Quem diria! Belo Horizonte está ditando a moda do carnaval pelo Brasil. Desde que a folia ressurgiu na cidade, designers de roupas e acessórios começaram a criar itens carnavalescos, sempre com muito brilho. E não são apenas os mineiros que se interessam pelas criações. Foliões de várias partes do país buscam inspiração em BH para montar as mais diversas fantasias. Conheça a história de marcas que apostam como nunca no carnaval da cidade.
A designer Ana Maria Paiva acompanhou com entusiasmo o ressurgimento do carnaval de BH. Acostumada, desde criança, a fazer fantasias em casa, ela começou a produzir adereços de cabeça para tocar em blocos de rua e logo enxergou uma oportunidade de diversificar o seu trabalho. Todo ano, a sua marca, Benedita Acessórios, lança uma coleção para o carnaval.
Em clima de anos 1980, Ana veste os foliões com chapéus que lembram o estilo das Paquitas ou o uniforme dos marinheiros. Um dos modelos, dourado, ganha muito brilho com pedraria, lantejoulas, paetês e correntes. “Fiz também uma versão bem fofa, branca e com pompons em candy colours, como rosa, lilás, azul e laranja”, acrescenta. O perfume retrô também está nas ombreiras, uma de fitas metalizadas, outra com penas e a terceira com bandejas cortadas, que mais parece uma armadura. Com velcro, elas podem ser aplicadas em bodys, tops, camisetas ou mesmo na pele.
A designer identificou outra tendência para os acessórios de carnaval: os elementos espaciais. Por isso, aposta em um arco que representa a galáxia, com planetas, estrelas e a lua. Em outro adorno de cabeça, o Sol e seus raios reinam absolutos. Partindo para uma proposta mais divertida, a marca criou um enfeite com cataventos coloridos, que se movimentam de acordo com a brisa. Apesar da diversidade de cores, os acessórios dourados ainda são os mais pedidos, já que combinam com todas as fantasias.
Um dos lemas da Benedita é levar materiais inusitados para os acessórios de carnaval. “É interessante dar novo significado aos materiais para entregar um produto diferente a cada ano, ainda mais agora. Como surgiram muitas marcas, se não for inovadora não tenho espaço no mercado”, observa. Entre as novidades está o festão, muito usado em decoração de Natal. Por ser leve, estruturado e brilhante, tem tudo a ver com a folia. A palha de milho aparece em coroa com flores feitas por um grupo de artesãos de Diamantina e também em um arranjo no estilo moicano, todo pintado de vermelho (ambos fizeram parte do desfile de abertura da última edição do Minas Trend).
Para quem não curte looks elaborados, a marca tem como opção os brincos. “Muita gente não quer usar fantasia de carnaval e prefere colocar um enfeite, como os brincos. Os nossos são bem exagerados, mas leves”, explica. Há modelos em vários formatos, entre eles pirâmide, pendentes de paetês, argolas feitas com crochê de festão, estrelas, saturno e esqueleto. Outra peça versátil é uma tira brilhante que pode ser usada de maneiras diferentes: como choker, headband, pulseira ou cinta-liga.
A Benedita tem recebido pedidos de várias partes do país, principalmente de cidades com tradição carnavalesca, como Recife e Salvador. Prevendo uma procura grande dos belo-horizontinos por adereços – o que se confirmou, Ana se juntou a outras três marcas para abrir um ponto de venda temporário. São elas: Viva Bossa, de roupa; A Glitterista, de maquiagem, e D’Oya Agbe, de xequerê, instrumento de percussão muito usado na festa. A loja ainda recebe produtos de marcas convidadas e de blocos de rua.
Se depender de A Glitterista, o carnaval de BH será de muito brilho. A marca trouxe da Inglaterra mais de 100 quilos de glitter em cores e formatos que até então não existiam na cidade. “O glitter é tendência para roupas, acessórios de cabeça e ainda vem como um upgrade para as maquiagens carnavalescas”, resume Paula Silva, que ultrapassa o trabalho de maquiadora e se posiciona como glitter designer, ou seja, ela ensina a melhor forma de usar o material brilhante.
HOLOGRÁFICO Não pense que glitter se resume a um pozinho dourado. Paula descobriu em sua pesquisa uma infinidade de formas, como hexágono, losango, estrela, coração e flor. Também não há limite para cores (são 24 no total), já que é possível fazer todo tipo de mistura. Os foliões ainda podem escolher entre glitter holográfico ou translúcido. “Cada um gera um efeito diferente. Fizemos vários testes e descobrimos que o holográfico fica melhor para a noite, porque realça mais na luz artificial, e o translúcido é mais indicado para o dia”, informa. O mais requisitado – prata holográfico em forma de estrela – deve acabar bem antes de o carnaval chegar.
É bom ser criativo na hora de aplicar o glitter. Paula sugere fazer desenhos no rosto, seja na testa, em volta dos olhos, na bochecha ou na região da olheira. O material brilhante também pode ser usado nas pálpebras para substituir as sombras, tem o poder de iluminar partes do corpo ou até se transformar em um top carnavalesco. Até no cabelo ele pode ser aplicado. Lembre-se apenas de usar fixador, já que o glitter não gruda facilmente na pele. “Testamos desde vaselina a gloss labial, mas nessa pesquisa em Londres descobrimos um produto de maquiagem artística, tanto para o corpo quanto para o cabelo, que tem fixação maior”, conta. O líquido é vendido fracionado.
A Glitterista vende também outros itens de maquiagem, como sombras coloridas, cílios postiços (para variar, o holográfico é o que mais faz sucesso) e esmalte de glitter. Pensando em potencializar o efeito do brilho, a marca ainda desenvolveu um acessório de cabeça aramado com fita de LED. “É uma peça que vem das passistas do carnaval do Rio de Janeiro. Se você sai fantasiada à noite e vai para um lugar que não tem tanta luz, o seu acessório ajuda a destacar a maquiagem”, explica.
Do glamouroso ao esportivo
Pelo segundo ano, a Dercy leva para as ruas um carnaval vintage e glamouroso. A marca carnavalesca investe em peças que podem ser usadas até em noite de festa. Paetê é um dos materiais que mais aparecem. Tem body com bordados em formato de raios, mangas e ombreira que, além das fantasias, combina com saia ou mesmo calça jeans. Outro modelo versátil é o de lurex com broche de arara. “Lançamos também uma capa de paetê que vira item de festa. Em dias frios, dá para colocar por cima de um vestido mais básico e complementa o look de uma forma bem diferente”, exemplifica a estilista Alice Corrêa. As cores que predominam são preto, prata e dourado.
Com uma pegada esportiva, parte da coleção traz o lado mais confortável da moda de rua, além de uma mistura intensa de cores. A marca trabalhou nessa linha com uma modelagem sem gênero para vestir mulheres e homens, que no ano passado reivindicaram peças para curtir a folia. Entre as opções, uma regata ampla que pode ser usada solta, com pochete ou cinto (para marcar a silhueta) ou até amarrada na cintura. Há também shorts de corrida metalizados. “Oferecemos também uma camisa que funciona como quimono, ou saída de praia, e temos um colete mais comprido com capuz, bem esportivo, que depois do carnaval pode ser usado na academia”, detalha a estilista.
Para complementar a fantasia, uma meia arrastão com pontos de brilho e um modelo soquete com enfeites de lantejoulas, strass e arco-íris. A marca ainda desenvolveu acessórios para a cabeça, com plumas, penas e flores, brincos e pochetes, todas metalizadas.
Na coleção de alto-verão de O Jambu, algumas peças se destacam por ser a cara do carnaval. Entre elas, a bolsa colar, que tem esse nome porque pode ser usada pendurada no pescoço, deixando os braços livres. “A ideia é que seja uma peça bem prática e que fique próxima ao corpo. Assim, a pessoa fica mais livre. Falo que o modelo é específico para quem quer dançar e se divertir”, comenta a designer Carol Maquí. De tamanho reduzido, tem espaço suficiente para carregar celular, documentos, cartões e dinheiro, e vem com um espelho na frente, que pode ser retirado na hora de retocar a maquiagem. Ainda é possível usar a bolsa colar atravessada no colo ou como pochete.
A designer também desenvolveu uma mochila que funciona como porta-garrafa térmica. “Você pode usar para manter a bebida gelada durante o carnaval e depois pode levar para a academia ou em uma caminhada pela cidade”, observa. As famosas pochete chegam à folia ainda mais divertidas. Todas são monocromáticas, mas nada básicas. Isso porque aparecem em cores néon (verde, laranja e rosa) e seguem a tendência da logomania, que é estampar o nome da marca de maneira evidente no produto. Nesse caso, o que se destaca é a frase “O Jambu + treme”, em referência a uma música da cantora do Pará dona Onete (lembrando que a marca é uma mistura de mineira com paraense). Os dizeres se repetem em toda a alça.
Para que os foliões se sintam seguros na rua, O Jambu investe em compartimentos secretos. Por isso, a bolsa colar tem bolso camuflado atrás do espelho. Já a bolsa térmica e a pochete contam com um compartimento na parte de trás, que fica o tempo todo colada ao corpo. Os fechos de plástico, característicos dos produtos da marca, funcionam mais como enfeite.