O Então, Brilha! demonstrou que política e festa combinam tão bem como o rosa e o dourado se complementam na Estrela da Manhã, bloco que levou cerca de 400 mil foliões às ruas de Belo Horizonte. Um dos mais famosos da capital, o bloco passou, na manhã deste sábado (2), pelo Centro da capital, saindo da esquina da Rua Curitiba com Avenida do Contorno. A alegria dos foliões se misturou com manifestações políticas e homenagens às vítimas da tragédia da Vale em Brumadinho.
O desfile começou por volta das 7h, quando o regente Di Souza saudou todas as periferias de Belo Horizonte! O vocalista Rubens Aredes lembrou que o Brilha é o bloco da diversidade: brancos, negros, homens, mulheres e LGBTs. A fumaça com as cores do bloco, rosa e dourado, deu sinal para a festa começar. E todos cantaram o hino da "Estrela da manhã": Um raio de luz/ Se abriu no clarão/ Estrela da manhã / Me dê a mão. Momento em que muitas pessoas se emocionaram, como é o caso da pedagoga Priscila Nogueira Bahiense, de 33 anos, que integra a bateria, que este ano veio com fantasias em branco e prata.
O público do Então, Brilha! se manifestou contra o presidente Jair Bolsonaro! Também foi lembrada a vereadora Marielle Franco, que foi assassinado no rua. Em coro o público disse: "Marielle presente". Integrantes da ala de dança Requebra, a servidora Ivana dos Santos, de 35 anos, e a bióloga Daniela Coelho, de 35, foram algumas das foliãs que homenagearam a vereadora assassinada em 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro. "Até hoje o assassinato não tem resposta. O carnaval de BH nasceu político. Mesmo com muito glitter a festa ainda é político", afirma Daniela.
Além dos vocalistas Rubens Aredes e Michelle Andreazzi, o Brilha recebeu convidados para cantar: Bloco Seu Vizinho, Kdu dos Anjos e Sérgio Pererê. Babi, vocalista do Seu Vizinho, emocionou o público ao cantar "Sarará crioulo". Ele canta exatamente no momento que o bloco passa pela bandeirão com os dizeres "Gente é pra brilhar", na passarelas da Rua São Paulo. E a multidão canta junto. Neste momento, sobe ao trio Estrela da Manhã o bloco Seu Vizinho, do Aglomerado da Serra. A parceria do Brilha também é com o Lá da Favelinha, cujos artistas participam da ala de dança e bateria. "Não chegue na favela levando verdades. As favelas têm muita coisa boa", afirmou Babi. O bloco desfila na segunda, confira no Mapa dos Blocos.
Kdu dos Anjos, do Lá da Favelinha cantou pela primeira vez no Então Brilha! No repertório, hits do funk, como Parado no bailão, do MC L da Vinte. A apresentação é resultado de parceria de seis meses com o Lá da Favelinha e o Brilha no Aglomerado da Serra. Os integrantes do Lá da Favelinha estão na bateria e também na ala de dança.
Um momento histórico e emocionante marcou o cortejo. O Brilha fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do rompimento de barragem da Vale em Brumadinho. Durante o minuto de silêncio, a bateria do bloco se calou e o som dos tambores foi substituído pelo das sirenes, em alusão ao rompimento da barragem. Até o momento, 186 pessoas morreram e 122 estão desaparecidos na tragédia.
Uma faixa estendida no trio elétrico dizia: “Todo mundo sabe, não foi acidente, a Vale mata peixe, mata rio, mata gente”. O presidente da República, Jair Bolsonaro, também foi alvo de manifestações. Durante o cortejo, parte da multidão gritava “Ê, Bolsonaro, vai tomar no c*”. Nessa sexta-feira, as manifestações políticas foram reprimidas por um capitão da PM no bloco Tchanzinho Zona Norte, na Região da Pampulha.
#CarnavalBH Durante o desfile do Então , Brilha! multidão protestou contra Jair Bolsonaro, com xingamentos contra o presidente: pic.twitter.com/yWG3cZAz2t
Os foliões também não se esqueceram da tragédia do rompimento da barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão. Helena Lima e Marcelo Souza, do Projeto Mar de Lama Nunca Mais levaram o protesto para o Brilha. O ritmista Arthur do Amaral Laurino incluiu o protesto na fantasia.
Em outra momento, a vocalista do bloco Michele Andreazzi lembrou que as cores não têm gênero: “homens de rosa e mulheres de azul. Cabem todas as cores”. A fala é uma reação à declaração da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, sobre menino vestir azul e menina vestir rosa. “É uma nova era no Brasil, menino veste azul e menina veste rosa”, gritou após tomar posse.
#CarnavalBH Momento de muita emoção no desfile do Então, Brilha! Com minuto de silêncio e sirenes, bloco homenageou vítimas da tragédia de Brumadinho. "Não vamos nos esquecer", disse o regente. Imagens: Fred Bottrel / EM pic.twitter.com/ZnGl3Rh0Ax
Por pouco, o Então, Brilha! não desfilou. O trio elétrico do bloco teve o freio cortado. De acordo com o regente Di Souza, ainda não se sabe quem foi o responsável. Mas os integrantes conseguiram consertar o trio e arrastou a multidão em direção à Praça da Estação.
Histórico
Um dos blocos mais conhecidos, esperados e brilhantes de Belo Horizonte, o Então, Brilha, surgiu em 2010 como uma ala de amigos em blocos do carnaval do Rio de Janeiro. No ano seguinte, essas pessoas se organizaram para desfilar na capital mineira, onde a folia com blocos de rua voltava a ganhar força.
O nome do bloco faz um brincadeira com a estrela do jogo eletrônico Super Mário Bros e é, ao mesmo tempo, uma referência a um poema do poeta russo Vladimir Maiakovski chamado "gente é pra brilhar". O título do poema é, inclusive, citado em uma das estrofes do hino do bloco.
O ponto de partida do Então, Brilha é tradicionalmente a entrada do Hotel Brilhante, na Rua Guaicurus. A escolha pelo local como concentração é um desdobramento do discurso dos integrantes do bloco em favor da diversidade e da inclusão.