Cinema

Bruno Garcia e Bruna Lombardi estrelam a comédia Onde está a felicidade?

Filme mostra casal que tenta resolver crise percorrendo o caminho de Compostela

Walter Sebastião

 
Teodora (Bruna Lombardi), apresentadora de um programa de TV dedicado a receitas afrodisíacas, vive crise no casamento, inclusive porque mora na Espanha e o marido, Nando (Bruno Garcia), no Brasil. Para superar o problema, o casal decide percorrer o caminho de Santiago de Compostela, antiga estrada de peregrinos. Junto com eles vão a maquiadora Milene (Marta Larralde), que faz o sacrifício na esperança de que Deus dê a ela uma bolsa de dinheiro, e Zeca (Marcello Airoldi), o diretor do programa de Teodora, que, demitido, anda em busca de fórmulas de sucesso. Trama e trupe do filme Onde está a felicidade?, terceiro longa de Carlos Alberto Riccelli, que tem lançamento nacional sexta-feira. Chega carimbado como o melhor filme do Festival de Paulínia deste ano.

“É comédia divertida, colorida, luminosa, com paisagens lindas, sobre tema muito atual: levando vida de muitos quereres, bombardeado por informação, ficamos perdidos e, na busca de solução para os problemas, atiramos para todos os lados”, conta o diretor. “Não sabemos se queremos nos espiritualizar, se colocamos todas as fichas no trabalho e no amor ou se vamos morar no mato. O cômico da situação é que, sem saber nem o que estamos procurando, estamos dispostos a ouvir qualquer pessoa”, acrescenta. A decisão de Teodora de fazer peregrinação pelo Caminho de Santiago ocorre por sugestão da maquiadora. O projeto de Teodora é espiritualizar-se, ficar magérrima e encontrar um amante. 

Carlos Alberto Riccelli diz que o filme é muito engraçado, sobre momento que ninguém sabe o que fazer da própria vida, mas sem ficar zombando de ninguém. “Deixo avaliações para o espectador”, observa. Mas acredita que muitos vão se identificar com Teodora. “Um aspecto maravilhoso da comédia é que você vê nos personagens defeitos e características que, às vezes, são seus. E tem a generosidade de perdoar e perdoar-se, ou refletir e mudar o comportamento”, analisa. “Meu desejo é que as pessoas fiquem satisfeitas com o que viram e pensem sobre o motivo das gargalhadas que deram”, diz.

O diretor avisa que uma surpresa no filme é ver a Bruna Lombardi comediante, seja escrevendo (o roteiro é dela) ou interpretando. “É lado pouco conhecido das atuações dela”, frisa. Novidade é a presença de várias canções de Carlos Alberto Ricelli, às vezes letra e música, ou em parcerias com Zé Godoy e Conrado Góes, em trilha assinada por Nani Garcia. Como Pega ela, na voz de Gilberto Gil; Fora da caixa, com Arnaldo Antunes; e Pluma, com Adriana Calcanhotto. Riccelli já havia composto canções para o filme O signo da cidade. “Mas agora estou menos tímido”, afirma. E revela que até interpreta uma canção em espanhol, Tu ojos.

Na estrada  “Sou absolutamente detalhista, dou espaço para todos os departamentos criarem, pois sei que filme é produto do coletivo, mas tudo que está em cena tem um sim meu. Diretor tem de pensar em tudo”, explica Carlos Alberto Riccelli. Ter sido ator facilita a relação com intérpretes: “Já estive na posição que estão, sei bem da insegurança que ocorre. Você se joga e, às vezes, começa pelo pior. E preciso alguém amoroso que diga ‘não é por aí’. Você se sente sustentado”. 

 Quando fez o primeiro filme, recorda Riccelli, ficou com medo da empreitada. “Foi como quando decidi ser ator. Tudo era muito novo para mim, fiquei assustado”, conta. Ao dirigir O signo da cidade, já tinha confiança: “Você aprende, vai melhorando, ainda que cada filme seja diferente, um novo desafio”. Onde está a felicidade? cobrou capacidade de viabilizar e operar produção ousada. É filme que se passa em dois países (Brasil e Espanha), tem atores brasileiros e espanhóis (“é como fazer dois filmes”), tem cenas de estrada, de estúdio, no Caminho de Santiago, na Espanha, e na Serra da Capivara, sítio histórico do Piauí.

A sedução de alguns atores pela direção, para Riccelli, deve-se ao fato de bons atores, consciente ou inconscientemente, serem bons contadores de histórias. “Isso faz com que um bom ator possa ser bom diretor”, garante. Ter na equipe a mulher e o filho, conta, é ótimo. “Fazemos filmes a que gostaríamos de assistir e isso abre vários caminhos. O que nos move é a vontade de comunicar com o público. Cinema é caro e não vale a pena fazer filmes fechados. Queremos que as pessoas saiam felizes do cinema e refletindo sobre o que viram”, afirma. O projeto da turma, garante Carlos Alberto Riccelli, é produzir audiovisual de olho aberto para as várias mídias.

Carlos Alberto Riccelli é paulista, tem 65 anos, é casado com Bruna Lombardi e pai de Kim Riccelli, que faz assistência de direção de Onde está a felicidade? Já dirigiu S.O.S – Stress, orgasms and salvation (2005) e O signo da cidade (2008). É formado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo (ECA-USP) e pela Universidade da Califórnia em direção e produção de cinema. Tem longa carreira como ator em cinema, teatro e televisão.
 
Entrevista 
 
Nando, o marido de Teodora, interpretado pelo ator Bruno Garcia, é um comentarista esportivo, torcedor fanático do Corinthians, que leva vida pacata entre o trabalho no jornal e a mesa redonda na TV, até que uma aventura pela internet balança sua rotina e seu casamento. O personagem, como conta o ator, foi escrito, por Bruna Lombardi, para ele. “O que me deixa lisonjeado”, conta. 

Como recebeu o personagem Nando?
Foi um presente. Tive de criar a voz, o jeito de andar, já que não Nando não se parece nada comigo. Foi tudo construído pedrinha por pedrinha.

O que gosta no filme?
Da ideia de comédia de erros, dessa estrutura de um mal-entendido levando a outro e outro e outro. A vida é um pouco assim. Pelos enganos chegamos à maneiras mais realistas de ver a vida. Considero ainda que esse se deixar levar pelas situações, sem querer ficar controlando muito as coisas, denota sabedoria. O filme mostra que não há caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho.

Como você avalia o cinema brasileiro? 
Acho que é cinema muito rico em termos de linguagem, vertentes, estilos. Cada diretor tem maneira muito própria de contar uma história, um estilo muito pessoal, específico. O cinema brasileiro é muito autoral, mesmo quando se faz indústria.