Quando dois talentos se unem, não dá outra: ou as coisas se azedam de vez ou o resultado é o melhor possível. Isso pode ser dito da parceria entre o diretor Laurent Cantet e o escritor François Bégaudeau, autor do romance, Entre os muros da escola, que chega em breve às livrarias na trilha do filme. Ao adaptar a obra para o cinema, Cantet faturou a cobiçada Palma de Ouro em Cannes, ano passado; o Lumière de melhor filme; e concorre ao César deste ano, além de ter sido indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A Palma de Ouro voltou a ser dada a um filme francês depois de 21 anos. Em 1987, Maurice Pialat recebeu o prêmio por Sob o sol de Satã.
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Logo no início da história, passada num colégio público da periferia de Paris, um grupo de professores se prepara para enfrentar o ano letivo. Problemas da França multiétnica estão diariamente nos jornais. Entre os mestres idealistas está o jovem François, professor de francês. Ele é ninguém menos que o romancista François Bégaudeau, que assume o próprio papel no longa. A escolha da disciplina ministrada pelo professor, o idioma francês, não se dá por acaso: a língua é sinal de pertencimento e de exclusão.
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Muito mais que simplesmente dar aulas, ele pretende fazer com que os alunos participem. Mas a realidade daquela pequena sala é o microcosmos da França contemporânea: rapazes e moças filhos de imigrantes africanos, chineses, antilhanos e arábes – além de franceses pobres, naturalmente. Nessa verdadeira Torre de Babel moderna, começam os problemas, que vão muito além daqueles gerados pela natural rebeldia de adolescentes. Envolvem costumes e diferenças culturais. Entre os muros da escola é mais que uma crônica do ensino na França, é uma metáfora dos impasses de um país.
LIBERALISMO
Laurent Cantet é dono de uma filmografia que sempre pisou fundo na crítica aos valores do liberalismo econômico sem liberdade humana, e na alienação política dos franceses. Nesse sentido, o longa dá continuidade a um projeto estético e ético composto por obras como Recursos humanos, A agenda e Em direção ao Sul. Seguindo tendência expressiva no cinema contemporâneo, Cantet não contou com atores profissionais no elenco. Tanto os alunos como os educadores, a começar por François Bégaudeau, saíram das oficinas de preparação comandadas pelo cineasta.
Sucesso de público, o filme não foi unanimidade na França. O tom documental e a concentração em problemas de relacionamento foi visto por alguns professores como simplificação de uma realidade social muito mais complexa. Cantet tem dito que seu maior modelo é Roberto Rosselini, de Roma– Cidade aberta. Como o diretor italiano, ele gosta da realidade e o conteúdo documental estrutura seus filmes. Mas o fundamental é a emoção, que não pode ser barrada pelas exigências do realismo. Entre os muros da escola é um belo exemplo desse método de fazer cinema.
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Entre os muros da escola é crônica sobre a educação na França
13/03/2009 07:00
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