Cinema

À beira do caminho narra o encontro de um homem infeliz com um garoto em busca do pai

Novo filme de Breno Silveira é embalado pelas canções de Roberto Carlos

Ana Clara Brant

Os personagens vividos por João Miguel e Vinicius Nascimento se encontram na estrada e atravessam o país de caminhão, numa viagem que transforma suas vidas
 
Um filme feito com câmera, luz, ação e, sobretudo, coração. É assim que o diretor Breno Silveira define o seu mais recente trabalho, À beira do caminho, produção da Conspiração Filmes com a Fox Films do Brasil, que estreia nesta sexta-feira em todo o país. O longa, o terceiro do diretor, que já tem no currículo Dois filhos de Francisco e Era uma vez, e que no fim do ano se prepara para a sua quarta empreitada, Gonzaga – De pai pra filho, conta a história emocionante de João, interpretado com muita competência por João Miguel, um homem que encontra na estrada a saída para esquecer os dramas do passado. 
Por acaso ou sorte, seu caminho se cruza com o menino Duda, uma comovente atuação do jovem ator Vinicius Nascimento, que está em busca do pai que nunca conheceu. A partir desse encontro, nasce uma bela relação que vai transformar a vida dos dois. “Para mim não existe nada mais forte e impressionante que a emoção. Ela é o meu canal com o público. Gosto de sair do cinema de uma maneira diferente da que entrei e minha intenção é fazer isso também com o espectador: deixar alguma marca nas pessoas que estão assistindo. Quis fazer um filme delicado, com uma emoção sincera e que viesse de dentro para fora, sem ser piegas ou desse origem a um dramalhão. Acho que consegui”, avalia Breno.
Com um time de atores eleito pelo diretor como um dos melhores com o qual já trabalhou, o cineasta acredita que a química entre os protagonistas João Miguel e Vinicius Nascimento, que na época das filmagens tinha apenas 10 anos (hoje está com 13), é um dos destaques da produção. Vinicius, aliás, que já tinha feito participações na série Ó pai ó, no curta Doido Lelé e no longa Quincas Berro D’água, foi selecionado entre mais de 500 crianças de vários cantos do país. “O Vinicius Nascimento é um achado. Ele nem tinha me chamado a atenção no teste tanto assim, mas o olhar dele é impressionante. Ele é um menino bem a cara do Brasil e nenhum dos garotos fez o teste com tanto sentimento como ele”, enfatiza o diretor. Para Breno, a escolha de João Miguel para o papel principal também foi um dos pontos altos da produção. “O João é um ator fabuloso e está num grande momento da carreira. E além disso, a química com o Vinicius foi maravilhosa. Os dois conseguem falar com as expressões, com os gestos, e em algumas cenas cheguei até a cortar as falas porque o rosto dos atores já dizia tudo”, revela Breno Silveira.
 João Miguel conta que a parceria com o intérprete de Duda se estendeu para fora das telas e que mesmo os dois já tendo contracenado na série Ó pai ó, onde viveram pai e filho, só agora a relação se estreitou. “Vinicius me ensinou muito e espero que ele tenha aprendido um pouco comigo também. Esse trabalho me mostrou como vale a pena ser generoso como ator. A gente só tem a ganhar”, declara.
REI Várias canções de Roberto Carlos permeiam a história e embalam os momentos dos personagens, especialmente de João, que vive com um CD do Rei na boleia do caminhão, mas evita escutar para não reviver as emoções fortes do passado. Breno Silveira diz que começou a produzir o filme já pensando nas canções do artista e que, quando ele finalmente autorizou o uso das canções, ficou bastante emocionado. “O Roberto é a trilha da minha vida. Tive vários episódios felizes e tristes embalados pelas músicas dele. Tive uma relação muito pessoal com esse longa-metragem”, pontua o diretor, que ficou viúvo há pouco mais de um ano e que dedica À beira do caminho à esposa falecida, Renata.
O cineasta deve assistir à estreia do filme amanhã, justamente na terra natal do Rei, Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. “Tinha fé que o Roberto ia aprovar e ia gostar do filme porque ele é extremamente emocional, assim como o meu filme. Não vejo simplesmente como uma trilha sonora que se encaixa entre uma cena e outra, mas as canções contam alguma coisa do próprio roteiro. Elas fazem parte e ajudam a contar a história”, observa. O ator João Miguel também ressaltou a importância do Rei na trama e confessa que mesmo depois das filmagens continuou ouvindo as canções de Roberto Carlos. “A gente escutava o tempo todo quando estávamos rodando. Não tem como não se deixar levar pela melodia e, especialmente, pelas letras do Roberto. Ele consegue atingir o coração”, afirma.
Com argumento de Léa Penteado, que trabalhou durante muito tempo com Roberto Carlos, e roteiro de Patrícia Andrade, À beira do caminho é um filme sobre um homem que reaprende a amar e acerca dos laços afetivos que são construídos ao longo do tempo. “Gosto de falar sobre esses laços de amizade, de paternidade e de amor, que são o que sustentam a vida e aos quais, às vezes, a gente nem dá valor. Modéstia à parte, o filme é lindo, porque fala da gente e fala do Brasil”, sintetiza Breno Silveira.
Prêmio
À beira do caminho levou os prêmios de melhor filme segundo os júris oficial e popular, melhor roteiro, melhor ator (João Miguel) e melhor ator coadjuvante (Vinicius Nascimento) no Cine-PE 2012.
Três perguntas para... 
João miguel
ator 
Você é um dos atores que mais tem feito filmes nacionais, mas nunca foi dirigido pelo Breno Silveira. Como foi essa experiência?
Foi muito feliz e gratificante. O Breno trabalha com muito respeito, calma e tem uma coisa parecida comigo. Somos operários, trabalhadores mesmo e apaixonados pelo nosso ofício. Tudo isso ajuda. 
O que mais cativou você neste trabalho?
É um filme de pura emoção, que pega o âmbito da dor e vem lá de dentro. E tudo isso embalado pela trilha do Roberto Carlos. Esse longa mostra o quanto vale a pena ficar aberto ao outro e como um encontro pode mudar o destino das pessoas.
O seu personagem é um caminhoneiro. Você teve muita dificuldade para dirigir o veículo? Segundo o Breno, no começo você foi meio roda dura...
Fui campeão baiano de caminhão (risos). Tive que aprender a dirigir porque passo praticamente o filme todo dentro da boleia. Foi muito bacana e viajamos por lugares fantásticos. Assista ao trailer do filme: