A ficha técnica de Bem amadas é daquelas bem sedutoras, especialmente para quem acompanha o cinema europeu. Afinal, uma produção que tem o nome de Catherine Deneuve como carro-chefe, contracenando com a filha Chiara Mastroianni e o incensado Louis Garrel, é capaz de elevar as expectativas. Mas o filme dirigido por Christophe Honoré fica no meio do caminho. Não chega a ser um musical gracioso, nem um melodrama atrativo. As atuações também não são especiais o bastante para salvar o todo.
Bem amadas narra basicamente a movimentada vida amorosa de Madeleine, personagem vivida por Deneuve na maturidade e Ludivine Sagnier na juventude. Tudo começa em 1964, em Paris, quando vendedora de sapatos Roger Vivier se oferece como prostituta a um médico e acaba se apaixonando por ele. É a partir dessa primeira paixão que o longa-metragem desenvolve sua tese sobre amores e relacionamentos. Possíveis ou impossíveis. Duradores ou efêmeros.
Como o filme se passa entre os anos de 1964 e 2007, as aventuras sentimentais da filha Véra (Chiara) também são contadas. Ao colocar em paralelo as trajetórias de duas mulheres tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes na forma de encarar o amor, e consequentemente o sexo, o diretor faz pensar sobre as convenções sociais que envolvem o tema.
Curiosamente, o fato de ser um musical é um dos principais problemas de Bem amadas. Ainda que a trilha sonora com canções de Alex Beaupain seja adequada a uma história de época, ela quebra muito mais a narrativa do que contribui. O estranhamento que causa é tão grande que seria inevitável não se distanciar do filme. Além disso, ao mesmo tempo em que faz uma “defesa” de que toda forma de amor vale a pena, o diretor não livra seus personagens da punição.