assiste às produções. Sua missão é resumir cada diálogo em duas linhas, ou seja, não mais que 60 caracteres. “A legenda tem que caber no tempo de leitura, senão as pessoas piscam e não conseguem entender a cena”, explica a carioca Daniela Soares, que há 20 anos se dedica à profissão. A situação fica ainda mais complicada quando as falas dos personagens são rápidas. “Enquanto o desafio do bom dublador é sincronizar sua fala com a do ator, no caso das legendas o mais difícil é conseguir chegar à concisão dos textos”, explica.

Foi usando adaptações que Daniela conseguiu concluir a tradução de filmes como 'De olhos bem fechados', de Stanley Kubrick, e do japonês 'Sonhos', de Akira Kurosawa. “Peguei o script já traduzido para o inglês e tive que fazer as legendas em português. O que os brasileiros viram no cinema foi a segunda versão do original. Os diálogos eram complexos e, como não falo japonês, mesmo com todo o cuidado não há como não ter perdas”, reconhece.
Cultura geral
As dificuldades no processo de tradução e legendagem se intensificam quando a tarefa cabe a um profissional iniciante e pouco preparado. O resultado, segundo os tradutores que estão há anos no mercado, empobrece os diálogos e prejudica a eficiência da narrativa. “O segredo da tradução, em primeiro lugar, é o profissional ter boa cultura geral. Em seguida, é ter boa compreensão do idioma e contar com consultorias, muitas delas informais”, enumera Patrícia Peixoto, outra tradutora experiente que, há 20 anos, atua na área.