Drama de Andrucha Waddington narra a vida do mestre do barroco espanhol
É inevitável que, à primeira vista, o novo longa dirigido pelo brasileiro Andrucha Waddington (numa coprodução com a Espanha), Lope, estabeleça uma linha comparativa rasa com Shakespeare apaixonado. Em comum, está o amplo enfoque no romance, isso além da proximidade de tema, uma vez que ambos são construídos a partir da evolução profissional que cerca dois dramaturgos contemporâneos, William Shakespeare e o denominado “Monstro da Natureza”, Félix Lope de Vega. No século 16, ele promoveu interferência nos parâmetros teatrais, ao arrematar comunhão entre aspectos cômicos e trágicos e estabelecer o assentamento de enredos paralelos numa mesma obra.
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Se ganha com a relativa vivacidade do protagonista, o ator argentino Alberto Ammann, Lope encontra a barreira narrativa de limitado entretenimento. O encantamento dele com o teatro é convincente, mas a falta de interação com a trupe subsidiada pelo empreendedor Jerônimo Velázquez (Juan Diego, ótimo ator de Carlos Saura e Arturo Ripstein) enfraquece o filme carregado de solenidade e que arrebatou sete indicações ao Prêmio Goya, conhecido como o Oscar do cinema espanhol, em quesitos como direção de arte e efeitos especiais. No entanto, só foi premiado com os Goya de melhor canção (para Jorge Drexler) e de melhor figurino.
Sem se nutrir da revolução nos cânones do humor proposta por Lope, o filme, à exceção de breve cena com esgrima, tende a um tom reflexivo, antes detectado em Waddington, com Casa de areia. Outro tópico caro ao diretor, o papel da mulher na sociedade impregna Lope, por meio das figuras da meiga Isabel (papel de Leonor Watling, de Fale com ela) e da impositiva Elena (Pilar López de Ayala, candidata derrotada ao Goya de atriz coadjuvante), que chega a ser taxada pelo protagonista de “galinha presunçosa”.
Valorizado com a vistosa fotografia de Ricardo Della Rosa (de À deriva e O passado), o longa-metragem, de genética confusa e próxima à linha globalizada vista no fraco O amor nos tempos do cólera, traz também méritos. Além da bela carga de palavras no texto, reservadas às lisonjas amorosas, é interessante ver como, numa rígida sociedade, o teatro se estendia ao cenário dos tribunais de justiça —, tudo muito claro, quando vemos Lope incendiando o palco da vida, ao expor verdades e difamações.
Sotaque de casa
Uma década depois do primeiro encontro profissional, na novela A força de um desejo, em que Sônia Braga interpretava a mãe de Selton Mello, ambos voltam a se encontrar no filme assinado por Andrucha Waddington. Na segunda experiência estruturada em produção internacional, seguinte à de Jean Charles, Selton Mello está à frente do marquês de Navas, personagem português com proporções de “playboy”, na opinião do intérprete. Navas contrata os serviços do poeta Lope, a fim de conquistar pretendente, a partir da apropriação do dom do dramaturgo. Com ampla carreira no exterior, Sônia Braga faz uma participação menor como Paquita, a adoentada mãe do protagonista.
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