Para começo de conversa, o carnaval de BH já nasceu político. Um dos primeiros focos da folia ocorreu a partir da insistência de grupos pela ocupação da Praça da Estação - que virou “praia da estação, em atitude de protesto contra o então prefeito Márcio Lacerda, lá em 2009/10.
Desde então, a festa popular na capital mineira só ganha mais e mais proporção e fama como um encontro popular, democrático e politizado, e deve encerrar a edição 2019 com público recorde: mais de 4,6 milhões de foliões, segundo expectativas da Belotour.
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Não por acaso, a alegria se mistura com protestos e os blocos se transformam também em palco de reivindicações e anseios, dando voz aos que lutam contra retrocessos como machismo e discriminação, e se revolta com mortes e tragédias ainda sem resposta: o assassinato da vereadora Marielle Franco e o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, foram alvos de homenagem e de protesto em praticamente todos os grandes blocos.
Hoje, ainda há desfiles das escolas de samba na Avenida Afonso Pena, mas a folia começou bem cedo e já com dois blocos gigantescos: o Juventude Bronzeada, no Bairro Floresta, e o Monobloco, que também marca presença no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Casório no trio
No Juventude Bronzeada, bloco que se concetrou a partir das 9h na Avenida Assis Chateaubriand, na Floresta, os foliões testemunharam um casamento de verdade: noivos desde a folia do ano passado, o professor de Educação Física Daniel Torres Pacheco, de 38 anos e a gestora de vendas Isabelle Cristine Costa Fraga, de 34, trocaram alianças no bloco que prega todas as formas de amor e onde se conheceram, no carnaval de 2015.
Na sequência, a organizadora do Juve, Mariana Persi, fez discurso contra os “tempos sombrios”, falou das mortes da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e do jovem negro Pedro Henrique, de 19 anos, pelo segurança do supermercado Extra e sobre episódios de intolerância “que vem crescendo neste último ano”. O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) também recebeu críticas.
Abre alas para elas
Na Pampulha, o vocalista no Monobloco, Pedro Luís, destacou a peculiaridade da folia belo-horizontina. "A diferença é que o carnaval de BH é muito mais politizado. E, este ano, nosso tema é justamente sobre a voz das mulheres", diz ele, ao falar da temática "Abram alas para elas — Homenagem às mulheres da música brasileira".
Nas caixas, clássicos da MPB e homenagem especial a Chiquinha Gonzaga, autora de Ô abre alas, uma das primeiras batalhadoras a se firmar na música popular brasileira, além de hits mais recentes de Anitta (que vive polêmica em relação a encontro com Neymar em camarote da Sapucaí, no Rio), Ludmilla e Iza.
Jazz atrai 15 mil foliões
Bloco já tradicional na cidade por eleger o jazz e desfilar em cortejo com percussionistas e outros músicos nas ruas e bem próximos ao público, o Magnólia deixou a rua de mesmo nome, no Caiçara, para tomar a principal avenida do bairro, a Américo Vespúcio. Isso por que desde que foi fundado, o público do bloco que é formado por 30 instrumentistas (sopro, percussão e uma versão menor de bateria) passou de 300 pessoas para 15 mil.
No sexto ano em que o bloco desfila, os foliões repetiram o feito nos desfiles do Tchanzinho Zona Norte e Então Brilha, entre outros, entoando xingamentos contra o presidente Jair Bolsonaro.
Mix em ritmo de marchinhas e axé
No Bairro Santa Efigênia, o Peixoto trouxe repertório mixado e eclético, de Alceu Valença a Michael Jackson, tudo no ritmo do carnaval. Guto Borges, regente da bateria, participou do movimento do carnaval político de Belo Horizonte.
Já o Baianeiros, na Região da Savassi, fez uma festa metade baiana, metade mineira. Durante o cortejo foi gravado um DVD, que teve a primeira parte filmada no Bairro Castelo, no domingo. Antes de começar o desfile, os organizadores disseram que o objetivo era fazer uma apresentação com tranquilidade, já que no desfile anterior uma pessoa morreu durante a apresentação.
Não acabou!
E mesmo na Quarta-Feira de Cinzas a folia continua na capital. Ao todo, sete blocos desfilam, com destaque para o Majericão, que se concentra para ver o sol nascer, a partir das 4h20, em local ainda não divulgado. Quer saber mais? Confira a cobertura da equipe do Estado de Minas aqui, a partir das 7h, e veja o mapa dos blocos para se programar. Afinal, a folia ainda não acabou!