Tomara que chova, três dias sem parar...O verso da marchinha eternizada por Emilinha Borba – para quem está chegando agora ao Planeta Carnaval, uma das grandes cantoras brasileiras – deveria ser entoado em coro no fim do reinado de Momo. Talvez nem precisasse de três, mas um bom banho vindo do céu já espantaria bastante o bodum que exala em todas as esquinas de Belo Horizonte na terça-feira gorda. Nos blocos de ontem, vi gente fazendo xixi numa árvore na Rua Paraíba, na região da Savassi; sentado no meio-fio deixando rolar; atrás de banca de revista, com sol quente; e a poucos metros dos banheiros químicos.
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Mas se o carnaval tem “n” problemas, o jeito é ir se adequando ao longo dos tempos, ainda mais para quem, com BH, ressuscitou a folia há 10 anos. Mais vale relaxar e acompanhar os blocos num clima de “amanhã ninguém sabe”. Porque, para resolver as pendências, alguém tem que saber.
E se é para relaxar, ontem voltei aos meus tempos de folião em Salvador, onde a Praça Castro Alves fervia e eu impressionado como cabia tanta gente naquele espaço diante do mar da Bahia. Era passar na quarta-feira de cinzas para ver e não crer. Para conversar com os cantores do Baianeiros, entrei no “coração” do trio, uma experiência que tive na década de 1990 e nunca esqueci. Eram outros tempos e ficou a memória povoada de sons, imagens e muvuca, claro.
Pela escada estreita, onde dois se esbarram, fui chegando ao “palco” e voltando nas décadas. Nos poucos segundos da rua até o topo da alegria, veio uma estranha sensação de luz e sombras, breu e claridade, silêncio e som. Lá do alto do trio, vi a multidão ávida pelo momento de os músicos colocarem o axé para tocar e contagiar o último dia de folia. As pessoas olhavam para a plataforma e gostei de contemplá-las com suas fantasias, desejos, loucuras, anseios e, principalmente, vontade de cair na gandaia até o dia (de hoje) amanhecer.
Foram uns 10 minutos e já voltei para a rua com o carro em movimento muito lento. Lentíssimo, como deveria ser. Pisei o asfalto e voltei a fazer parte da multidão. Foi legal, pois cheguei no momento em que um casal se declarava e o noivo assumia o compromisso de dizer “sim” em novembro. Pela disposição, parece que o casório, depois de seis anos e meio, sai mesmo.
Antes da cena, uma hilária, típica de carnaval. O homem com o quepe de policial estava simplesmente algemado à mulher, fantasiada de anjo negro. Não seria cisne? Não, é anjo, ela me disse sorridente. E ainda encontrei com a reencarnação de Elvis Presley e milhares de casais que se abraçavam, se beijavam e declaravam juras eternas. Amor de carnaval desaparece na fumaça... lembrei de outro verso tão típico de fim de festa. Amanhã, ninguém sabe.