Na retomada do carnaval de Belo Horizonte, o cardápio de ritmos contempla diversos gostos, mas mantém a sintonia na música brasileira, com exceção – entre os blocos já considerados mainstreans – do Alcova Libertina, que carnavaliza hits de Beatles e Rolling Stones e outros pesos pesados do rock internacional e nacional. A festa começou para valer na quarta-feira com a brasilidade das canções de Tim Maia e Jorge Ben do repertório rico em metais e bateria do Chama o Síndico. Seguiu com os sambas do Moreré, na quinta-feira, e passou embaixo da cordinha com o axé de raiz do Tchanzinho Zona Norte, na sexta-feira. Sem perder o rebolado e o ritmo baiano, o Então, Brilha! encantou a manhã de sábado. O domingo amanheceu azul com os afoxés e mantras do Pena de Pavão de Krishna (PPK) e terminou com a catarse do rock com confete da Alcova. Ontem, foi a vez de o Baianas Ozadas retomar o axé e com uma poderosa bateria sacudir uma multidão. No caldeirão de ritmos tem espaço até para o maracatu e o congo do bloco Unidos do Barro Preto, que ganhou as ruas do bairro na tarde de ontem.
saiba mais
Último dia de carnaval terá encontro de blocos em Belo Horizonte
Estado de Minas vive a energia do Baianas Ozadas no meio da bateria
-
Baianas Ozadas levam alegria e mais de 100 mil pessoas para as ruas de BH; veja o vídeo
Foliões fantasiados quebram rotina da capital que se encanta com sua face carnavalesca
Dessa amálgama de ritmos e influências nasceram as canções que simbolizam a festa da capital. Além do hino do Então, Brilha!, outros blocos têm músicas marcantes que os foliões sabem de cor e cantam juntos ao som da bateria. O Pena de Pavão de Krishna seguiu pelas ruas da Lagoinha entoando clássicos com pegada espiritual de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Clara Nunes e outros bambas. Mas mesmo com a concorrência de alta patente, a música Aflorou, de autoria de Gustavito, é um dos sucessos do PPK. “O bloco promove uma expansão da consciência, que tem muita relação com a criatividade. Vou lançar um disco neste ano e as músicas que criamos para o bloco estarão nele”, contou o músico.
Pouco antes do começo do carnaval foi lançado o LP duplo Deita no cimento, projeto realizado via Lei Estadual de Incentivo à Cultura com curadoria de Luiz Valente, criador da Vinyl Land, e Guto Borges, historiador, músico e um dos mais ativos participantes dos blocos da capital. Além das marchinhas que venceram concursos, como o Baile do pó Royal e Imagina na Copa, o disco tem também os hinos do Então, Brilha! e do PPK, sendo 18 músicas criadas entre 2009 e o ano passado, o período mágico do renascimento do carnaval de BH.
COLETIVO
Entre as músicas está aquela que, talvez, seja o hino mais conhecido, a Marchinha da Alcova, famosa pelo delicioso e anárquico refrão: “Chuta, chuta, chuta/Chuta a família mineira”. O produtor executivo do bloco, André Leal, explica que o sucesso vem desde a origem, em 2010, quando foi criado um ateliê para artistas de diversas áreas, incluindo músicos, no Bairro Santa Tereza. O coletivo gestou o bloco Alcova, que se apresentou pelo quarto ano na noite de domingo. “Os blocos começaram a ter vida. Fazemos apresentações fora do carnaval e conseguimos arrecadar o dinheiro para apresentar durante a festa de maneira independente”, detalha André.
O Alcova destoa um pouco da pegada brasileira dos outros blocos do mainstrean do carnaval de BH. O repertório tem muito rock, com clássicos e sucessos recentes repaginados pelo suingue da banda, mas não abandona a origem, pois contempla sucessos da Tropicália e Mutantes. Entre os integrantes do bloco estão músicos profissionais, com carreiras paralelas em outras bandas e discos gravados, como Thiakov e Paim, da banda Ram.
EXPERIÊNCIA
Além do Então, Brilha!, outros blocos privilegiam os ritmos da Bahia. O Tchanzinho Zona Norte, que saiu na sexta-feira no Bairro Dona Clara, tem um repertório dominado pelos sucessos do É o Tchan. O regente do bloco é o músico Rodrigo Picolé, que além da bateria animada conta com o teclado do músico Artênius Daniel, uma das estrelas da Orquestra Mineira de Brega. Já o Baianas Ozadas, que se consolidou como o maior bloco de Belo Horizonte, teve um repertório homenageando os 40 anos dos blocos afro de Salvador, em especial o Ilê Aiyê.
Entre as centenas de blocos que já pipocam pelas ruas da cidade há espaço para inovações. Marcos Nascimento, um dos músicos do Unidos do Barro Preto, detalha a receita do caldeirão do bloco: “Um pouco de resgate do “axé roots” com um pouco do maracatu, uma onda de funk e um pouco de mangue beat e Nação Zumbi”. Para Pedro Martins, colega de Marcos na bateria, as misturas estão criando uma identidade do som do carnaval da capital mineira com elementos próprios. “O congo é um ritmo mineiro que conhecemos e mandamos no bloco”, conta Pedro. “No final, a coisa groova e surge um som diferente”, acredita Marcos. (Colaborou Renan Damasceno)