Desenhista, cenógrafo, figurinista, gravurista, pintor e nome importante da arte pop brasileira, Décio Noviello, de 88 anos, fez história no carnaval de Belo Horizonte. Mas não o chamem para ver os blocos que prometem arrastar multidões pelas ruas da cidade a partir de amanhã.
Em 1979, o artista plástico já atendia a convites da prefeitura para decorar a Afonso Pena, onde as escolas desfilavam. Em 1983, houve um concurso para eleger a ornamentação mais bonita. Décio levou o prêmio com o tema Transamazônica – crítica ao “asfalto puro” da avenida, segundo ele, ainda menos arborizada do que atualmente.
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Não demorou para as escolas convocarem Décio. “Um belo dia, uma pessoa da Cidade Jardim me procurou. Falei: ‘Olha, posso fazer o carnaval de vocês, mas só se todo mundo seguir o que eu mandar e vestir o que eu quiser. Se não for assim, não aceito”, relembra. Condições aceitas.
Com 600 metros quadrados, a casa de Décio Noviello, no Gutierrez, ainda guarda o brilho de purpurina e ares de barracão. O início de tudo foi lá, no ateliê recheado de moldes de resina e aquarelas – intactos, mesmo depois de guardados por 40 anos.
A estreia do Décio carnavalesco se deu no improviso. “Fiz umas roupas silkadas bem aqui, onde está esta mesa.
SÃO PAULO Noviello relembra os tempos em que cortejos das escolas de samba eram o ponto alto do carnaval de BH. Diferentemente de hoje, ninguém queria saber de bloquinho.
Quando Noviello estreou como carnavalesco, faltava matéria-prima. “Não tinha nem cetim em Belo Horizonte. Quer dizer, até tinha, mas era assim: a gente precisava de 100 metros, eles tinham só 10 para vender.
Com bom humor, o carnavalesco relata que as escolas chegavam a “negociá-lo”. “Elas me vendiam mesmo, como hoje acontece com jogador de futebol. Só que eu mesmo não levava nada!”, conta ele, aos risos. “Naquela época, éramos só dois artistas envolvidos com o carnaval de BH: eu e o Raul Belém, do Palácio das Artes”, informa, referindo-se ao cenógrafo, figurinista e arquiteto que morreu em 2012, aos 70 anos. “Teve um ano em que fui ‘vendido’ para a Canto da Alvorada. Mas eu era muito amigo do pessoal da Cidade Jardim e não queria deixá-los na mão. Então, chamei o Raul para cuidar da escola. Você acredita que naquele ano a escola dele ganhou da minha?”
“RIDÍCULO” Noviello é um carnavalesco que não gosta de brincar carnaval. “Eu, sambar? Me sinto ridículo”, explica. Em 2010, ele virou enredo da Escola de Samba Império da Nova Era.
Com a promessa de arrastar 3,6 milhões de foliões pelas ruas este ano, o carnaval de BH não interessa mais a Noviello. “Esse negócio de bloquinho é uma chatice, né? Não tem graça nenhuma. Deus me livre. Podem ir lá, mas não me chamem nem pra ver na televisão”, brinca.
>> Décio Noviello, carnavalesco