No carnaval de Belo Horizonte cabe todo mundo. Todas as tribos, todas as cores, todos os ritmos e a liberdade que respeita a liberdade do outro. Cada um com o espaço que lhe cabe. Assim, dos blocos mais ousados e devassos aos que mantêm viva a história cultural da folia até aquele que, sempre que preciso, vai chamar o vizinho. A diversão é garantida, independentemente do cortejo escolhido. Nesta segunda-feira, fizemos uma seleção das mais ecléticas. Prova de que o diferente, em qualquer instância e lugar, é sempre bem-vindo!

Começamos pela irreverência do Corte Devassa. O que não falta para essa turma, do curso de teatro da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), é criatividade e bom humor. Com figurinos dignos de palcos (não os recatados, que fique claro), os integrantes e inúmeros seguidores apostam em modelitos de época, século 19, com direito a peruca e maquiagem que remetem ao Brasil com a chegada da família real portuguesa. As roupas, com design subversivo, homenageiam de Maria Antonieta a Carlota Joaquina estafadas com o calor tropical – saias rasgadas, decote provocantes, cinta-liga e espartilhos à mostra. Tudo sexy, provocante e contestador. Crítica não falta.

Um pulo para os tempos atuais: uma legião de fãs vai acompanhar o Baianas Ozadas, um dos blocos mais tradicionais da festa em BH. O cortejo se destaca pelos ritmos e músicas dos eternos carnavais da Bahia. O figurino também é dos mais caprichados: saias, turbantes e balangandãs no estilo colorido e irreverente dos baianos. Portanto, para quem curte o axé, não tem erro.

A política e o senso crítico nunca ficam fora do carnaval. Com discussões como igualdade de direitos, ocupação de espaços públicos, sustentabilidade e parcerias com coletivos de BH, o bloco Havayanas Usadas faz um convite aos foliões conscientes e contestadores.

Com a Bateria Chinelada, o cortejo deixa claro que todxs são muito bem-vindxs. O repertório, claro, é repleto de hits do axé music dos anos 1980 e 1990. Nesta edição, o tema do bloco é o Nordeste, com destaque porreta para uma mulher histórica: “Maria Bonita Mandou te Chamar”.

Elza Soares

O Leão da Lagoinha tem uma missão: resgatar a tradição cultural, musical, boêmia e arquitetônica de uma região que teve origem como bairro operário, presença dos seresteiros, dançarinos e amantes da noite da capital. Lugar das tradicionais rodas de samba, reduto do baixo meretrício, que ao longo dos anos perdeu espaço, entrou em decadência, casarões foram demolidos e a magia só existe memso na lembrança dos antigos boêmios resistentes.

No entanto, é no carnaval que a voz da Lagoinha ganha força por meio da manifestação popular e cultural de projetos como o do Leão da Lagoinha. Fundado em 1947, é o primeiro bloco de Belo Horizonte. Em 1970, de uma dissidência na diretoria e de alguns membros é que nasceu a famosa e tradicional Banda Mole. Depois de décadas sem se apresentar, o Leão voltou em 2017 e segue firme com seu propósito: levantar e manter viva a região.

Agora, se pintar algum problema, nada como contar com a ajuda do Seu Vizinho (BSV) que, mais do que um bloco de carnaval, é uma escola de artes livre e periférica com foco em música e produção cultural. O BSV é uma iniciativa musical originada dentro do Aglomerado da Serra para promover a arte, a cultura, a cidadania e a alegria para toda vizinhança em BH.

Para fechar, só mesmo com a alegria das Garotas Solteiras. Um grupo de amigos resolveu criar um bloco que representasse a comunidade feminina e LGBTQ+ no carnaval mineiro. Todo ano, o bloco homenageia uma diva pop diferente. Em 2020, é a vez da cantora Elza Soares, com o tema “Deus é mulher”, título do 33º álbum da carreira da artista, lançado em 2018.

Consciência e respeito à diversidade, moldando a ideia de empoderamento feminino e a representatividade LGBTQ . O Garotas Solteiras, vale registrar, tem um hino que fala sobre luta, poder e revolução.

Hino Garotas Solteiras

Garotas Solteiras somos todas nós
Chega mais perto pra ouvir a nossa voz
O nosso canto é luta, poder e diversão
Estamos preparadas pra fazer revolução

Quem foi que disse que a rua não é lugar de brilhar?
A gente ocupa, toma a frente, vem pra escandalizar
A gente chega na batida, vem com amor e respeito
E traz a luta por aquilo que é nosso por direito

E como é que a gente faz?
   
A rua é nosso palco, a gente bota pra ferver
Quando a gente tá junta a gente é quase a Beyoncé
O exército é pesado, coreô é do poder

Vem junto com Garotas, solte a diva em você!
Vem mina, bi e trans, sapatão e afeminada
No Garotas Solteiras “topamo” qualquer parada

 

O CarnaUai

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E para te ajudar nessa preparação, listamos uma programação com centenas de blocos de rua de BH. Confira todos os blocos de cada dia.